Representante firme e claro do cinema independente que
possui sua base em um roteiro curto, polido e forte para retratar e destrinchar
a organização e as relações familiares envolvendo seus protagonistas em uma
teia de dramas, descobertas e revelações, sejam em caráter pessoal ou no âmbito
geral do cenário.
Dirigido e roteirizado por Noah Baumbach, A Lula e a Baleia
retrata os dias pré e pós separação de um casal formado por um escritor em
crise e uma nova escritora que começa a fazer sucesso. Envolvidos neste meio
estão os dois filhos do casal, onde um começa a descobrir namoros e problemas e
o outro começa a descobrir seu próprio corpo e sua sexualização.
Após a separação dos
pais é que o filme começa a ganhar o corpo e seus contornos mais claros. A
dúvida, o sucesso, o fracasso e principalmente sensações de ter podido fazer
algo mais, ajudado mais ou menos e coisas assim começam a atormentar a vida
destes quatro membros da família, ao mesmo tempo em que tentam seguir suas
vidas. O roteiro de Baumbach acerta a mão, ao conseguir dosar muito bem os
momentos dramáticos, com alguns momentos de humor ácido sem perder em nenhum
momento o respeito pelo material ou pelo espectador. Cenas mais duras ou até
mesmo mais incisivas conseguem sem manter sem qualquer elemento apelativo e não
se mostra distante do escopo geral ou mesmo uma manobra de resolução fácil.
Além disso, o roteiro faz várias alusões a clássicos da literatura, inclusive
utilizando-os como exemplo e colocando-os como norte para as decisões dos
personagens em alguns momentos, sejam elas diretas ou apenas indiretas, em uma
mensagem muito mais do roteiro em si do que de algum personagem. Entre os
vários dramas que assolam os personagens, destaque para as enganações que o
personagem Walt (o filho mais velho interpretado por Jesse Eisenberg) se impõe,
seja com um infeliz namoro, um pseudo intelectualismo ou usurpar composições
(no caso Hey You do Pink Floyd).
Este tipo de filme exige um elenco afiado e que compre além
da ideia central, a ideia individual de seus personagens, com suas
idiossincrasias e moralismos, e nesse ponto a coisa consegue funcionar
novamente com algumas ressalvas. Jeff Daniels e Laura Linney como o casal
central mostram a falta de química necessária para o espectador aceitar a
separação, porém se tornam muito chatos quando resolvem atuar sozinhos, se é
algo proposital de Baumbach deu certo, caso contrário... Jesse Eisenberg firma
muito bem seu personagem, porém a cada dia que passa me parece que ele só
consegue interpretar este tipo de personagem. Owen Kline se situa muito bem
como o filho mais novo, e mesmo tendo cenas complicadas a fazer, se mostra
desinibido e bem coerente em sua atuação. Anna Paquin está ótima como a aluna
do personagem de Daniels que se torna sua namorada, contudo não supera o ótimo
William Baldwin no auge da caricatura para construir o professor de tênis que
se torna namorado da personagem de Linney.
É um filme interessante, bem construído e que apenas esbarra em alguns momentos na sua própria falta de ambição. É inevitável a sensação de que Baumbach poderia ter explorado melhor os simbolismos do filme, assim como suas relações, mas não vamos prejudicar tudo por causa de um detalhe como este também.
(The Squid and The Whale de Noah Baumbach, EUA- 2005)
NOTA: 7,5