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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

MAURICE


Romance de época que retrata a descoberta da homossexualidade e da própria sexualidade em si de um jovem estudante inglês, e em posteridade adulto, do início do século XX. O filme é dirigido por James Ivory, após o grande sucesso de seu Uma Janela Para O Amor, e segue linhas bem específicas, ou seja, segue uma caminhada em torno da organização e proliferação dos ideais e das burocracias da sociedade3 inglesa da época.

Muito mais que tratar de preconceito ou do diferente, Ivory foca na descoberta, na apropriação de algo difícil como parte de si mesmo e na admoestação da situação por parte do próprio personagem e do geral onde o mesmo vive. O desenrolar início parece seguir um caminho mais romântico, onde o foco seria mais a relação entre dois personagens e não a descoberta de um em si, fato que se altera com o desenrolar da fita, mostrando que na verdade o filme é sobre Maurice e não Maurice e seus agregados por assim dizer.

Os filmes de Ivory, por adentrarem de forma muito forte na forma da sociedade inglesa da época acima colocada, acaba quase sempre tomando para si a frieza própria desta mesma sociedade, em outras palavras, os filmes de Ivory quase sempre não envolvem o espectador na trama, e o deixa meio deslocado. Maurice não é muito diferente. Toda aquela pompa, aquele “nariz empinado” da sociedade inglesa do início do século passado está muito bem retratado ali, com figurinos belíssimos, uma fotografia estupenda, cenografia de encher os olhos entre outros aspectos, que por mais que comunguem bem o contexto do filme são puramente técnicos. Todavia, se compararmos com os outros filmes de Ivory, Maurice pulsa melhor e tem mais expressão, fato que é feito de carona com a grande atuação de James Wilby no papel do protagonista.

O segundo, todavia se mostra negativo, já que Maurice peca no roteiro. O detalhismo e preciosismo de Ivory na parte técnica e na direção não se repetem no tratamento do roteiro. Maurice atropela algumas situações, não explora muito bem alguns aspectos importantes para o filme (como o despertar do romance entre Maurice e Clive, personagem de Hugh Grant), e não se aproveita de boas e originais sacadas, como os quadros e situações que envolvem a hipnose. O romance da parte final entre Maurice e Scudder (muito bem interpretado pelo jovem Rupert Graves) é como um galho separado, e no final das contas não condiz com o bom realismo que a fita constrói ao longo de suas primeiras partes. A temática homossexual está bem em foco atualmente, o que pode gerar um ressurgimento desta obra de Ivory, pouco conhecida no Brasil, mas não altera o modo um pouco intelectual como a película vê a questão. Em Maurice, o homossexualismo, em vários momentos, aparece muito mais como escape do tradicionalismo, do que como opção sexual propriamente dita.

No final das contas, Maurice é um filme bem palatável, entretanto, falta-lhe aquilo que separa os filmes comuns dos grandes filmes, aquele “boom’ que espanta e que choca o espectador, gerando um grande problema, já que Ivory possuía todos os ingredientes na mão e não soube usá-los. Assim sendo, por mais forte que algumas de suas reflexões possam soar, por mais atual que sua temática seja e por mais que tecnicamente o filme beire à perfeição, Maurice não consegue superar o status de “mais um”, e se segura através de elementos periféricos enquanto que os cabais deixam um pouco a desejar.


(Maurice de James Ivory, Reino Unido - 1987)



NOTA: 6,5

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