Atualmente parece surgir no cinema e no entretenimento em geral uma onda de transformar aqueles clássicos contos de fadas que povoaram gerações e mais gerações em obras mais assustadoras e insinuantes. Só no campo dos seriados temos dois claros representantes desta temática; Grimm e Era Uma Vez, série às quais não assisti nenhum capítulo, mas que tive a oportunidade de me deparar com os resumos de seus episódios e daí retirar este meu comentário. Além disso, no próprio cinema, tivemos o desastroso A Garota da Capa Vermelha no ano passado e neste 2012 assistiremos (ou não) ao lançamento de duas novas versões da clássica história de A Branca de Neve, contudo, não acredito na possibilidade de nenhuma das duas serem superiores a esta surpreende adaptação do conto compilado pelos Irmãos Grimm.
O diretor Michael Cohn cria uma incrível roupagem para esta adaptação. Tudo é muito obscuro, muito misterioso, muito penumbroso. O suspense é forte e circunda todo o filme, caminhando ao lado do mesmo de seu início até os momentos do ótimo desfecho. As poucas deturpações na história ajudam o espectador a se identificar com o clima proposto, porém, o grande acerto do diretor é eliminar ou suplantar elementos da história original que a transformam em um conto infantil, fazendo com que a fita ganhe em “público idade”. O príncipe encantado aqui não é bem lá um poço de bondade e pureza, e os sete anões são substituídos por uma espécie de grupo de renegados e marginalizados, dos quais vários possuem seus rostos deformados ou cicatrizados.
O elenco está muito bem, desde o grupo desconhecido de coadjuvantes, passando por uma concisa atuação do normalmente burocrático Sam Neil e desembocando na ótima atuação de Sigourney Weaver como Lady Claudia, ou para associá-la ao conto original, como a Madrasta.
Floresta Negra (não vou nem comentar o título em português) é sim um filme de terror, e de terror psicológico, muito mais puxado para o suspense do que para o terror explícito, e muito mais do que sustos, o filme se apóia nas relações pouco harmoniosas e humanas entre os personagens, e no incrível elemento perturbador proporcionado pelo ótimo trabalho artístico, com destaque para a belíssima fotografia em tons azulados e uma ótima maquiagem. Contudo, como ressalva, vale comentário o pouco capricho com os efeitos especiais em algumas cenas, que, se causados pela falta de dinheiro se torna algo perdoável, todavia, se o motivo for a incompetência dos profissionais responsáveis pelos mesmos, não há razão alguma para se esquivar de tal percepção, nada que estrague o bom resultado final, mas é nítido que o trabalho nesta parte específica da obra está abaixo do restante.
Um filme muito interessante e que deveria ter recebido um reconhecimento maior, o que infelizmente não aconteceu. A fita se perdeu na passagem do VHS para o DVD e não foi lançada no Brasil neste segundo formato (pelo menos não em grande tiragem e que pudesse gerar um fácil acesso à mesma), característica que o transforma em um trabalho de difícil acesso, ainda mais para aqueles espectadores que já não suportam mais os chiados e tremidas clássicas de uma VHS. Entretanto, VHS ou não, esqueça por alguns momentos a Branca de Neve de sua infância e se coloque em um conto de mesma estrutura, porém com uma roupagem totalmente diferente.
(Snow White: A Tale Of Terror de Michael Cohn, EUA - 1997)
NOTA: 7,5
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