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quarta-feira, 30 de março de 2011

ECLIPSE TOTAL


O reconhecimento por parte de público e crítica como um dos maiores escritores de suspense de todos os tempos, transformou Stephen King em um mito, assim como várias de suas histórias como O Iluminado, Carrie - A Estranha, A Coisa e mais recentemente a saga de A Torre Negra, isso quando o assunto é livro. No quesito cinema, os contos e histórias de King já geraram vários filmes, e por incrível que pareça, seus contos mais dramáticos e introspectivos, normalmente geram obras mais interessantes, que os filmes baseados em contos de suspense, salvo algumas exceções. Filmes como Um Sonho De Liberdade, Conta Comigo e até mesmo À Espera De Um Milagre, conseguiram ótimos efeitos e possuem fãs por todas as partes. Eclipse Total, é baseado no livro Dolores Clairbone, de autoria de King e que eu não li, entretanto, assistindo ao filme, verificamos que se trata de uma história se encaixa no grupo das dramáticas.

A jornalista Selena (interpretada por Jennifer Jason Leigh), ao saber que a mãe se encontra sob acusação de assassinato, retorna para reencontrá-la após vários anos de distância, efeito da não explicada morte de seu pai. Unidas novamente e sob vários problemas, as duas começam a relembrar a dura vida e os tristes momentos que passaram juntas. O filme é uma descida extremamente íngreme ao coração e aos pensamentos destas duas personagens. A mãe, cujo nome dá título ao livro é interpretada por Kathy Bates (que já atuou em outro filme baseado em uma obra de Stephen King, no caso Louca Obsessão, e que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz), que é uma atriz super espaçosa e que ocupa a tela com muita força e maestria, todavia, para minha grande surpresa, uma atriz limitada como Jason Leigh consegue acompanhar o ritmo, e por mais que percebamos seu enorme esforço para chegar a este resultado, ele é muito satisfatório.

O roteiro possui praticamente todos os elementos básicos de um texto kinguiano, ou seja, se passa em uma cidade pequena, afastada (uma ilha neste caso), que parece ter lei própria, e que esconde por detrás de uma máscara de sorrisos e futilidades, podridões e coisas vergonhosas. O estado do Maine está lá denovo, assim como aquele clima todo soturno e analítico que King coloca em suas produções, sejam elas dramáticas ou suspenses. O perfil dos personagens é bem traçado e delineado, revelando-se aos poucos para o espectador, que no início vê os personagens pelo estereótipo, mas depois vai verificando que nem tudo é o que parece, pelo contrário, não tem muito haver não.

A direção é de Taylor Hackford, um diretor até bem conhecido, principalmente por obras como A Força Do Destino, O Advogado Do Diabo e Ray. Hackford constrói um sólido trabalho, eleva o potencial de Jason Leigh ao extremo, deixa Kathy Bates à vontade sem deixar esse caráter espaçoso da mesma se transformar em exagero, além de conseguir o feeling certo do filme. A fita toda é um exercício de nostalgia, que mistura elementos anamnéticos com um certo ar de esquizofrenia, misturando realidade com passado e que ignora totalmente a linearidade e qualquer elemento cronológico. Os personagens se utilizam do presente para reconstruir e descobrir os erros e movimentos do passado, e Hackford se utiliza disso muito bem, agora é nítido que falta ao diretor o carisma e a beleza de Darabont (para citar um diretor que gosta de adaptar histórias de Stephen King) com as imagens. King é um autor estético e que se preocupa com a beleza das coisas, e Hackford não se atenta muito a isso, além do fato de que o diretor explora pouco os conflitos mais voltados ao social, como a violência contra a mulher, a relação da acusada de assassinato com uma comunidade preconceituosa, entre outros aspectos que poderiam sser melhor aproveitados e que deixaria o filme com um ritmo mais interessante, mesmo que este não seja nem um pouco ruim.

Eclipse Total é um bom filme, e um bom trabalho de Hackford, mas fica aquele sensação de que se fosse Darabont ali, Eclipse Total poderia ter sido quase um novo Um Sonho De Liberdade. Com grandes diálogos, frases marcantes, boas atuações (Christopher Plummer está ótimo como o policial que acusa a personagem de Bates) e um trabalho de direção que mesmo não sendo brilhante é competente, Eclipse Total se torna outra boa adaptação de King para o cinema, e novamente no aspecto mais dramático de sua obra, por mais que ainda existam alguns grãozinhos de suspense no filme.

(Dolores Clairbone de Taylor Hackford, 1995)


NOTA: 8,0

terça-feira, 29 de março de 2011

NÃO ME ABANDONE JAMAIS

 
*** Crítica publicada originalmente no dia 23/01/2011 e republicada agora devido ao lançamento oficial do filme em questão.

Existem alguns momentos em que muitas coisas nos emocionam, momentos em que muitas coisas nos levam a pensar e a raciocinar de forma profunda, e existem aqueles momentos em que os dois se unem de uma forma tão avassaladora que nos acompanha e nos arrasta em seus tentáculos por dias e dias afim, como se aquilo agora fizesse e compusesse uma parte essencial de sua vida, neste caso, de sua vida cinematográfica. Não Me Abandone Jamais, drama que estreou no Brasil este mês, nos causa este último grau de "possessão" por assim dizer, e da melhor maneira possível.

O filme consegue unir razão e sensibilidade de uma maneira tão fina e tão lúcida, que chega a parecer mentira. A fita retrata a relação entre três amigos, que foram modelados (isso mesmo, tipo um clone) a partir de outras pessoas, e que possuem a única e exclusiva função de se tornarem doadores de órgãos quando vieram à juventude. Se a ideia já é de uma originalidade bem interessante, acrescente a isto uma dose precisa de romance, dramas existenciais bem sintetizados e encaixados, discussões artísticas e filosóficas, e estaremos diante de uma das miscelâneas teóricas e práticas mais bem estruturadas e construídas dos últimos anos.

O roteiro é certíssimo, e consegue dizer tudo o que precisa, sem soar pedante, enjoativo ou bobo. O equilíbrio entre o drama e o romance é impressionante, além de uma direção simples, leve e deliciosa de se acompanhar assinada pelo sumido diretor Mark Romanek ( Retratos De Uma Obsessão). Além disso, o filme é de uma beleza ímpar, que une as paisagens rurais da Inglaterra das décadas de 70 e 80, com contrastes mais urbanos em um trabalho belíssimo de fotografia. 

Mesmo tudo o que já foi anteriormente citado trabalharem de forma impressionante, o toque final, o que coloca uma enorme cereja no topo do bolo, é a maneira e preciosidade com que Carey Mulligan, Andrew Garfield e até mesmo Keira Knightley constroem seus personagens. O triângulo amoroso é bem construído, e não deixa de escancarar na cara do espectador o tempo todo, que o problema é uma intrusa (a personagem de Knightley), e não a banalização do amor. Aliás, em uma indústria onde o amor se tornou sinônimo de apetite sexual, Não me abandone jamais, entra na contra mão e acaba por demonstrar que o sexo nada mais é que uma parte, e que não pode suplantar os verdadeiros sentimentos. O casal formado por Garfield e Mulligan é incrível, e a química entre os dois é sincera, o que constrói uma relação amorosa, de uma pureza e beleza há muito tempo não vista.

Misturado a isso, o filme ainda consegue inserir elementos filosóficos, artísticos e polêmicas bioéticas e humanistas de uma forma tão salutar e tão bem encaixada, que tudo flui entre espantos pela maneira como estes "pseudo-clones" são tratados e vistos pelas pessoas que "cuidam" deles, e entre momentos belos e de pura emoção. Logicamente, que podemos encontrar vários elementos críticos dentro do afiado roteiro, entre elas, a banalização da arte, do amor, mais principalmente a derrota do humanismo e da alma, perante à tecnologia e ao corpo. É preferível criar seres humanos como qualquer um e deixá-los quase que em cativeiro, criando-os como animais (no pior sentido da expressão), do que deixar muitas vezes meros corpos morrerem e darem seu lugar no plano geral da natureza à outras almas.

O filme trabalha com várias ideias e conceitos que estão cada vez mais obsoletos no mundo atual, como os de humanidade, amor, cuidado e principalmente alma. O ser humano como um ser dotado de alma, e não apenas como um objeto para uso de outras pessoas. A doação de órgãos, desde que feito sobre procedimentos normais, ou seja, quando uma pessoa morre, é totalmente interessante e benéfico, agora, nada justifica uma ação como a criação de seres humanos escravos desse aspecto. Vale lembrar, que em nenhum momento o filme realiza qualquer tipo de crítica ao procedimento de doação de órgãos em si, mas sim a esta ciência e a esta geração cega que não consegue nem encontrar explicação para o fácil, imagine para algo que não se pode ver, nem tocar, mas apenas abstrair, sentir e pensar sobre.

Um trabalho brilhante, recomendado para filósofos, artistas, cinéfilos, pessoas inteligentes, pessoas emotivas, e que acima de tudo possuem capacidade para ainda encontrar beleza e sentimentos reais em um mundo dominado pela falsidade e hipocrisia. Um belo trabalho que supera superficialidades, e que toca o espectador no mais fundo de sua alma e de sua capacidade de conhecer e abstrair. Um filme recomendado principalmente para seres humanos que acreditam e que possuem uma alma, não no sentido religioso cristão banal, mas sim no sentido de humanidade, daquilo que te faz humano, daquilo que te faz único na natureza. Uma fita que reaviva belos conceitos que o mundo atual coloca cada vez mais em uma página virada da história, um filme único, tão bom, que até a resenha insiste em não querer acabar. Impressionante e tocante como há muito eu não via.
 
( Never Let Me Go de Mark Romanek, 2011)
 
 
NOTA: 10,0

segunda-feira, 28 de março de 2011

REINO ANIMAL



Conhecido como o filme que rendeu a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante para Jackie Weaver, de quem ninguém nunca antes tinha ouvido falar, “O Reino Animal” é uma das boas surpresas desse ano. Acompanhamos a história do jovem Joshua Cody, que depois de perder a mãe por causa de uma overdose, vai morar na casa onde vivem a avó e os tios- parentes com quem há tempos não mantinha contato. A nova família é cheia de conflitos, tanto com a lei, quanto internos. E essa falta de confiança entre si vai ser aproveitada pelo serviço de inteligência da polícia australiana para derrubar a quadrilha. Mas o filme é mais sobre, aqui interpretado pela revelação James Frecheville, do que sobre a família Cody em si. O personagem é um achado e rouba a cena no filme (apesar da elogiada atuação da Jackie Weaver, no papel da matriarca da família). Apesar de introvertido, emburrado e por vezes e alheio aos acontecimentos em sua volta, Joshua é, em contrapartida, inteligente e carismático. Todos parecem fazer um grande esforço para ganhar a atenção dele. De início, temos a impressão de que o personagem está evoluindo, amadurecendo, quando na verdade, devido à temporalidade do filme - já que a história se desenrola em um curto espaço de tempo – percebemos estar desvendando a personalidade de Joshua, que acaba como o grande heroi deste belo filme. O que condena “O Reino Animal” é a falta de ambição do projeto. Os personagens são ótimos, o elenco faz um trabalho fantástico e o roteiro tem nuances originais. Mas o filme é pequeno, modesto, lúcido e comedido, tanto na violência quanto nas emoções. É um desperdício que um projeto desses não tenha caído nas mãos de um de Palma ou de um Scorscese.

Reino Animal (Animal Kingdom, Austrália, 2010)


NOTA: 8,0

COMO APRENDI A PARAR DE ME PREOCUPAR E AMAR O 3D



Num desses dias acordei com o espírito desbravador de mundos, uma vontade digna de Colombos, Copérnicos e Marco Pólos. Dizem que toda grande viagem ou maldição começa com a dúvida, esta vulva berçário do desconhecido que enlaça-nos em seus convites de novas e dantescas aventuras. No cinema uma coisa que recentemente me seduziu foi esta bendita revolução 3D – e na espreita de trocar minha LCD por uma LED pintou a intragável questão de tê-la ou não tê-la. Juro de pé junto que, a despeito da minha cinefilia, nunca em toda minha vida tinha visto esse troço modernoso que dizem fazer saltar aos olhos ibagens, ibagens & mais ibagens.
 
Apesar de ser uma prática canastrona bastante antiga nos filmes de monstros da Hammer de 1940 parece que a coisarada toda evoluiu num sentido estético sem precedentes. Então desci do meu esnobe mausoléu de filmes antigos e adentrei bravamente em terreno totalmente desconhecido. Para averiguar cientificamente a potência do novo gênero decidi apelar para o primeiro título das manchetes, o pior dos piores (e quanto mais quente melhor baby). Uni-duni-tê o escolhido foi você: Justin Bieber 3D. Sim, sim, sim. Para que eu pudesse, de peito aberto, julgar a qualidade da novíssima estrutura não poderia de jeito nem maneira ser afetado pela grandiosidade da cinematografia antiga. Era necessário esquecer a tríade composta por roteiro, personagens e direção. Escolhi, portanto, o mais baixo espécime possível dentre todos os horríveis títulos possíveis. Se o ilusionismo de Cameron fosse capaz de tornar Justin Bieber interessante eu certamente me renderia aos seus lampejos de genialidade tecnológica.

Vovó já dizia “se precisa fazer algo ruim, ao menos faça com estilo”. Então, munido do meu melhor Ray-Ban, camiseta Bad-Boy, Tic-Tac sabor laranja e fardinho de budweiser caminhei os corredores do shopping-center à procura do alvo perfeito. Não existe nada mais bad-ass que usar óculos de sol dentro de locais fechados. Levem isso para a vida e para os corações de vocês meninos e meninas. E cá estava eu no cinema, local sacro-religioso que meus pés não tocavam desde a criação do Napster. Estranhamente o lugar fedia a perfumes da giovanna-baby e talco para pés, gritos histéricos ecoavam como trovoadas de domingo. Confesso que para quem espera na fila do Emule enfrentar uma legião de garotas de 12 a 15 anos para conseguir meu tão sonhado ingresso tridimensional foi fichinha. Apesar de se tratar do mesmo papel amarelo com o número e nome da sala arrisquei aproximá-lo à ponta no nariz afastando-o aos poucos, paulatinamente desenvesgando os olhos. Uma baita perda de tempo, diga-se de passagem, pois se nunca consegui ver os malditos barcos ou bustos daqueles livros em 1990 e não era agora, em 2011 e com o astigmatismo piorado, que conseguiria. Então deixei de lado esta primeira pusilânime tentativa e parti feito raio para a câmara escura. Para minha surpresa ganho sem mais nem menos outro par de óculos – desta vez com a finalidade de possibilitar que as imagens ganhassem profundidade – de modo que nem pensei muito antes de colocá-los por cima dos anteriores, num episódio que julgo ser o mais “sou foda” de toda minha vida. Double ray-ban forever.

Começa a sessão. Os letreiros anunciam o título do filme e as meninas, excitadas que só elas, não se agüentavam e soltavam peidinhos constrangidos devido o esforço de tapar o riso metálico com as mãos. Não via tamanha euforia num documentário desde a estréia de “O Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl. E as semelhanças não param por ai: são duas histórias muitíssimo parecidas estas do Bieber e dos Nazis. Além de narrarem o nascimento de dois ícones em ascensão também agora, com o cantor mirim, os membros da tradição, família, igreja e propriedade e agentes da Ku Klux Klan- cansados de ver o vício do RAP dos subúrbios consumirem seus jovens e mulheres – investiram pesado em uma nova promessa que simbolizasse fidedignamente a direita branca. Justin surgiu como uma estrela nesta aurora ariana, um anjo loiro enviado por Deus para salvar a humanidade da black music de Shugarhill Gangs, Outkasts & Bar-Keys. E com uma frase similar à infame música do Wild Cherry disseram-lhe “play that funky music white boy”, dando inicio a um dos maiores nomes da música contemporânea. Se Hitler tinha seu bigode quadrático plágio de Charles Chaplin, Justin também adotou um cabelo digno do mitológico Chewbacca. Evidentemente aquilo é o mais próximo que um ser humano chegou da caracterização do personagem de Star Wars sem a utilização de cola quente e pelúcia. Podemos dizer que ele é 25% Chewbacca e provavelmente 38% judeu, dada a facilidade de ganhar dinheiro. Afirmo que fiquei encantado com esta nova descoberta.


A cena em que Bieber joga tridimensionalmente de lado seu cabelo num slow-motion cinético fio a fio, ocasião que mais parecia vir de propaganda da Garnier Frutis que da tela do cinema, impregnou no meu cérebro de forma violenta. E não sei se foram as buds ou as imagens alucinógenas do 3D, mas acabei desenvolvendo uma afixação por aqueles cachos chewbaccianos de modo que não demorou muito para que meu espírito se ajuntasse ao das jovens meninas num mesmo grito condescendente. Senti que em meu rosto eclodiam minúsculas espinhas, e atentei ao estranho fato de ter desenvolvido no transcorrer da exibição uma pequena calosidade na região dos mamilos, à maneira de limõezinhos. Sentia o estrogênio percorrendo minhas veias a todo vapor, estava kafkanianamente me transformando numa colegial. Enquanto fugia para casa de medo fui acometido por outro bizarro acontecimento: era só correr ou apertar o passo que minha visão era atravessada por infinitas fitas de luz branca como nas viagens mileniumfalconesticas à velocidade da luz. Por dias sonhei com Bieber, Chewbacca e incríveis aventuras musico-intergalácticas.

Hoje amo tanto o Justin que torço para que algum dia algum fã maníaco lhe dê um tiro bem na testa igual fizeram com John Lennon. No entanto não vamos encarar isso como uma atitude cruel de minha parte: não o quero morto. Não, não. Com o avanço da medicina e toda essa história de células-tronco ele provavelmente sobreviverá miraculosamente ao ferimento - afinal se trata dum garoto rico e importante, e para tipos assim o mundo sempre disponibiliza todo seu intelecto e afeição. Sim, todos serão gentis com ele neste terrível momento: cientistas, mulheres jovens, apresentadoras de televisão, párocos, jogadores de basquetebol e eu inclusive. Justin Bieber estará nas minhas orações mais sinceras, e sabem por quê? Porque o me interessa, meus caros, é justamente a conseqüência dessa sobrevida. Já viram caras que tomaram um tiro na testa e sobreviveram? É triste, muito triste. Sempre existem danos cerebrais de impossível restauração: às vezes não conseguem fechar um olho, movimentar uma perna, mas o mais comum mesmo é desenvolverem alguma deficiência de fala, sabem? Os médicos chamam isso de disartria, que ocorre devido à fraqueza ou falta de coordenação dos músculos envolvidos na operação da fala depois de um trauma cerebral.
Isso é terrível quando acontece com pessoas boas e entes queridos, mas imaginem agora um cara com esse cabelo obrigado a se comunicar com o mundo através das vocalizações arbitrárias "rrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnhhhh, raawwwaw awawaw". A puberdade viria e junto dela as inevitáveis barbas por fazer. Antes que vocês caçoem de minha conjectura lembrem-se que um problema similar transformou Tom Cruise de um singelo cientologista homossexual para um fiel cosplay de ZZ Top em “Nascido em 4 de Julio”. É necessário entender a grandiosidade disso, esta será a melhor transformação humana desde o “vamos morfar” dos Power-Rangers.

imagem ilustrativa de Bieber jogando baseball após o acidente

Sim, meus companheiros, pela primeira vez as pessoas normais como eu e você poderemos comemorar tamanha desgraça sem sermos taxados de amorais. Pois o mundo, oras! o mundo contemplará o surgimento dum novo espécime muito mais evoluído, perfeito e icônico que todos os homens que já pisaram neste solo de meu Deus. Se trata de um half hitler/half bieber/half chewbacca. Eu até... eu até beberia as lágrimas do Justin Bieber em seus momentos de conflito interno de tão feliz que ficaria com a notícia.

Hoje posso dizer que Justin Bieber 3D me fez acreditar num mundo melhor.

quinta-feira, 24 de março de 2011

MÚSICAS E FILMES PT. 1

O cinema só é a arte sensacional que é, devido ao fato de que consegue agregar elementos de todas as outras artes e levá-la ao espectador de um modo único, unindo aos aspectos visuais que fazem da sétima arte uma experiência única. Ao longo dos anos, sempre apreciei filmes que conseguiam fazer do cinema um algo a mais e por isso dedico este post para apresentar aos leitores, músicas, ou melhor, números musicais que fizeram com que eu sentisse que o cinema é muito mais que uma simples reprodução de cenas e movimentos de câmera e apresentações em telões. A música e o cinema unidos transformam dias, noites e momentos, e proporcionam aos amantes destas duas artes momentos inesquecíveis, eu separei alguns inesquecíveis para mim e espero que vocês gostem.


APENAS UMA VEZ


Não consegui encontrar a cena em si, mas música é tocada de forma tão formidável que a cena se torna um mero detalhe, devido a isso, a sensação é a mesma. Pena que o filme é tão pouco conhecido.


A PONTE DAS ARTES


Filme francês que infelizmente não foi lançado no circuito comercial brasileiro. Se aproveita da música Lamento Della Ninfa de Claudio Monteverdi e constrói um número musical simplesmente sensacional. Tive a oportunida de assistir a este filme ao lado de minha namorada e quando esta cena terminou tínhamos apenas uma certeza: havíamos acabado de presenciar uma cena simplesmentre magnânima, que veríamos várias outras vezes. Obrigado Douglas, um grande amigo que nos apresentou esta pérola.


UM VIOLINISTA NO TELHADO


O musical de Norman Jewison e um desfile de canções incríveis e marcantes, apresento a vocês então a minha favorita

JESUS CRISTO SUPERSTAR

 

Norman Jewison denova. Sua versão e interpretação da história de Jesus de Nazaré pode não ter gerado um filme tão grandioso como Um Violinista No Telhado, porém Gethsemane é um achado. Uma grande música com garnde interpretação.

A VIDA DE BRIAN

 

Uma grande comédia, um grande grupo, uma grande história e uma grande sátira. Depois de tudo isso o grupo inglês Monty Phyton nos brinda com um dos maiores finais da história do cinema. Se você ainda não viu o filme, este vídeo será totalmente spoiller, agora se você já viu, se divirta novamente com um dos meus números musicais favoritos; aliás e de quem ele não é um dos favoritos né?

terça-feira, 22 de março de 2011

UM OLHAR DO PARAÍSO


Fazia muito tempo que um filme não me proporcionava uma flutuação tão entre sentimentos tão antagônicos e em tão pouco tempo. Ao longo das poucos mais de 2 horas de duração de Um Olhar do Paraíso eu transitei entre alegria, tristeza, raiva, ânimo, excitação, discórdia, admiração, repulsa e acabei no desapontamento com um final simplesmente horrível. Um Olhar do Paraíso tem um bom elenco, um diretor que nem é tudo isso não, porém tem boas características, uma história que possui alguns elementos interessantes, e um monte, mais um monte mesmo de excessos de borrões e fantasias mal construídas e mal encaixadas, aproveitando uma fotografia maravilhosa e uma imaginação para elementos místicos do diretor Peter Jackson, que vão se arrastando, em meio a uma ou outra coisa aceitável, até desembocarem aonde tinha que desembocar, ou seja, em um filme bobo, vazio e que se tivesse seguido o caminho certo, poderia ter sido um filmaço.

O roteiro tem dois elementos interessantíssimos, que poderiam ter ajudado um pouco o filme se melhor explorados, sendo o primeiro a questão de até onde o desejo humano pode influenciar nas coisas e a segunda, é uma virada de um preconceito, já que quando as coisas apertam na família, a mãe foge e é o pai quem segura a barra, entretanto, este segundo me parece uma tendência atual, já encontrada de forma mais leve em Traídos Pelo Destino, filme do diretor Terry George e de forma bem poderosa em A Estrada do diretor John Hillcoat. Todavia, eu não vou dedicar mais palavras a estes temas, por um simples motivo: o filme não liga pra eles, mas os coloca de lado, reduzindo-os a frases banais que se alternam em crises existenciais e momentos auto-ajuda que não convencem nem criança.

A história então é simples: menina de 14 anos desaparece e o filme acompanha então duas odisseias: a do pai e da família de certo modo em descobrir o assassino, e a da menina assassinada, que se encontra em uma espécie de limbo, e acompanha (e em alguns momentos até interfere) nas ações de seus familiares e amigos.O filme tem tudo; psicopata com cara de bobão, brigas de família, misticismo, elementos religiosos cristãos e não-cristãos, cenas de terror, até a velha obsessão dos americanos por milharais e os perigos que eles escondem volta aqui, porém, falta uma ligação, falta um elo forte que ligue de forma consistente todos estes elementos. 

O roteiro é um buraco só. Ele até que começa bem, mas se perde no momento em que a menina morre e Peter Jackson começa a brincar de formar arco-íris. Se a fita focasse mais em lembranças e na tentativa de encontrar o assassino da filha por parte do pai da menina, por mais que se tornasse um mais do mesmo, facilmente seria um filme melhorzinho. Peter Jackson é um diretor que gosta de coisas grandes, exageradas e tem uma mão muito pesada, para uma história que de certo modo é leve. Existem cenas deste limbo onde a menina se encontra que parecem tiradas dos Teletubbies, outras que lembram muito aquele filme com o Robin Williams chamado Amor Além da Vida, outras ainda que me fizeram resgatar da memória um filme do Terry Gilliam chamado Contraponto e que por mais bonitas que sejam, soam deslocadas, exageradas e o pior desnecessárias, e que atendem apenas a esta obsessão megalomaníaca que Jackson tem pela fantasia e por coisas extraordinárias (no sentido absurdo da palavra mesmo). Como se já não bastasse, o final consegue piorar a coisa, deixando nítido o fato de que história mesmo nós tínhamos até a morte da menina, depois disso apenas devaneios e navegações voluptuosas e frívolas de Peter Jackson, ou seja, enrolação mesmo.

O elenco reflete o exagero de Jackson, principalmente Mark Wahlberg e Susan Sarandon. Rachel Weisz está perdida no papel, e em vários momentos não sabe o dom certo de sua ação. Stanley Tucci constrói um psicopata clássico e Saoirse Ronan usa e abusa de uma liberdade que Jackson não deveria ter lhe dado, já que o resultado foi uma atuação viciosa e que força o espectador o tempo todo, convencendo alguns, porém outros (como eu) não.

Em meio a este misto de religiosidade, acasos e epifanias, que alguém resolveu nomear de roteiro, salva-se apenas a boa atuação da menina Rose Mclver como a irmã da protagonista, uma ou outra cena bem construída (como a das páginas sendo viradas pela personagem de Mclver de um caderno em que o psicopata relata seus planos, enquanto o mesmo sobe as escadas em direção ao seu quarto invadido pela mesma personagem acima citada), e uma cenografia e fotografia, aliada aos efeitos especiais que criam cenas belíssimas, porém parnasianas e que servem apenas como contemplação e não como alicerce para a apreciação de um filme que pede para não ser apreciado.

Podia ter dado certo, já que possui elementos para tal, mas a presença de Jackson, desviou o filme para um dos poucos caminhos que o levariam a ruína, e o resultado não poderia ser outro, um filme chato, que gera no espectador diversas sensações, em alguns momentos boas, porém predominantemente ruins, e é isto o que levamos quando a fita termina, ratificado por um dos piores finais que eu vi nos últimos tempos. Com um livro como o de Tolkien e uma grana enorme daquelas não é muito difícil fazer O Senhor dos Anéis, ou seja, Jackson ainda está devendo muito, ainda mais quando o assunto é chegar ao nível em que alguns exagerados já o colocam.


(The Lovely Bones, 2009 de Peter Jackson)


NOTA: 3,5

segunda-feira, 21 de março de 2011

CRIATURAS


Imagine aquele dia pesado de trabalho, cheio de estresse em que você não vê a hora de chegar em casa e relaxar. Imagine aquele dia preguiçoso em que você apenas quer destrair sua mente com algo leve e sem quaqluer tipo de compromisso ou esforço, ou seja, entretenimento no mais elevado grau de distração. Imaginou? Para as duas ocasiões e para várias outras, vá até sua locadora e procure lá no fundo das prateleiras, provavelmente na parte de terror ou comédia, onde os filmes acumulam poeira e são exemplos do esquecimento cinematográfico ao longo dos anos e reviva Criaturas, garanto que não haverá o mínimo grau de arrependimento.

O filme é um representante clássico dos filmes de terror/fantasia/comédia que encheram os olhos da juventude e dos fãs de um cinema mais "B" e causam ainda hoje um sentimento nostálgico incomparável a cada vez que são revistos. Criaturas é uma mistura de Gremlins com Labirinto, elementos puros de Star Wars (os 3 primeiros), além de aspectos tirados dos clássicos super-sentais e tokusatsus japoneses, na linha de Jaspion, Changeman e tanto outros, que a simples lembrança nos faz agradecer termos passado por momentos tão incríveis ao longo de nossas vidas.

O grande trunfo de Criaturas é despertar no espectador (pelo menos em mim), essa sensação nostálgica e gostosa da época em que o cinema de entretenimento não era vulgar e nem cheio de tremeliques e "juveniedades" fúteis e ofensivas. Criaturas é leve, engraçado, gostoso de assistir e pede ao espectador apenas que o olhe e o aprecie naquilo que ele se pretende, ou seja, nada mais que uma boa e singela diversão.

Não estamos aqui diante de um grande filme. Criaturas tem efeitos especiais capengas, que hoje em dia beiram o ridículo, uma história clichê e bobinha e atuações e personagens sofríveis, porém tudo isso se esconde atrás de uma paixão e de uma sensação de felicidade de toda a equipe do filme em participar de tal projeto, que em alguns momentos você veste a camisa do filme e finge que estes grandes defeitos não existem, ou seja, tudo vira um grande momento de alegria e a coisa flui, de uma forma que poucos filmes conseguem, principalmente hoje em dia.

O aspecto "pérola" do filme só vai crescendo ao longo de seus curtos 85 minutos, no momento em que as criaturas vão aparecendo, os personagens vão caindo na aventura e as cenas vão se transformando em momentos inesquecíveis (a cena da criatura falando com um boneco do E.T. do filme de Spielberg antes de comê-lo é impagável). Todo este texto pode soar pouco "profissional" e muito mais emotivo, porém, em alguns momentos, alguns filmes conseguem criar sensações que superam a "marra" e o tecnicismo da coisa. Logicamente, que no final das contas Criaturas não é um grande filme, mas pelo para mim cumpre o seu papel muito bem e obrigado.

É claro, que quem cresceu se maravilhando com os efeitos de O Senhor dos Anéis, Transformers, Avatar e muitos outros, achará tudo isto aqui uma bobagem sem fim, agora se você é membro de uma certa turma aí que se sentava todas as tardes na frente da TV para assistir a extinta e saudosa Rede Manchete e acompanhar Jaspion e outros heróis japoneses dos anos 80, vibrava quando os Gremlins conseguiam comer após a meia-noite, tinha medo do poço do fedor eterno, torcia para o Cinema Em Casa repetir Alligator - O Jacaré Gigante pela milésima vez e ainda hoje adora filmes como História Sem Fim, A Lenda, Willow e tantos outros, pode atirar aqui sem medo, que Criaturas de 1986 representa de forma bem legal também o gênero, pena que ficou esquecido. O filme teve três continuações (se eu não me engano), que eu não vi (ainda, por que eu vou procurar), e para que as referências a uma época fantástica que não volta mais não fiquem por aqui, se você se encaixa na segunda categoria descrita acima, bom pra você, pois eu também estou nela e sigam-me os bons. 

A nota é única e exclussivamente pelo caráter mais "profissional" que necessariamente tem que haver aqui, já que se dependesse apenas do que o filme causou em  mim, ela seria bem maior.

