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segunda-feira, 26 de março de 2012

SENTIDOS DO AMOR


Para nossa sorte, nem só de cinema (espaço físico) vive o mundo da sétima arte. Cada vez mais, devido ao advento do cinema barulho e comercial, grandes filmes passam longe dos cinemas e repousam nas locadoras e lojas de DVD´s de forma desconhecida, sem pôsteres e em prateleiras nos fundos. Cada vez mais, você, que se julga um verdadeiro fã de cinema, deve bisbilhotar estas prateleiras, pois em alguns momentos cai em suas mãos uma obra como este Sentidos do Amor.

Ignore o título em português que tenta resumir o filme a um romance de Nicholas Sparks e se coloque na presença de uma inebriante obra, que consegue ser um romance, ser um belo filme, sem ser piegas e sem se esbaldar em clichês pré-determinados, infundados e que não enganam mais ninguém. Sentidos do Amor, do diretor escocês David Mackenzie, se utiliza de um mundo pré-apolíptico que vai se “apocaliptizando” ao longo da fita como um pano de fundo para o romance entre um chef (interpretado de forma intensa por Ewan McGregor) e uma epidemiologista (interpretada de forma igualmente forte por Eva Green). O mais interessante é o modo como o diretor desenvolve o romance e o coloca à prova dos acontecimentos ao redor do casal. Conforme o mundo vai desmoronando, o romance se enraíza, ultrapassando o simples amor romântico e se tornando praticamente um escape para toda a tragédia que os envolve no que toca ao restante de suas vidas.

O romance se desenvolve em meio a uma epidemia, que após acessos extremos de um determinado tipo de emoção (dor, raiva entre outros) gera a perda de um dos sentidos do ser humano, algo que inicia com o olfato, vai para o paladar e segue seu curso, sem qualquer vislumbre de cura ou de explicação para tudo aquilo. A grande sacada de Sentidos do Amor é não cair no caminho mais fácil de “embelezar” uma tragédia, somente pelo fato de a mesma propiciar (ou conviver com) a existência de um grande amor. Mesmo nos momentos mais belos do romance entre os dois, o clima da fita é sombrio, drástico e extremamente soturno, resultado de uma fotografia acinzentada, lúgubre e que parece expelir fuligem ao longo de toda a fita. A trilha sonora é precisa, e o roteiro consegue escapar (outro grande mérito) de momentos “songs of love” carregados e que tentam forçar um grande amor. Mackenzie acerta a mão, nos brinda com enquadramentos e cenas maravilhosas (com destaque para a união do casal, na imagem que estampa o pôster do filme no início deste texto) e constrói tanto um romance quanto uma catástrofe que segue seu curso de força extremamente natural, triste, porém natural, de tal forma, que no momento em que amor entre os protagonistas se torna o centro, você aceita e torce por isto, tamanha a simpatia que se adquire pelo amor do casal, mediante à tristeza do restante. Se um grande romance é aquele em que torcemos pelo casal principal, os momentos finais da fita corroboram a ideia e te fazem sentir o impacto deste surpreendente filme.

Da mesma forma que outros filmes que, por mais que tenham diferenças, seguem a mesma linha de tendência, como Ensaio Sobre a Cegueira, A Estrada e Não Me Abandone Jamais, o pessimismo e a dureza do filme podem não agradar muitas pessoas, pois a esperança aparece em pequenos detalhes, sendo que estes muitas vezes se mostram pouco seguros, contudo, é inegável o tom de qualidade, de audácia e de originalidade deste ótimo filme, que não estreou nos cinemas brasileiros e que corre o risco de nunca receber o reconhecimento que merece. Enquanto Crepúsculos e comédias estúpidas banalizam o amor e enchem de besteira a cabeça daqueles que vão ao cinema, Sentidos do Amor passa despercebido, chegando apenas às mãos daqueles que buscam um pouco mais no cinema do que mero entretenimento. Em resumo, se você ainda não sabe o que assistir no próximo fim de semana, ou no seu próximo fim de noite, aceite minha dica e capte toda a beleza desta incrível obra. Imperdível.


(Perfect Sense de David Mackenzie, Alemanha/Dinamarca/Reino Unido/Suécia - 2011)



NOTA: 9,0

segunda-feira, 19 de março de 2012

AS VÁRIAS FACES DE GARY OLDMAN

Inicio com este grande ator minha intenção de ampliar os horizontes do blog para além dos filmes apenas:



1 - LUDWIG VAN BEETHOVEN (MINHA AMADA IMORTAL - 1994)


2 - CONDE DRÁCULA (DRÁCULA DE BRAM STOKER - 1992)


3- COMISSÁRIO JIM GORDON (BATMAN BEGINS - 2005, BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS - 2008, BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE - 2012) 


4 - SIRIUS BLACK (SAGA HARRY POTTER - 2004, 2005, 2007, 2011)


5 - GEORGE SMILEY (O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS - 2011)

quinta-feira, 15 de março de 2012

OS INOCENTES


Um dos grandes clássicos do terror e do suspense de todos os tempos, Os Inocentes é uma obra de peculiaridades claras, que consegue como poucos filmes dosar tensão e sustos, sem perder seu elemento clássico, além de conseguir fazer tudo isso sem descambar para maneirismos ou situações absurdas que poderiam ser utilizadas (e neste tipo de filme muitas vezes são) para amarrar e resolver o enredo de forma mais rápida, porém normalmente mais falha.

