A falta de tempo para o lazer é um negócio complicado de se controlar, o que faz com que assistir a filmes e outros entretenimentos tão importantes para a vida deste ser que vos escreve acabem que ficando em segundo plano, mesmo que com grande tristeza. Em consequência, cada vez mais eu tento filtrar os filmes que vejo, me atendo àqueles que acredito que vou gostar, ou ainda àqueles que possuam grande contribuição cinematográfica, seja esta técnica, linguística, intelectual ou até histórica, afinal, quando se tem tempo de sobra, vê-se de tudo, agora quando o tal do tempo fica escasso deve-se escolher um pouco melhor as coisas. O problema acontece quando aquilo que você tem 99% de certeza de que será um filmaço, acaba se mostrando um grande problema e um grande engano, irritando este espectador que poderia ter utiliza este tempo para assistir a um filme muito melhor. Depois deste pequeno desabafo, não preciso nem dizer, acredito eu, que O Turista se encaixa nesta triste e irritante categoria a pouco descrita.
São 103 minutos de uma bobagem e de uma infelicidade tão grande, que fica difícil entender de onde veio tanto incompetência; aspecto agravado quando analisamos ainda elenco e diretor. O filme é dirigido pelo alemão Florian Henckel von Donnersmarck que ficou famoso após dirigir um dos maiores filmes da década passada e por que não dizer um já clássico do cinema mundial, que atendia pelo nome de A Vida Dos Outros (aliás, eu mesmo elegi A Vida Dos Outros como o terceiro melhor filme da década passada). Agora, cuidado, já que nem parece o mesmo diretor. Toda a ousadia e destreza que encantaram cinéfilos ao redor do mundo parecem ter desaparecido como num passe de mágica e a explicação é simples: adequação ao mercado hollywoodiano. Falta de personalidade fazem com que alguns diretores saiam de seus países e usurpem a identidade de outro lugar como que por osmose, o que nos leva a pensar que A Vida Dos Outros foi um acidente, ou O Turista teria sido um acidente? Sinceramente torço pela segunda opção e que Florian Henckel então volte correndo para a Alemanha por que a água de lá faz um bem descomunal a ele, que me parece ter talento, mas errou a mão. A verdade é que fica uma dúvida absurda na cabeça do espectador: seria Florian Henckel um grande diretor que errou em sua primeira empreitada em Hollywood ou um diretor sem personalidade que achou uma obra-prima? A resposta virá apenas nos próximos filmes do diretor, não tem outro jeito.
O roteiro que tinha a intenção de construir um suspense de aventura com toques de ação e perseguição policial, cheio de intrigas, rápidos movimentos e reviravoltas, e que no final das contas não consegue fazer bem nenhum destes aspectos e se mostra piegas, sem sal, forçado, ingênuo, e cheio, mais muito cheio de buracos, fazendo com que em alguns momentos as soluções se mostrem simplesmente impossíveis e sem nexo, já que o roteiro não havia criado a menor possibilidade de tal acontecimento. O Turista confunde reviravoltas inteligentes e intrigantes com situações infantis e impossíveis, que subestimam a inteligência do espectador e expõem o espectador a situações constrangedoras.
O elenco segue a linha de problemas. Angelina Jolie só serve de boneca de porcelana e tem um exagero de interpretação que leva o espectador a pensar que ela interpreta ou uma cafetina ou uma prostituta, nunca uma espiã da polícia. Agora, o duro de aceitar vem agora, já que Jolie nunca foi uma grande atriz. Johnny Depp nos presenteia com sua pior interpretação, pelo menos considerando o que eu vi do ator, que foi quase toda a sua filmografia. Eu nunca achei que veria um Depp tão inexpressivo e com tanta cara de idiota, chega a doer a interpretação dele.
Mas o Turista então não tem nada de bom? Tem, muito pouco, porém tem. O figurino é de bom gosto, assim como a direção de arte em geral. Paul Bettany se esforça e consegue criar uma boa interpretação em meio a este rio de pessimidades, e Veneza é sempre um cenário cativante e de beleza ímpar, aspecto que a equipe de fotografia consegue aproveitar muito bem, o problema é que os aspectos ruins são tão marcantes que ofuscam estas poucas qualidades, fazendo com que o espectador tenha que olhar de forma muito minuciosa para perceber suas poucas qualidades.
A verdade é que O Turista é mais ou menos o Nine deste ano, ou seja, grande elenco, super badalado, super esperado e que quando chega se transforma em uma bela decepção, mesmo assim, ainda acho que O Turista supera o musical de Rob Marshall que é um filme de médio para ruim, enquanto que este "suspense de aventura" de Florian Henckel é ruim, e ruim por inteiro, sem sequer flertar com o médio em qualquer parte de seu caminho. Uma decepção.
(The Tourist, 2010 de Florian Henckel von Donnersmarck)
NOTA: 3,5
"O problema acontece quando aquilo que você tem 99% de certeza de que será um filmaço, acaba se mostrando um grande problema e um grande engano, irritando este espectador que poderia ter utiliza este tempo para assistir a um filme muito melhor. Depois deste pequeno desabafo, não preciso nem dizer, acredito eu, que O Turista se encaixa nesta triste e irritante categoria a pouco descrita".
ResponderExcluirNão sabia que você estava com grandes espectativas quando o vemos... Pelo contrário...
Primeiro: odeio a mania de fazer remakes, são poucos os que valem a pena. Com tanta tecnologia e tradição hollywoodiana, o Turista deveria ter superado a obra original. Fui com grandes espectativas. Também me decepcionei. Roteiro fraco, atuação fraca e direção fraca. Adivinhei o filme no meio, não me impressionei com o lance "policial-espião" proposto, acho que ri uma vez. Qual a classificação para esse tipo de filme? Tem comédia, drama, ação e agora "sem-sal-nem-açúcar". Globo de Ouro caiu no meu conceito ao indicar Jolie e Depp nas categorias de melhor atriz e ator.
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ResponderExcluirEu tinha espectativas antes das críticas negativas aparecerem; afinal tratava-se de um filme dirigido por Florian Henckel e com Johnny Depp, além do fato de terem dito que seria uma homenagem a Charada que é de longe um dos meus filmes favoritos. Mas aí as críticas negativas vieram e eu entrei no embalo, tanto que quando o vimos eu já não esperava muita coisa.
ResponderExcluirFilme beeem chatinho, mas com alguns bons momentos.
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