(Critters, 1986 de Stephen Herik)



NOTA: 7,0

terça-feira, 15 de março de 2011

SE EU DECIDISSE O OSCAR, OS VENCEDORES SERIAM... PT. 2

Em 2004: O Senhor dos Aneis - O Retorno do Rei

Já que Cidade de Deus não foi indicado a melhor filme, nada mais justo e merecido que dar o prêmio à última parte de uma das melhores cinesséries de todos os tempos. O Senhor dos Aneis foi uma grande contribuição para o cinema no âmbito artístico e comercial. O filme conquistou a crítica e milhões de fãs mundo afora.

Em 2003: O Pianista

Junto com a Lista de Schindler, O Pianista é o filme definitivo sobre o Holocausto. É uma pena que a excentricidade da vida pessoal do diretor Roman Polanski sempre ofusque o trabalho genial que executa em seus filmes.

Em 2002: Moulin Rouge - Amor em Vermelho


Os musicais estavam mortos há quase vinte anos e esse foi o filme responsável pela retomada do gênero ao grande circuito comercial. O filme é memorável dos pontos de vista visual e sonoro. Não sei como a Academia preferiu premiar um filme tão menor como Uma Mente Brilhante.

Em 2001: Gladiador

Escolha acertada do Ridley Scott em usar tecnologia e todos os recursos audiovisuais disponíveis para contar de maneira instigante uma história épica. Ele conseguiu, ainda assim, ser verossímil. O prêmio de melhor filme foi merecido. O diretor também devia ter sido premiado, mas naquele ano a Academia resolveu premiar Steven Soderbergh pelo superestimado Traffic.

Em 2000: Matrix

Se é para escolher entre Beleza Americana e O Sexto Sentido, eu voto em Matrix. Desses filmes é realmente difícil apontar o melhor. Todos são muito ousados e trouxeram algo novo para a linguagem cinematográfica. Provavelmente Matrix é meu favorito por seu uma produção maior e ter exigido dos seus realizadores a transposição de mais desafios.

O TURISTA


A falta de tempo para o lazer é um negócio complicado de se controlar, o que faz com que assistir a filmes e outros entretenimentos tão importantes para a vida deste ser que vos escreve acabem que ficando em segundo plano, mesmo que com grande tristeza. Em consequência, cada vez mais eu tento filtrar os filmes que vejo, me atendo àqueles que acredito que vou gostar, ou ainda àqueles que possuam grande contribuição cinematográfica, seja esta técnica, linguística, intelectual ou até histórica, afinal, quando se tem tempo de sobra, vê-se de tudo, agora quando o tal do tempo fica escasso deve-se escolher um pouco melhor as coisas. O problema acontece quando aquilo que você tem 99% de certeza de que será um filmaço, acaba se mostrando um grande problema e um grande engano, irritando este espectador que poderia ter utiliza este tempo para assistir a um filme muito melhor. Depois deste pequeno desabafo, não preciso nem dizer, acredito eu, que O Turista se encaixa nesta triste e irritante categoria a pouco descrita.

São 103 minutos de uma bobagem e de uma infelicidade tão grande, que fica difícil entender de onde veio tanto incompetência; aspecto agravado quando analisamos ainda elenco e diretor. O filme é dirigido pelo alemão Florian Henckel von Donnersmarck que ficou famoso após dirigir um dos maiores filmes da década passada e por que não dizer um já clássico do cinema mundial, que atendia pelo nome de A Vida Dos Outros (aliás, eu mesmo elegi A Vida Dos Outros como o terceiro melhor filme da década passada). Agora, cuidado, já que nem parece o mesmo diretor. Toda a ousadia e destreza que encantaram cinéfilos ao redor do mundo parecem ter desaparecido como num passe de mágica e a explicação é simples: adequação ao mercado hollywoodiano. Falta de personalidade fazem com que alguns diretores saiam de seus países e usurpem a identidade de outro lugar como que por osmose, o que nos leva a pensar que A Vida Dos Outros foi um acidente, ou O Turista teria sido um acidente? Sinceramente torço pela segunda opção e que Florian Henckel então volte correndo para a Alemanha por que a água de lá faz um bem descomunal a ele, que me parece ter talento, mas errou a mão. A verdade é que fica uma dúvida absurda na cabeça do espectador: seria Florian Henckel um grande diretor que errou em sua primeira empreitada em Hollywood ou um diretor sem personalidade que achou uma obra-prima? A resposta virá apenas nos próximos filmes do diretor, não tem outro jeito.

O roteiro que tinha a intenção de construir um suspense de aventura com toques de ação e perseguição policial, cheio de intrigas, rápidos movimentos e reviravoltas, e que no final das contas não consegue fazer bem nenhum destes aspectos e se mostra piegas, sem sal, forçado, ingênuo, e cheio, mais muito cheio de buracos, fazendo com que em alguns momentos as soluções se mostrem simplesmente impossíveis e sem nexo, já que o roteiro não havia criado a menor possibilidade de tal acontecimento. O Turista confunde reviravoltas inteligentes e intrigantes com situações infantis e impossíveis, que subestimam a inteligência do espectador e expõem o espectador a situações constrangedoras.

O elenco segue a linha de problemas. Angelina Jolie só serve de boneca de porcelana e tem um exagero de interpretação que leva o espectador a pensar que ela interpreta ou uma cafetina ou uma prostituta, nunca uma espiã da polícia. Agora, o duro de aceitar vem agora, já que Jolie nunca foi uma grande atriz. Johnny Depp nos presenteia com sua pior interpretação, pelo menos considerando o que eu vi do ator, que foi quase toda a sua filmografia. Eu nunca achei que veria um Depp tão inexpressivo e com tanta cara de idiota, chega a doer a interpretação dele.

Mas o Turista então não tem nada de bom? Tem, muito pouco, porém tem. O figurino é de bom gosto, assim como a direção de arte em geral. Paul Bettany se esforça e consegue criar uma boa interpretação em meio a este rio de pessimidades, e Veneza é sempre um cenário cativante e de beleza ímpar, aspecto que a equipe de fotografia consegue aproveitar muito bem, o problema é que os aspectos ruins são tão marcantes que ofuscam estas poucas qualidades, fazendo com que o espectador tenha que olhar de forma muito minuciosa para perceber suas poucas qualidades.

A verdade é que O Turista é mais ou menos o Nine deste ano, ou seja, grande elenco, super badalado, super esperado e que quando chega se transforma em uma bela decepção, mesmo assim, ainda acho que O Turista supera o musical de Rob Marshall que é um filme de médio para ruim, enquanto que este "suspense de aventura" de Florian Henckel é ruim, e ruim por inteiro, sem sequer flertar com o médio em qualquer parte de seu caminho. Uma decepção.

(The Tourist, 2010 de Florian Henckel von Donnersmarck)


NOTA: 3,5

quinta-feira, 10 de março de 2011

CARAVAGGIO


Geralmente, um filme que se propõe a tratar/relatar a vida de alguém, ou seja, uma obra biográfica, se espera desse filme uma reconstrução quase perfeita da vida desse alguém, se for de época, que retrate o mais parecido possível com a tal época, que tenha ricos detalhes da figura em que o filme repousa. E Caravaggio é um filme biográfico, trata sobre a vida do famoso artista Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 - 1610). No entanto, me parece quase impossível narrar a vida de alguém ou um acontecimento de algo, sem que quase não haja fontes nenhuma para tal feito, como calhou à Caravaggio. Contudo, o diretor Derek Jarman se arriscou e apostou alto.

Exposto que quase não há dados biográficos sobre o primeiro pintor moderno, além das obras e algumas histórias duvidosas do mesmo, é de se perguntar se a fita consegue realizar aquilo que se propõe, se de uma centelha consegue-se fazer uma fogueira. A resposta, por incrível que pareça, é sim. Jarman, apesar de tais dificuldades, entre outras como o baixo orçamento, reinstituiu a figura Caravaggio a partir desses poucos elementos e rumores que se tem, explorando-os no ultimo para abordar impetuosamente sua vida religiosa e homossexual, intrínsecos à sua obra de arte.

