ENCONTRE AQUI

segunda-feira, 4 de junho de 2012

JULGAMENTO EM NUREMBERG



Baseado nos julgamentos reais de colaboradores do nazismo ocorridos em Nuremberg na Alemanha poucos anos após o término da Segundo Guerra Mundial em 1945, este drama de tribunal do grande Stanley Kramer consegue com grandes méritos, não apenas reproduzir o clima dos tribunais de guerra, mas vai além e desenvolve válidos debates acerca de temas como a autonomia da nação sobre a lei, a soberania da mesma, a própria lei em si, além de adentrar em elementos complexos e que perpassam a humanidade até hoje; afinal apenas a Alemanha e seu povo são responsáveis por Hitler? Quanto o povo alemão sabia sobre as atrocidades praticadas pelo partido nacional-socialismo e o quanto devemos culpá-los de forma geral?

O roteiro do filme acerta em apenas apresentar as hipóteses acima colocadas, fazendo no máximo conjecturas acerca das mesmas nas figuras do advogado de defesa e da promotoria, contudo, nunca se verifica um como mais correto do que o outro, perpetrando com que tais questões apenas continuem pululando na mente das pessoas, levando-as às suas próprias decisões sobre o complexo e polêmico tema. Mesmo a decisão final em torno dos réus, não implica em uma tomada de posição, pois o roteiro e Kramer fazem questão de deixar bem claro que estamos diante de um julgamento de casuística e não de generalidade do nazismo na Alemanha.

Prato cheio para os estudantes de direito (os interessados e não essa patifaria que assombra os estudantes de direito atuais em sua maioria), os debates ocorridos ao longo dos quase 180 minutos de duração da fita são soberbos e cheios de passagens clássicas, além disso, Kramer é extremamente feliz no tempo dos diálogos e no modo como intercala momentos mais leves, de cafés e bebidas com os pesados momentos de debate e de oratória proveniente dos julgamentos.

Contudo a terceira haste do clássico tripé direção-roteiro-atuação também funciona muito bem, algo essencial em um filme fechado, que não possui nenhum outro elemento de impacto além do modo como o elenco assume as passagens e os insere em suas interpretações. Burt Lancaster incorpora de forma impressionante a culpa e tristeza do magistrado réu Ernst Janning. Judy Garland e Montgomery Clift e Judy Garland colaboram com o status de coadjuvantes de luxo. Maximilian Schell rouba a cena e enche a tela de emoção em seus discursos imponentes na defesa dos réus nazistas enquanto Spencer Tracy mostra novamente a união fina entre força e carisma em uma atuação que exige um tipo especial de talento que somente os grandes atores como Tracy possuem. Por mais que eu ainda prefira sua atuação em O Vento Será Tua Herança, colaboração anterior de Tracy com o diretor Kramer é impossível negar a grandeza da atuação do veterano ator.

Um grande filme e que consegue ecoar sua grandeza por vários âmbitos da especulação e do conhecimento, seja ele cinematográfico, histórico, ético ou do direito, isto para nos mantermos apenas nos mais explícitos. Muito mais que um filme de tribunal, a obra de Kramer é um clássico, exatamente por ter conseguido, sem se tornar ideológico ou partidário, elencar quase que de forma geral as complexidades de um processo histórico como o de Nuremberg. Nas mãos de alguém descuidado, um filme como este poderia se tornar um grande desastre; felizmente o homem da câmera era Kramer e este perigo não chegou nem a rondar os sets de filmagem.


(Judgement at Nuremberg de Stanley Kramer, EUA - 1961)



NOTA: 8,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário