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quarta-feira, 30 de março de 2011

ECLIPSE TOTAL


O reconhecimento por parte de público e crítica como um dos maiores escritores de suspense de todos os tempos, transformou Stephen King em um mito, assim como várias de suas histórias como O Iluminado, Carrie - A Estranha, A Coisa e mais recentemente a saga de A Torre Negra, isso quando o assunto é livro. No quesito cinema, os contos e histórias de King já geraram vários filmes, e por incrível que pareça, seus contos mais dramáticos e introspectivos, normalmente geram obras mais interessantes, que os filmes baseados em contos de suspense, salvo algumas exceções. Filmes como Um Sonho De Liberdade, Conta Comigo e até mesmo À Espera De Um Milagre, conseguiram ótimos efeitos e possuem fãs por todas as partes. Eclipse Total, é baseado no livro Dolores Clairbone, de autoria de King e que eu não li, entretanto, assistindo ao filme, verificamos que se trata de uma história se encaixa no grupo das dramáticas.

A jornalista Selena (interpretada por Jennifer Jason Leigh), ao saber que a mãe se encontra sob acusação de assassinato, retorna para reencontrá-la após vários anos de distância, efeito da não explicada morte de seu pai. Unidas novamente e sob vários problemas, as duas começam a relembrar a dura vida e os tristes momentos que passaram juntas. O filme é uma descida extremamente íngreme ao coração e aos pensamentos destas duas personagens. A mãe, cujo nome dá título ao livro é interpretada por Kathy Bates (que já atuou em outro filme baseado em uma obra de Stephen King, no caso Louca Obsessão, e que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz), que é uma atriz super espaçosa e que ocupa a tela com muita força e maestria, todavia, para minha grande surpresa, uma atriz limitada como Jason Leigh consegue acompanhar o ritmo, e por mais que percebamos seu enorme esforço para chegar a este resultado, ele é muito satisfatório.

O roteiro possui praticamente todos os elementos básicos de um texto kinguiano, ou seja, se passa em uma cidade pequena, afastada (uma ilha neste caso), que parece ter lei própria, e que esconde por detrás de uma máscara de sorrisos e futilidades, podridões e coisas vergonhosas. O estado do Maine está lá denovo, assim como aquele clima todo soturno e analítico que King coloca em suas produções, sejam elas dramáticas ou suspenses. O perfil dos personagens é bem traçado e delineado, revelando-se aos poucos para o espectador, que no início vê os personagens pelo estereótipo, mas depois vai verificando que nem tudo é o que parece, pelo contrário, não tem muito haver não.

A direção é de Taylor Hackford, um diretor até bem conhecido, principalmente por obras como A Força Do Destino, O Advogado Do Diabo e Ray. Hackford constrói um sólido trabalho, eleva o potencial de Jason Leigh ao extremo, deixa Kathy Bates à vontade sem deixar esse caráter espaçoso da mesma se transformar em exagero, além de conseguir o feeling certo do filme. A fita toda é um exercício de nostalgia, que mistura elementos anamnéticos com um certo ar de esquizofrenia, misturando realidade com passado e que ignora totalmente a linearidade e qualquer elemento cronológico. Os personagens se utilizam do presente para reconstruir e descobrir os erros e movimentos do passado, e Hackford se utiliza disso muito bem, agora é nítido que falta ao diretor o carisma e a beleza de Darabont (para citar um diretor que gosta de adaptar histórias de Stephen King) com as imagens. King é um autor estético e que se preocupa com a beleza das coisas, e Hackford não se atenta muito a isso, além do fato de que o diretor explora pouco os conflitos mais voltados ao social, como a violência contra a mulher, a relação da acusada de assassinato com uma comunidade preconceituosa, entre outros aspectos que poderiam sser melhor aproveitados e que deixaria o filme com um ritmo mais interessante, mesmo que este não seja nem um pouco ruim.

Eclipse Total é um bom filme, e um bom trabalho de Hackford, mas fica aquele sensação de que se fosse Darabont ali, Eclipse Total poderia ter sido quase um novo Um Sonho De Liberdade. Com grandes diálogos, frases marcantes, boas atuações (Christopher Plummer está ótimo como o policial que acusa a personagem de Bates) e um trabalho de direção que mesmo não sendo brilhante é competente, Eclipse Total se torna outra boa adaptação de King para o cinema, e novamente no aspecto mais dramático de sua obra, por mais que ainda existam alguns grãozinhos de suspense no filme.

(Dolores Clairbone de Taylor Hackford, 1995)


NOTA: 8,0

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