Michelangelo Caravaggio (Nigel Terry) pintava quadros religiosos, cenas bíblicas com um peculiar toque mundano (lembrando que suas obras estavam intimamente ligadas ao seu modo de vida). Mas a característica mais marcante, e o que o consagrou como o pai das obras renascentistas, certamente são seus jogos de luz bruscos que imprimia em sua pintura: geralmente, o fundo quase negro, e luz ressaltando expressões ou detalhes mais importantes na obra. E Jarman tomou cuidado especial para que, assim como as telas do pintor, o próprio filme ganhasse um ar à lá Caravaggio, luz e sombra quase o tempo todo, nos proporcionando uma sensação de contato com a própria obra de arte. Conforme Caravaggio pinta suas telas, Jarman vai inserindo uma história de sua vida pessoal ligada a tal obra, e assim relata seu triângulo amoroso com dois de seus modelos, dando ênfase o tempo inteiro a sua homossexualidade; também incrementa aqui e ali partes de sua vida promiscua com brigas de bares e até mesmo quando matou um dos amantes.

É explicitamente manifesto que o filme é mais uma própria interpretação do diretor do que construído em bases de dados concretos. Uma prova disso é quando o espectador está inserido num ambiente medieval e se depara com alguns trajes contemporâneos, um caminhão e um telefone. Mas certamente que é proposital por parte de Derek Jarman, que tem a clara intenção de transcender a figura de Caravaggio, mostrar a imortalidade de um gênio.

E apesar dessa boa construção, dessa certeira interpretação do diretor, e menciono aqui também as boas atuações, que ressalto a de Sean Bean, interpretando um dos amantes de Caravaggio, e das muitas 'sacadas' genias como a trilha sonora (recheada de Johann Sebastian Bach), a já mencionada fotografia e até mesmo certos detalhes misturando a época medieval com a contemporânea, em alguns momentos (mais especificamente da metade da película rumo ao fim), me parece que a fita tem problemas de andamento, às vezes ela se perde no roteiro, nos jogos de câmera, mudança de cenário sem propósito e custa um pouco para achar seu ritimo novamente (que se dá no fim). Mas no todo, ainda com esses problemas, é um bom filme, que não à toa, ganhou em 1996 o urso de Ouro no Festival de Berlim.


(Caravaggio -1986)


NOTA: 8,0

segunda-feira, 7 de março de 2011

IDI I SMOTRI (VÁ E VEJA)



Meu avô e eu costumávamos deitar por sobre o assoalho do estúdio de TV nos dias quentes. Era um homem alto, de nariz e sobrancelhas largas, sua pele queimada de sol lembrava a invasão moura do mundo. Muito pouco ou quase nada falava, tinha, contudo, a agradável característica de conversar com sorrisos e gentilezas. As costas nuas se prendiam entre os sulcos da madeira formando vermelhas e finas listras verticais na pele; e não era raro que o piso inchasse com os suores de modo que o beliscão constritor das tábuas se tornasse cada vez mais insuportável. Isso nos obrigava a mudar de posição inúmeras vezes no decorrer do dia, coisa que servia bem como desculpa para acamparmos o corpo num canto mais gelado do chão, ainda que existissem poucas partes da sala que desconhecessem o calor melado da gente. Entre uma reportagem e outra, um scatch e outro, um berrava “Ai!” e logo depois se punha a torcer nos dedos algum insecto da madeira - dentre o mais comum a tesourinha - que dandava a nos morder inoportunamente durante o mais profundo repouso. Da cozinha, por entre vapores de abobrinha e frituras, surgiam os resmungos da minha avó “isso não é coisa de gente” dizia girando uma colher-de-pau em alerta “essa coisa deitar no chão é pra cachorro, porcachones” e a gente se ria todo e soltava latidinhos só para provocá-la.

Foi numa dessas tardes quentes que descobri a maldade dos homens, ou a triste condição da maldade dos homens. Tínhamos acabado de assistir um jogaço onde o nosso Palmeiras havia humilhado o São Paulo - 3 a 1 no Morumbi - e mesmo que deitados agitávamos os braços tanto para comemorar quanto para fazer vento de refresco. A TV mostrava a saída dos portões quando um pobre coitado todo de verde calhou de seguir pelo lado errado da fila, misturando-se à torcida rival. Como num carrossel as gentes circularam o corpo estranho do torcedor couraçando-o feito um animal prestes a ser caçado. Seu peito explodia em respirações rápidas e podíamos ver nos seus olhos duas grandes garrafas rompidas de medo. Começaram as primeiras revoltas, as primeiras vociferações, e não se demorou muito até que estes tímidos gritos e palavras de ordem dessem lugar às manifestações físicas de ódio. Há sempre o golpe inaugura o suplício, que quebra toda aquela tensão e expectativa de morte, a estréia de gala de todas as perversões – e aqui não foi diferente. Um soco na nuca desencadeou o que viria a ser uma laboriosa projeção aritmética, dessas incapazes de se contar no ábaco: dois golpes ao pé do estômago, três pés no peito, vinte um braços/tentáculos de polvo golpeando um único corpo de homem, um único miserável corpo de homem. Meu avô tentava cobrir meus olhos, mas seus finos dedos tremiam e deixavam que as imagens lhe escapassem da censura. O linchamento é a obra prima do animal coletivo. Edmundo marcou dois.

Assistir “Idi I Smotri” me fez desabar neste mesmo assoalho de 15 anos passados. O termo, que em latim significa “vá e veja”, é o irônico convite que inicia o tenebrae livro do Apocalipse. A história se passa numa Bielorússia ocupada por nazistas e, apesar de fictícia, recria fidedignamente os horrores da guerra acontecidos na região. É a maior manifestação artística anti-militar que já tive notícia. No cinema (e na vida) poucas cenas são tão difíceis quanto o genocídio nas igrejas de Dirlewanger: episódio real em que mulheres e crianças foram enclausuradas em naves de madeira para serem queimadas vivas. Enquanto os lança-chamas começavam a incineração dos telhados um megafone anunciava zombeteiramente “Quem não tiver filhos...saia”. E as mães - que seriam perdoadas caso abandonassem suas crianças para morrer sozinhas no fogo – mais faziam o contrário, apertando-as forte contra o peito até que as primeiras labaredas finalmente às fizessem desmaiar de dor. Ao fundo belíssimas fraus e oficiais da SS mascavam patas de lagostas com a boca e os soldados rasos riam, catavam e dançavam arremessando coquetéis molotov. Aproximadamente 200 vilarejos foram queimados e 120 mil pessoas mortas durante as operações envolvendo o esquadrão Dirlewanger na Bielorússia entre 1942 e 1944.

A fita é tão feroz quanto as atuações contidas nela: Aleksey Kravchenko, que na época tinha não mais que 16 anos, faz uma pungente interpretação que transita da infância de brincadeiras e meninices até o pavor transformador dos sofrimentos agudos da guerra. Suas expressões faciais são tão marcantes e arrebatadoras que desafiam a própria dramaturgia; são licenciaturas do medo. Esta grandeza se deve muito ao diretor Elem Klimov, que no ímpeto de produzir uma obra chocante usou métodos pouco ortodoxos e até mesmo perigosos para sua confecção. Foram usadas balas de verdade em todas as cenas contidas na película com o objetivo de resgatar o terror existencial de seus atores. Uma em específico - quando o personagem de Kravchenko se esconde de uma saraivada de tiros por de trás de uma vaca - quase o matou também na não-ficção.

O que é verdadeiramente assustador nos crimes da segunda guerra não são as atrocidades em si, mas sim o sofrível fato de que toda esta absurda desumanidade fora acometida por pessoas comuns: estas que lotam cinemas,fazem pães caseiros, andam de bicicletas no parque, são auxiliares de escritório, contam histórias de ninar. Violência em sua comovente banalidade. A Alemanha, como uma multidão furiosa, uma torcida, um hematófilo monstro multicelular, era um único povo, um polvo de mil braços chacoalhando seus terríveis tentáculos. Não havia mais indivíduos em sua circunspeção, apenas um motivo, ou mais que isso, um mesmo motivo compartilhado por todos os elementos que se lhe faziam vida. Era um novo estado de consciência social coletiva. E não há nada mais perigoso que homens pensando de forma igual e conjunta. A multidão possui moral própria, não há culpa individual no crime realizado por inúmeras mãos. Tudo é permitido. Existe uma sincronia laboriosa nesta dança mortal que é o linchamento, que é o genocídio, como num balé de punhos e pedras que consome cada alma ali presente. Ainda me lembro do último golpe multifacetado: subiu no homem um relevo estranho e escuro na testa, algo que crescia esfericamente a cada juncada, de caráter similar a uma bexiga que se enche vertiginosamente com o gás veneno das câmaras nazistas. A multidão - que é um monstro, que é uma consciência, que é uma dramaturgia, que é coletiva - certamente continuaria, mas o corpo/motivo não pulsava mais. Houve momentos do filme que poderia jurar sentir o vulto dos dedos de meu avô tentando me sossegar os olhos.


