Baseado nos julgamentos reais de colaboradores do nazismo
ocorridos em Nuremberg na Alemanha poucos anos após o término da Segundo Guerra
Mundial em 1945, este drama de tribunal do grande Stanley Kramer consegue com
grandes méritos, não apenas reproduzir o clima dos tribunais de guerra, mas vai
além e desenvolve válidos debates acerca de temas como a autonomia da nação
sobre a lei, a soberania da mesma, a própria lei em si, além de adentrar em
elementos complexos e que perpassam a humanidade até hoje; afinal apenas a
Alemanha e seu povo são responsáveis por Hitler? Quanto o povo alemão sabia
sobre as atrocidades praticadas pelo partido nacional-socialismo e o quanto
devemos culpá-los de forma geral?
O roteiro do filme acerta em apenas apresentar as hipóteses
acima colocadas, fazendo no máximo conjecturas acerca das mesmas nas figuras do
advogado de defesa e da promotoria, contudo, nunca se verifica um como mais
correto do que o outro, perpetrando com que tais questões apenas continuem
pululando na mente das pessoas, levando-as às suas próprias decisões sobre o
complexo e polêmico tema. Mesmo a decisão final em torno dos réus, não implica
em uma tomada de posição, pois o roteiro e Kramer fazem questão de deixar bem
claro que estamos diante de um julgamento de casuística e não de generalidade
do nazismo na Alemanha.
Prato cheio para os estudantes de direito (os interessados e
não essa patifaria que assombra os estudantes de direito atuais em sua
maioria), os debates ocorridos ao longo dos quase 180 minutos de duração da
fita são soberbos e cheios de passagens clássicas, além disso, Kramer é
extremamente feliz no tempo dos diálogos e no modo como intercala momentos mais
leves, de cafés e bebidas com os pesados momentos de debate e de oratória
proveniente dos julgamentos.
Contudo a terceira haste do clássico tripé
direção-roteiro-atuação também funciona muito bem, algo essencial em um filme
fechado, que não possui nenhum outro elemento de impacto além do modo como o
elenco assume as passagens e os insere em suas interpretações. Burt Lancaster
incorpora de forma impressionante a culpa e tristeza do magistrado réu Ernst
Janning. Judy Garland e Montgomery Clift e Judy Garland colaboram com o status de coadjuvantes de luxo.
Maximilian Schell rouba a cena e enche a tela de emoção em seus discursos
imponentes na defesa dos réus nazistas enquanto Spencer Tracy mostra novamente
a união fina entre força e carisma em uma atuação que exige um tipo especial de
talento que somente os grandes atores como Tracy possuem. Por mais que eu ainda
prefira sua atuação em O Vento Será Tua Herança, colaboração anterior de Tracy
com o diretor Kramer é impossível negar a grandeza da atuação do veterano ator.
Um grande filme e que consegue ecoar sua grandeza por vários
âmbitos da especulação e do conhecimento, seja ele cinematográfico, histórico,
ético ou do direito, isto para nos mantermos apenas nos mais explícitos. Muito
mais que um filme de tribunal, a obra de Kramer é um clássico, exatamente por
ter conseguido, sem se tornar ideológico ou partidário, elencar quase que de
forma geral as complexidades de um processo histórico como o de Nuremberg. Nas
mãos de alguém descuidado, um filme como este poderia se tornar um grande
desastre; felizmente o homem da câmera era Kramer e este perigo não chegou nem
a rondar os sets de filmagem.
(Judgement at Nuremberg de Stanley Kramer, EUA - 1961)
NOTA: 8,5
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