Dizer que a parceria Tim Burton e Johnny Depp é uma das mais
famosas da história do cinema é chover no molhado. Mais ainda é afirmar que a
parceria produziu grandes filmes como Ed Wood, Edward Mãos de Tesoura e A Lenda
do Cavaleiro Sem Cabeça, mas também produziu um desastre como A Fantástica
Fábrica de Chocolate e o chato Alice no País das Maravilhas. De tal forma,
analisar Sombras da Noite é realizar um exercido tanto de esforço como de
gosto, seja qual for o ângulo sob o qual você programar sua visão sobre a obra.
Johnny Depp encarna Barnabas Collins, um homem de uma
família inglesa que vem para o Maine nos EUA fazer fortuna no ramo da pesca. Ao
se envolver com uma bruxa que ele depois renega, é transformado por esta em um
vampiro e enterrado em um caixão por duzentos anos, despertando apenas no ano
de 1972.
A ideia central em si já possui uma deixa sensacional para
um grande filme, que é o choque de culturas. Um personagem do século XVIII que
de repente aparece no século XX é um prato cheio para piadas, boas histórias,
dramas e aventuras. Tim Burton consegue perceber este elemento e constrói as
melhores e mais engraçadas cenas de sua obra exatamente em cima deste elemento
(basta ver a cena em que Barnabas conversa com os hippies ou a cena em que ele pede
conselhos amorosos à adolescente interpretada por Chloë Moretz), contudo, é
inevitável notar que no momento em que o mesmo abandona tal temática o filme
perde um pouco de seu ritmo, e se torna meio maçante.
O clima dark/gótico característico das obras de Burton está
novamente presente aqui e com força total, algo que funciona bem, mas que neste
filme, devido à temática, funciona até melhor que o normal. O roteiro possui
algumas falhas de construção e de andamento, fazendo com que Sombras da Noite
tenha grandes momentos intercalados com partes bem fastidiosas. No quesito
direção, Burton novamente segue seu estilo, ou seja, atores muito bem focados e
guiados, andando por situações muitas vezes vacilantes. Burton é um grande
visionário e um grande linguista de cinema e não um grande diretor.
Refletindo na totalidade a alternância de seu ritmo, de seu
roteiro e de sua direção, Sombras da Noite intercala uma direção de arte e uma
fotografia vibrantes, um figurino excelente, porém uma maquiagem de gosto
duvidoso. A trilha sonora possui poucos bons momentos, mas no geral é fraca e
barulhenta.
O elenco é recheado de nomes conhecidos e inclui pequenas
participações de lendas como Christopher Lee e Alice Cooper. Johnny Depp está
ótimo no personagem, e, para minha satisfação, não recuperou as “macaquices” e
trejeitos de seu Jack Sparrow. Eva Green, que já é por si só uma grande atriz,
constrói uma personagem excelente, que domina boa parte do filme para cair em
um desfecho lamentável. Bella Heathcothe também se destaca com sua misteriosa
interpretação do terno amor de Barnabas; enquanto que Michelle Pfeiffer e
Jackie Earle Haley também estão ótimos. Como destaque negativo, não tanto pela
atuação, mas pela personagem, temos Chloë Moretz que sofre para se adaptar a
uma personagem caricata, mal construída e que só está ali para funções de
estereótipos familiares e para cumprir o papel de ser o lobisomem da vez em uma
história de vampiro (nova necessidade deste tipo de filme, e que se mostra cada
vez mais ridícula).
Sombras da Noite é um filme leve, muitas vezes
despretensioso e que nos mostra um Tim Burton menos ambicioso. Se em vários
momentos ele nos diverte, em outro ele nos leva a sensações menos
interessantes, contudo não é um filme ruim, apesar de seu final preguiçoso e
totalmente sem explosão.
(Dark Shadows de Tim Burton, EUA - 2012)
NOTA: 6,5
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