Idi i Smotri (Elem Klimov, 1985)

NOTA: 10,0

ASSASSINATO EM PRIMEIRO GRAU


Há pouco tempo atrás, me lembro de ter visto uma camiseta em um aloja virtual, que trazia no peito os seguintes dizeres: " Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas, por isso, diga não as pessoas." Bom, mas a pergunta que fica então é: Que raios tem a frase da camiseta haver com o filme ao qual pretendo reter alguns minutos de sua atenção em leitura do comentário? Me lembrei da frase da camiseta, quando quase no final da fita, o personagem central da história Henry Young (interpretado por Kevin Bacon) diz perante ao júri a seguinte frase: " Eu fui a arma, mas não o assassino; eles foram o assassino." Referindo-se com o pronome eles, basicamente aos diretores e funcionários da penitenciária de segurança máxima Alcatraz.

Dito isto, revelarei a sinopse do filme, para adentrar o leitor na discussão iniciada com o parágrafo, e de imediato, já peço desculpas pela falta de linearidade do texto, mas é que as coisas fluíram de tal forma, e quando vi já tinha escrito desta maneira. Assassinato em Primeiro Grau, conta a história real de Henry Young, que aos 17 anos é mandado para a prisão de segurança máxima de Alcatraz por tentar roubar 5 dólares para alimentar a si e a irmã menor à qual tinha sob seus cuidados. Após um tempo, Henry tenta fugir, e sendo capturado, passa mais de três anos na solitária, sofrendo todo tipo de humilhação e maus tratos possíveis por parte da direção da prisão. Ao sair da solitária, Henry está totalmente perturbado e acaba assassinando outro preso (que havia fugido com ele 3 anos atrás, porém tinha colaborado com os diretores da prisão). O filme então é basicamente a relação de Henry e seu advogado e o seu julgamento.

Henry realmente cometeu o assassinato, porém o que o advogado quer demonstrar (advogado que atende pelo nome de James e é interpretado por Christian Slater), é que Henry só fez o que fez devido as coisas absurdas à qual foi submetido neste tipo de cárcere profundo e alienante. A discussão do filme é bem interessante, e nos remete ao primeiro parágrafo deste texto: Afinal, até onde as pessoas são assassinos e até onde elas são armas? As prisões realmente "reestruturam" as pessoas para viverem novamente em sociedade? Emitir opinião pessoal, seria abrir uma discussão que se alongaria léguas e poderia gerar muita polêmica, sendo assim, o que tiro disso tudo é o que o filme tem de melhor, que é fazer o telespectador pensar sobre tudo isso. Apesar de clichê e carregar a história de uma dramaticidade excessiva, Assassinato em Primeiro Grau gera inquietação e leva o espectador a refletir sobre as questões colocadas acima e muitas outras que cabe a cada um enxergá-las a sua própria maneira.

Tecnicamente o filme esbarra em vários obstáculos. É um pouco apelativo, tem dificuldades em perceber o que realmente é relevante e o que poderia ser cortado da história e tem alguns problemas de ritmo. A direção de Marc Rocco, por mais que use muito bem as luzes e sombras, é burocrática demais e se contenta a enquadrar sempre ou os trejeitos caricatos de Kevin Bacon, que muitas vezes se mostram exagerados ou a atuação simpática, porém leve e desmotivada de Slater, sendo que outros atores mais fortes como Gary Oldman no papel do impiedoso assistente do diretor de Alcatraz poderiam ser melhor aproveitados. Como pontos positivos, destaque para uma bela trilha sonora e um bom trabalho de maquiagem.

O roteiro é bem valoroso, pois por mais que contenha alguns furos e excessos, constrói bem a situação e possui um rumo bem definido, construindo seu caminho de forma firme e precisa. No final de tudo, percebemos que a real intenção da fita não é a libertação de um preso, mas uma vitória moral, que supera corrupções e tragédias, quase que em uma batalha do bem contra mal, fato que fica muito claro na última cena da fita.

Assassinato em Primeiro Grau não tem força para ser um clássico e nem um grande apelo popular para se tornar  cult, porém é um filme que consegue se servir de grandes doses de emoção e tocar o espectador em seu momento mais sentimental, sem perder a inteligência e a capacidade de levar o espectador a uma reflexão e a uma inquietação. Alcatraz talvez seja a segunda prisão mais famosa da história da humanidade (perdendo apenas para a Bastilha francesa), e filmes sobre ela e suas várias nuances temos aos montes, mas isto não quer dizer que você deve ignorar este aqui, pelo contrário, assista-o e depois formule sua opinião sobre as questões colocadas ao longo deste texto, afinal ver novas questões ou rever antigas sempre é um bom exercício, ainda mais quando o filme lhe ajuda neste quesito.

(Murder In The First; 1995)


NOTA: 7,5

sábado, 5 de março de 2011

COMER, REZAR, AMAR


Ultimamente as coisas neste tipo de cinema tem tido um certo padrão: uma historiazinha fraca, acompanhada de atores clichês do gênero, com pequenas reviravoltas, e muita, mas muita frivolidade, associada às concepções sentimentais e intelectuais dos personagens, em outras palavras, o negócio desandou de vez no gênero da comédia romântica com toques de filme dramático, e apesar de Comer, Rezar, Amar tentar fugir um pouco disso, no final das contas a fita acaba se tornando mais clichê e chata do que qualquer um poderia imaginar.

O filme segue a empreitada de Liz Gilbert e todas as sua gafes e situações clássicas de uma mulher sem rumo, sem personalidade e sem qualquer tipo de saída aos estereótipos colocados por uma sociedade machista e fútil, chegando ao ponto de o próprio filme admitir isso na cena em que um amigo de Liz que diz que quando ela namora um homem se parece com ele, depois troca e se parece com o outro e assim sucessivamente; causando-nos a impressão de que o filme faria uma crítica a esta postura, pensamento que se mostra uma doce ilusão do espectador, pois a personagem de Liz não só aceita a crítica como continua do mesmo jeito, basta ver que ela é uma italiana na Itália, uma indiana na índia e por aí vai. No final das contas, o próprio filme nos mostra, através de sua protagonista, que a futilidade deve guiar a vida das pessoas; o que nos leva a uma pergunta: Como é que pode alguém jogar isso na cara das pessoas de forma tão absurda e ele ainda gostarem tanto de dizer ao mundo que amam suas personalidades? Sim, o mundo é frívolo, e apenas em um mundo assim é que Comer, Rezar, Amar, pode atrair algum tipo de fã ou admirador.

O filme é tão estúpido e desprovido de inteligência, que ele não consegue sequer criar um diálogo interessante, chegando ao ápice, quando busca resumir cidades com uma palavra e se utiliza da palavra "sexo" para definir Roma. Isso apenas mostra uma falta de conhecimento e um reducionismo digno de idiotas para com toda a importância da capital italiana para a história e para o mundo, assim sendo, é simples a conclusão: o filme não possui nenhum intenção de avaliar e considerar a parte racional do ser humano, mas apenas a sentimental, o que faz com que o filme consegue a façanha de ser meloso e burro.

A personagem central, é a personificação da pessoa indecisa, que se apoia em outras pessoas para conseguir viver no mundo. Suas fraquezas e sentimentos, não condizem com o de pessoas que realmente estão em dúvida sobre o rumo de suas vidas, elas condizem com o de uma pessoa que não sabe como viver, em nenhum situação, e acaba, por necessidade, tendo que sugar a vida de alguma outra pessoa ou lugar para se caracterizar, e resumindo suas ações às três atitudes que se põem no título do filme. A verdade é que o roteiro é tão bobinho e fraquinho, que se espremer um pouco não cai uma gota de suco.