Os Inocentes conta a história de uma governanta recém-contratada para cuidar de duas crianças na casa de campo onde elas vivem. A partir de tal ponto, a governanta começa a perceber eventos estranhos na casa, o que a faz, muito mais que colocar em cheque a sobrenaturalidade destes fatos, começar a questionar a aparência e as atitudes angelicais e dóceis das crianças.

Os Inocentes é um filme único, pelo fato de trilhar por caminhos muito diferentes do que a maioria das fitas de seu gênero. A personagem de Deborah Kerr, ou seja, a governanta, ao começar perceber a presença de fenômenos sobrenaturais na casa, não apela para resoluções mirabolantes ou correrias desenfreadas para que de repente uma pista salte à sua frente para lhe criar uma visão epifânica. Por mais que elementos deste tipo até se apresentem, eles acontecem em uma escala tão baixa e tão coadjuvante que nem fixam raízes, dando espaço para uma resolução mais centrada, mais pautada nas desconfianças da personagem do que propriamente em pudores ou moralismos. Colocar as crianças como elementos de presença dos fantasmas, e associá-los a maldade é algo pouco visto atualmente, muito devido ao elemento hipócrita politicamente correto de nossa sociedade atual. Aqui a coisa é diferente, e a governanta não desvia suas desconfianças das crianças e as associa a maldade sem qualquer tipo de freio ou ficcionismo.

Falando do filme em si, Os Inocentes não tem estrutura de terror/ação, mas sim de terror/drama, ou seja, não possui aquele clima desenfreado onde sustos pululam de todos os lugares sem qualquer compostura, mas sim aquele clima mais ameno, onde o suspense e o terror vão se desenvolvendo com o tempo para alcançar seu clímax a longo prazo. O resultado disto é um filme que em seu início é bem tranqüilo, mas que após algum tempo gera uma tensão no espectador que ultrapassa a existência de sustos. Filmes onde os sustos são mais dispersos ao longo do roteiro funcionam melhor, pois o espectador não sabe muito bem onde e quando eles acontecerão. A tensão é tão grande que você termina o filme meio perdido, efeito que ainda se alonga por algum tempo após o término da fita. Tal ressalva feita, que fique claro outro aspecto: com os poucos sustos que o filme tem, ele consegue simplesmente gelar a espinha do espectador (poucas vezes passei tanto pavor na frente de um filme quanto na cena em que o menino Miles está de costas para uma janela e um vulto aparece atrás da mesma dando risadas).

A direção é precisa, o elenco é ótimo e a direção de arte brilhante, unida a uma fotografia estupenda, onde as sombras são utilizadas de maneira assombrosa (com o perdão do trocadilho) para ajudar na criação do penumbroso clima que percorre toda a fita. A lamentar, apenas a dificuldade de acesso ao filme atualmente. Fora de catálogo no Brasil há bastante tempo, depende-se de boas almas que disponibilizem o filme, elemento que o encarece bastante, justamente, diga-se de passagem devido a seu caráter de raridade. Devido a isso, por exemplo, levei um bom tempo para ter acesso a esta grande obra.

Lamentos deixados de lado, Os Inocentes é com certeza um filme que deve ser visto por qualquer fã de cinema, independente de peculiaridades genéricas de gosto, pois o filme é muito mais que um mero suspense ou filme de horror, é uma grande obra feita pelo cinema, que potencializa características e técnicas que ultrapassam as limitações de seu gênero. Imperdível.


(The Innocents de Jack Clayton, Inglaterra - 1961)


NOTA: 9,0

terça-feira, 13 de março de 2012

CASSINO


Uma das mais aclamadas obras do mestre Scorsese é uma descida aos abismos do mundo pobre e desregrado não só da famosa Las Vegas, mas de todo o circuito envolvido em um mundo muito mais profundo que meras jogatinas e promiscuidades.

Cassino acompanha o desenrolar, o enrolar, o desenrolar e o enrolar de novo e assim sucessivamente de personagens envolvidos em tal meio, explorando suas idiossincrasias e exemplificando com formulações diferentes de cada um dos personagens, quais são os tipos de seres aos quais se transformam àqueles totalmente embrenhados deste âmbito e tudo aquilo que o mesmo pode proporcionar. Assim sendo, encontramos chefões de jogos e máfias, prostitutas, cafetões, simples apostadores, corruptos e por aí vai, todos eles analisados e apresentados com as características estéticas scorsesistas da potencial capacidade bestial do homem.

