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segunda-feira, 16 de maio de 2011

ESQUIZOFRENIA - ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO




A doença de caráter psicológico dispensa apresentações, ainda mais depois do sucesso do filme Uma Mente Brilhante, que trabalha tão bem com o tema. Sendo assim, não ficarei aqui realizando uma mini explicação do caráter do palavrão do título deste pseudo-suspense com toques de drama ora familiar ora individual. O filme é a busca de um pai por sua filha desaparecida, sendo que esta sumiu após pouco tempo de distração deste pai. De tal modo que, Esquizofrenia é toda a “caçada” de um pai extremamente desesperado atrás desta filha desaparecida.

O filme tem toques de psicodelismo, e em alguns momentos parece até apelar para um lado um pouco mais cruel da existência humano, mostrando períodos de decadência do pai, que beiram muito mais a própria depressão louca do que a esquizofrenia, o que me leva a levantar o problema mais sério que este filme possui que é exatamente a idéia central: afinal o quanto tudo o que acontece com o personagem William Kane (o pai) é fruto de sua esquizofrenia e o quanto é fruto apenas de uma busca louca por um ente perdido? Só que aí é que está: este problema não é criado pelo filme em si, mas pelo “esperto” que resolveu nomear por Esquizofrenia – Entre o real e o imaginário, um filme que tem como título original apenas o sobrenome do personagem central, ou seja, Kane.

Meu ponto é o seguinte: Um filme com o título de Esquizofrenia já leva o espectador a analisar o filme pelo puro aspecto da doença, ignorando o que pode ser apenas uma ação comum do personagem, justificando tudo pela doença, algo que para mim, não se sustenta, haja vista, que assim que o personagem Kane vai se acalmando do momento inicial da perda, seu comportamento não tem nada de esquizofrênico, ao contrário, ele se torna extremamente solícito, calmo e pensante. Se o título do filme fosse Kane, com certeza o espectador se envolveria muito mais com o filme por tentar entender até onde vai à esquizofrenia do personagem e até onde o negócio é puramente humano mesmo. Eu já tinha visto títulos em português ridículos, agora um que interferisse tanto na interpretação e envolvimento com o filme em si por parte do espectador, é a primeira vez.

Bom, mas como eu disse isto não é culpa do filme, então passemos a falar da obra em si. Filmado de forma crua, com a câmera na mão o tempo todo e esta fixada no personagem William Kane (muito bem interpretado por Damian Lewis), o diretor Lodge Kerrigan praticamente planta a câmera no rosto deste, como se quisesse levar o espectador para dentro da mente e do sofrimento de um homem que luta contra uma doença e ao mesmo tempo contra um acontecimento que altera sua vida e de forma bem forte. A dualidade esquizofrenia e não-esquizofrenia se colocam bem ao longo do filme, deixando um clima de interpretação interessante para o espectador (eliminando os detalhes tratados anteriormente nesta crítica), levando-o a tentar entender exatamente onde está a esquizofrenia e onde está apenas uma atitude mais humana, de um homem não-doente.

Apesar de interessante e com um clima bem duro, que me lembrou em alguns momentos o cinema do centro-leste europeu principalmente da região báltica, Esquizofrenia tem alguns problemas de andamento e situações desnecessárias, que em alguns momentos prejudica demais a assimilação da busca e do problema do personagem pelo espectador. O início do filme é mais complicado, crescendo e melhorando muito com a aparição da menina Kira, interpretada por Abigail Breslin com o mesmo carisma que a consagrou em Pequena Miss Sunshine e Sinais, e que a transformou em uma das grandes promessas mirins do cinema atual. A relação de Kane e Kira, que se desenrola e que desembocará em um bom e interessante final é o ponto alto do filme, e que colabora para uma significativa melhora da obra, o que leva ao meu ponto inicial sobre o título; já que os resquícios e atitudes esquizofrênicas neste ponto da película são praticamente nulas, em outras palavras, naquele que para mim é ponto mais alto e mais importante de Esquizofrenia, a doença vira coadjuvante, e de propósito, algo que seria muito mais apreciado por um espectador que não tivesse sido direcionado por um título mal definido.

De todas as maldades de títulos nacionais que eu já vi fazerem com algumas obras, esta aqui adquire um caráter diferenciado, pois interfere muito no funcionamento da fita e o resultado é que o público brasileiro pode não captar e sentir tudo aquilo que o diretor Lodge Kerrigan quis passar, o que é uma pena, pois a coisa realmente soa interessante em alguns momentos, mas uma hora ou outra isso tinha que acontecer, basta ver que ainda vivemos em um país onde o filme dublado reina, mesmo com todos os problemas explícitos de tal modelo. Como tudo por aqui, alguns fazem a besteira e todos pagam por isso.


(Kane de Lodge Kerrigan, EUA - 2004)


NOTA: 7, 0

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