Como se não bastasse tudo isso, a personagem central é interpretada por Julia Roberts, que consegue ser mais insuportável que o habitual. Confesso que em alguns momentos do filme dá vontade de lhe quebrar os dentes, ou de segurar o rosto dela e dar um grito bem forte do tipo: " Vira gente sua mula". Sua interpretação segue a futilidade do filme, e suas caretas são simplesmente ridículas, passando uma imagem de mulher frágil e bobinha que venhamos e convenhamos parece coisa do século XVII e não condiz mais com a realidade, pelo menos não mais com a maioria. Você pode me perguntar então: Se não condiz tanto com a realidade, por que o livro no qual o filme é baseado vendeu tanto? E a resposta é simples. Nos livros as ideias se apresentam de forma mais concisa, e a interpretação vai de cada de pessoa. Ao contrário no filme, Julia Roberts força o espectador a não interpretar o filme, mas apenas vivenciá-lo do jeito que ela quer. Além disso, o livro é de auto-ajuda, um tipo de pseudo-literatura que só vende por que as pessoas se recusam cada dia mais a um auto-conhecimento e querem que os outros a conheçam por elas, o complicado é que nem isso o filme consegue fazer, o que nos leva à síntese de que no fundo, o livro pode até servir de auto-ajuda, mas o filme não quer ajudar ninguém, pois a única menagem que ele passa é de uma mulher que ao invés de enfrentar seus problemas, foge deles viajando, comendo, rezando, amando e nos fazendo em grandes partes do filme dormir.

Para não passar em branco no quesito técnico e para salvar alguma coisa no filme, temos uma fotografia interessante, que se aproveita bem dos vários cenários visitados pela personagem de Julia Roberts, e um trabalho de edição legalzinho, principalmente no início do filme, uma pena que depois esta mesma edição decida acompanhar o ritmo do filme e se transforme em um negócio lento e burocrático, além disso, as atuações masculinas de Billy Crudup, James Franco e Javier Bardem, apesar de comuns, não chegam a piorar o que já está ruim.

Comer, Rezar, Amar é um filme bobo, que subestima a inteligência do espectador e que não consegue nem mesmo reproduzir aspectos do clássico caráter de auto-ajuda deste tipo de filme e do tipo de livro ao qual o filme é baseado. Julia Roberts continua mostrando sua  mediocridade como atriz e que deve ficar neste tipo de filme mesmo, ao invés de tentar estragar filmes que poderiam ser bons sem sua presença. Mesmo entre o satirizado gênero da comédia romântica, este aqui consegue se destacar entre os piores, e como se não bastasse, tem a capacidade de durar 2 horas e 20 minutos, haja paciência.

(Eat, Pray, Love; 2010)


NOTA: 3,0

quarta-feira, 2 de março de 2011

SE EU DECIDISSE O OSCAR, OS VENCEDORES SERIAM... PT. 1

Em 2011: A Rede Social

Gosto de O Discurso do Rei, mas é um filme tão quadrado, certinho e por vezes desinteressante. A Rede Social, em contrapartida, é um filme ousado, ágil e hipnotizante. A toda hora há movimento, informação e muita energia no filme. Com muita ousadia e criatividade, o longa conseguiu capturar a essência daquilo que estava sendo discutido.

Em 2010: Avatar

Guerra ao Terror é uma crônica inteligente sobre a paranoia da guerra no cenário político mundial. Sobram méritos ao filme. Mas era ano de Avatar. O filme ainda vai ser lembrado como um marco na linguagem cinematográfica. A experiência visual provocada pela exibição do filme em 3D proporciona uma imersão nunca vista antes.

Em 2009: Quem Quer Ser um Milionário?

Era tempo de eleição do Obama e um filme feel good, que passa uma mensagem tão bacana de esperança, era exatamente o que o cinema precisava. Concordei com a consagração do filme.

Em 2008: Juno

Onde os Fracos Não Têm Vez é um épico, mas não é um filme para todos. É violento, não tem trilha sonora, não faltam cenas de tensão e o final fica em aberto. O longa dos irmãos Coen não é unanimidade e mesmo assim ganhou. Acho Juno um filme bem mais democrático. Trata-se de uma comédia inteligente que aborda com irreverência um assunto que estava tão batido, que é a gravidez na adolescência. Juno para mim não devia ser um filme e sim uma série de dez temporadas. Os personagens e os diálogos são tão bons e engraçados que os fãs jamais iriam enjoar.

Em 2007: Os Infiltrados

Não é só porque já estava mais do que na hora de finalmente consagrar o grande Martin Scorscese. É porque Os Infiltrados é um filme muito corajoso que a toda hora aposta no antagonismo e na incerteza. Scorscese vinha fazendo filmes muito “acadêmicos”. Decidiu então voltar às raízes e mostrou que ainda tem coragem de ousar.

Em 2006: Boa Noite e Boa Sorte

Crash é um filme cheio de defeitos que nem deveria ter sido indicado. Em contrapartida, Boa Noite e Boa Sorte é um filme intocável. É mal de estudante de jornalismo: não tem um que não tenha um carinho especial por esse filme. Mas é compreensível que o longa fique meio marginalizado ao grande público por ser em preto e branco, pelo estilo da narrativa ou ainda por tratar de um recorte histórico muito delicado da política e da sociedade americana.

Em 2005: Sideways - Entre Umas e Outras

Menina de Ouro é um filme sensacional com selo Clint Eastwood de qualidade. Mas Sideways é um filme com diálogos tão bem escritos e bem colocados que se torna delicioso de assistir. Os personagens são tão atrativos e sempre têm algo interessante para falar e para contribuir com a história (provavelmente por estarem sempre regados a vinho).

O JULGAMENTO DE PARIS


Para aqueles que estão enjoados ou não suportam aqueles filmes de comédia extremamente apelativos que subestimam a inteligência do espectador, à moda American Pie, eis que lhe escrevo sobre uma fita do gênero realmente agradável e leve, que possui piadas inteligentes e toques de humor negro. O filme fundamenta-se em fatos reais contando com um roteiro bem interessante: de uma competição em 1976, entre o clássico vinho francês e o recente vinho norte americano, surge dificultuosas e prazerosas tentativas de quebrar uma tradição no ramo.

Apesar do bom andamento do filme, existem alguns elementos nele que não nos convencem e nem se encaixam na história principal (que é realmente boa) do filme, além de uma questão técnica que me incomodou muito, mas citarei mais adiante. Um esnobe dono de uma enoteca em paris, Steven Spurrier (Alan Rickman), prepara um evento que irá eleger o melhor vinho, com um julgamento feito às cegas. Com a crescente indústrias de vinhos na Califórnia (EUA), Spurrier vai à localidade recolher os melhores vinhos, onde acaba conhecendo a vinícola Chateau Montelena, dirigida pelo pai Jim (Bill Pullman), e com a ajuda do filho Bo (Chris Pine), que tentam impedir a falência da mesma.

No meio dessa história toda, acontece um deslocado triângulo amoroso, envolvendo Bo, seu interessante amigo Gustavo Brambila (Freddy Rodriguez) e a estagiária Sam (Rachel Taylor). Esse componente do filme é realmente inútil para a história toda, e é justamente esse fato o responsável pelos clichês no filme. Outro fator que me incomodou muito, que citei logo acima, foi o figurino. Parece um pequeno detalhe, mas realmente tem sua importância na coisa toda. Ora, considerando-se que a história se passa na década de 70, o visual dos personagens está moderno demais. Até mesmo o herói Bo, que interpreta um hippie, está mais próximo de um playboy desleixado do que outra coisa.

Apesar dos pontos negativos existirem, não estragam o que realmente interessa na história e nem o divertimento do espectador. O filme é um conjunto de um elenco interessante, boas atuações (e chamo atenção especial para Alan Rickman, que, como sempre, está brilhante) e um roteiro excelente. Enfim, é um filme que merece ser assistido.

Bottle Shock (2008)


NOTA: 7,5