Scorsese consegue como ninguém, buscar e expor a capacidade que o homem tem de se tornar simplesmente uma besta, e explora tais elementos com uma inteligência única, se apoiando em elementos de temática violenta, porém que nunca se afastam de um forte realismo, por mais que em alguns momentos este realismo seja um pouco exagero. A câmera de Scorsese é sempre muito bem centrada e o desenvolvimento do roteiro é brilhante, por mais que demore alguns minutos acima do recomendável para funcionar. Além disso, estão presentes aqui o exótico gosto de Scorsese por figurinos exagerados e aquela perturbadora fotografia em tons avermelhados que parece nos impulsionar para dentro do ambiente do Cassino mesmo quando lutamos contra tal força.

Mesmo com seu habitual talento para dirigir e contar histórias de tal envergadura, nada funcionaria tão bem quanto funciona se não fosse o ótimo elenco. Robert DeNiro deve toda sua carreira a Scorsese, e aqui está novamente ótimo nas mãos do diretor. Sharon Stone nos mostra a melhor atuação de sua carreira em um papel difícil, porém feito com muita vontade, todavia o destaque maior vai para Joe Pesci, outro que cresce nas mãos de Scorsese, que nos brinda com uma atuação fenomenal e cheia de entusiasmo.

Cassino não é o melhor filme de Scorsese, mas desde sempre circulou entre os grandes, algo mais que merecido. Como filme propriamente dito já é um gigante, agora, como estudo do comportamento e da formalização humana, Cassino é mais uma obra-prima deste gênio do cinema chamado Martin Scorsese. Imperdível.


(Casino de Martin Scorsese, EUA/França - 1995)


NOTA: 8,5

terça-feira, 6 de março de 2012

NAPOLEON DYNAMITE


Tentar rotular ou simplesmente encaixar Napoleon Dynamite em padrões comuns do cinema é uma tarefa no mínimo dura e criteriosa. A originalmente comédia de Jared Hess acompanha a vida de Napoleon, um estudante do meio-oeste americano preso em um mundo de certo modo geek e que não consegue se relacionar em nada, mais absolutamente nada fora disso, melhor dizendo, sua dificuldade de relacionamento de transpõe até mesmo a membros daquilo que seria o seu meio, porém com algumas diferenças; em resumo, um jovem extremamente excêntrico e preso em si mesmo e em seu mundo particular. As coisas mudam um pouco, quando ele conhece Pedro, um clássico adolescente mexicano que migrou para os EUA. Clássico tanto na maneira, quanto no perfil que o filme dá ao personagem.

Em primeiro momento, Napoleon Dynamite parece uma comédia de adolescente de jargões comuns e pouco inventividade; contudo ao longo da fita o negócio descamba para um estilo muito diferente, que pode causar estranheza em muita gente, porém inegavelmente original. Com toques de drama, e poucas cenas realmente engraçadas (a melhor delas é com certeza quando Napoleon se apresenta para a campanha de seu amigo Pedro para presidente dos estudantes), Napoleon Dynamite apóia-se muita mais na ideia de ser diferente do que necessariamente ser engraçado, e o resultado final depende da inserção do espectador neste movimento do filme. Em outras palavras, muito mais que gostar de comédia, para gostar de Napoleon Dynamite você deve gostar de comédias excêntricas, que misture humor negro, muitas vezes sutil, toques de escatologia e abra mão, em sua grande parte, daquele humor explícito e vulgar da maioria das comédias atuais deste gênero.

A direção de Hess também é diferente para este tipo de filme. Ele usa muita mais elementos de road movie do que de comédia. A fita é repleta de planos vazios, e a câmera de Hess normalmente fica estática esperando as ações dos personagens passarem por ela. Se no roteiro a inovação de Hess ajuda a fita, na direção nem tanto. O filme perde agilidade, o que para uma comédia é algo ruim, e temos uma fita muitas vezes lenta e de pouca explosão, algo que faz com que seus curtos 82 minutos pareçam bem mais tempo.

As atuações são ótimas e constroem os estereótipos (claramente proposital) de forma impressionantemente precisa, além de um intrigante trabalho de direção de arte, maquiagem e figurino de incrível mau gosto (também proposital). A trilha sonora em alguns momentos muito dura, faz seu papel, mas também colabora para o elemento road movie do filme.Além disso, tenho outra colocação: eu entendo que o fato de o filme se passar em Idaho merece tal aspecto, mas minha pergunta é se a fita precisava potencializar tanto o aspecto caipira da região, por assim dizer, algo que às vezes me soa um pouco exagerado demais (pois exagerado o filme já é por si só).

No final das contas, Napoleon Dynamite é um filme interessante, original e com boas sacadas, todavia, confesso que, devido a algumas opiniões que já ouvi sobre o mesmo eu esperava um pouco mais. É bom, porém nada fora de série como muitos dizem por aí.


(Napoleon Dynamite de Jared Hess, EUA - 2004)


NOTA: 6,5