Épico medieval que mistura, além dos elementos já clássicos do gênero, um toque muito forte de suspense e, por que não, elementos que beiram o terror. Contando com Sean Bean (o Boromir de O Senhor dos Anéis) como único mais ator “badalado”, Morte Negra se utiliza destes elementos para contar a história de um grupo de cavaleiros cristãos que recebem a missão de adentrar a uma aldeia, que misteriosamente não se encontra padecendo sobre o terror da chamada Peste Negra, e que buscam em um jovem monge o guia (no sentido turístico da palavra) para alcançar tal localização.
Qualquer pessoa que se lembra um pouco de suas aulas de história, sabe que Peste Negra foi o nome pelo qual ficou conhecida a peste bubônica, após (e durante) a pandemia que assolou boa parte da Europa no século XIV. O contexto do filme é este: uma Europa devastada, suja, pútrida e com sua população morrendo ou de peste ou de medo de tudo aquilo se tratar de um castigo divino (é interessante levar em consideração que, além da Peste, outra coisa que dominava a Europa era a Igreja Católica unitária).
O filme trabalha bem com o contexto, e o mais interessante é que em nenhum momento ele deixa de ser contexto. Morte Negra não é um filme sobre a Peste Negra, nem sobre o medievo em si, mas sobre um embate, sobre um aspecto delicado, difícil e que gera interpretações e colocações de variados modelos, falamos do embate, mais que clássico no medievo, entre paganismo e cristianismo. É difícil citar ou trabalhar todas as nuances abordadas pelo filme, mas o fato é que, Morte Negra consegue atribular de forma muito eficiente este confronto. De um lado, enviados cristãos que tem como missão combater uma aldeia que, por não ter sido atingida pela peste, é vista como demoníaca, ou seja, aquele clássico “ser diferente” tão combatido por instituições dominadoras.
Morte Negra não é um filme ateu, nem pagão, e sim deísta, e visivelmente (como é explícito no final) anticristão, pelo menos, daquele cristianismo absurdo e violento praticado pela Igreja Católica na época analisada. Vale ressalva, que mesmo com tal caráter, a crítica a posições x ou y, parte muita mais da interpretação do espectador do que propriamente de um elemento explícito no filme. O roteiro de Dario Poloni consegue flutuar e se infiltrar em todas as perspectivas possíveis, e demonstrar aspectos positivos e negativos em todos, algo que é muito complicado, e que uma tomada de partido no final não corta o mérito.
Tecnicamente falando, o filme está bem longe de ser original, ou de acompanhar a força de seu roteiro (que, quando foge do argumento central, também cai em situações fáceis). O figurino e a cenografia são visivelmente limitados (culpa de um baixo orçamento), e as atuações de alguns coadjuvantes beiram o amadorismo. A direção do desconhecido (pelo menos para mim) Christopher Smith é comum, e se utiliza de flashes, movimentos e cortes que buscam muito mais uma aventura épica do que uma reflexão temática como o roteiro permite, o que faz com que Morte Negra acabe se tornando um filme acessível a todos, mesmo que a maioria fique estagnada na exterioridade da direção de Smith.
Confesso que me surpreendi com a capacidade argumentativa deste filme, o que não o torna um filmaço, mas o torna reflexivo; algo cada vez mais raro hoje em dia. A verdade é que Morte Negra exige uma análise muito mais historiográfica e filosófica do que propriamente cinematográfica, porém, como este não é o intuito chave do blog, acredito que os pequenos entraves que citei sejam suficientes para despertar a curiosidade para um filme pequeno, que estreou no Brasil direto em DVD e que se sai muito melhor que a capa ou a sinopse. Muito mais que lido ou comentado (sobre o mesmo), Morte Negra é um filme que deve ser visto. Uma boa surpresa.
(Black Death de Christopher Smith, Alemanha/Reino Unido - 2010)
NOTA: 7,5
Na minha opinião, um filmaço, e a postagem, totalmente de acordo com o que se encontra.
ResponderExcluirParabéns Pablo!