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domingo, 22 de abril de 2012

CORAÇÃO DE CRISTAL



Werner Herzog é, ainda hoje, um dos grandes diretores que o cinema produziu. Dono de um estilo único, que mistura brutalidade com elementos poéticos para realizar grandes análises da natureza humana, o diretor alemão já nos presenteou com clássicos como Fitzcarraldo, O Enigma de Kaspar Hauser e o meu favorito, o estupendo Aguirre, a Cólera dos Deuses, todavia, Coração de Cristal é com certeza, entre os filmes do diretor que eu tive a oportunidade de assistir, o mais emblemático e o mais experimental trabalho de sua carreira.

O filme é extremamente simbólico e cheio de diálogos magistrais, que possuem em seu cerne, tanto elementos do teatro clássico quanto elementos poéticos de altíssimo nível. A fotografia é bárbara e a condução de câmera por parte de Herzog é algo para ser analisado em uma escala diferente. O diretor realiza inúmeros movimentos ao longo do filme, o que o torna um trabalho extremamente imprevisível. Herzog inverte planos, expande e retrai os mesmos ao seu bel-prazer, mas nunca de forma arbitrária, coloca a câmera em sua mão quando julga necessário e até verticaliza alguns planos, tudo com um toque clássico de alguém que realmente sabe o resultado que quer adquirir. Um exemplo claro dessa grandiosidade é a sequência final, que se passa em uma ilha e que dura alguns minutos, em que Herzog dá uma aula de direção e com ângulos e movimentos ousados cria planos maravilhosos e cenas inesquecíveis.

Apesar de possuir uma linearidade, Coração de Cristal possui vários fragmentos em sua execução, fragmentos estes que, por mais que possuam relação com o todo, se auto explicam através de aspectos existenciais e teses elaboradas em tons proféticos, materializando-se na pessoa do “vidente” Hias, responsável pela maioria dos grandes diálogos que o filme possui.

A busca da fórmula secreta do “vidro-rubi” perdida com a morte do único homem que a conhecia, faz com que um vilarejo se perca em obsessão e lamúria, pois os mesmos vivem desta especialidade. Personagens se alteram, definham, crescem, e tudo isto sem qualquer dano ou apelação ao alinhamento construído, ou seja, o desespero das pessoas com o alicerce perdido, o vislumbre de um futuro sem nada, culminando em atitudes e condições extremas dos personagens. Coração de Cristal é lento, pouco convencional, em alguns momentos desesperador e exige muita concentração do espectador, ou seja, é cinema de grande profundidade e de grande afetação. Visualmente e esteticamente experimental, é um filme único na carreira de Herzog, o que o torna pouco visto mesmo entre seus fãs, que na maioria das vezes são adeptos ao seu cinema mais “comum”.

Como última ressalva, vale o destaque de que, segundo o que eu li, Herzog utilizou técnicas de hipnose em alguns atores, principalmente nos coadjuvantes, para que os mesmo realizassem cenas em estado alterado, com a intenção de realizar o mesmo movimento no espectador, fincando sua presença através da loucura e do exagero imposto a estes atores e no final das contas, ele conseguiu, pois com o perdão do trocadilho, o filme é realmente hipnotizante. Obrigatório.


(Herz aus Glas de Werner Herzog, Alemanha - 1976)


NOTA: 9,5

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