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sábado, 5 de março de 2011

COMER, REZAR, AMAR


Ultimamente as coisas neste tipo de cinema tem tido um certo padrão: uma historiazinha fraca, acompanhada de atores clichês do gênero, com pequenas reviravoltas, e muita, mas muita frivolidade, associada às concepções sentimentais e intelectuais dos personagens, em outras palavras, o negócio desandou de vez no gênero da comédia romântica com toques de filme dramático, e apesar de Comer, Rezar, Amar tentar fugir um pouco disso, no final das contas a fita acaba se tornando mais clichê e chata do que qualquer um poderia imaginar.

O filme segue a empreitada de Liz Gilbert e todas as sua gafes e situações clássicas de uma mulher sem rumo, sem personalidade e sem qualquer tipo de saída aos estereótipos colocados por uma sociedade machista e fútil, chegando ao ponto de o próprio filme admitir isso na cena em que um amigo de Liz que diz que quando ela namora um homem se parece com ele, depois troca e se parece com o outro e assim sucessivamente; causando-nos a impressão de que o filme faria uma crítica a esta postura, pensamento que se mostra uma doce ilusão do espectador, pois a personagem de Liz não só aceita a crítica como continua do mesmo jeito, basta ver que ela é uma italiana na Itália, uma indiana na índia e por aí vai. No final das contas, o próprio filme nos mostra, através de sua protagonista, que a futilidade deve guiar a vida das pessoas; o que nos leva a uma pergunta: Como é que pode alguém jogar isso na cara das pessoas de forma tão absurda e ele ainda gostarem tanto de dizer ao mundo que amam suas personalidades? Sim, o mundo é frívolo, e apenas em um mundo assim é que Comer, Rezar, Amar, pode atrair algum tipo de fã ou admirador.

O filme é tão estúpido e desprovido de inteligência, que ele não consegue sequer criar um diálogo interessante, chegando ao ápice, quando busca resumir cidades com uma palavra e se utiliza da palavra "sexo" para definir Roma. Isso apenas mostra uma falta de conhecimento e um reducionismo digno de idiotas para com toda a importância da capital italiana para a história e para o mundo, assim sendo, é simples a conclusão: o filme não possui nenhum intenção de avaliar e considerar a parte racional do ser humano, mas apenas a sentimental, o que faz com que o filme consegue a façanha de ser meloso e burro.

A personagem central, é a personificação da pessoa indecisa, que se apoia em outras pessoas para conseguir viver no mundo. Suas fraquezas e sentimentos, não condizem com o de pessoas que realmente estão em dúvida sobre o rumo de suas vidas, elas condizem com o de uma pessoa que não sabe como viver, em nenhum situação, e acaba, por necessidade, tendo que sugar a vida de alguma outra pessoa ou lugar para se caracterizar, e resumindo suas ações às três atitudes que se põem no título do filme. A verdade é que o roteiro é tão bobinho e fraquinho, que se espremer um pouco não cai uma gota de suco.

Como se não bastasse tudo isso, a personagem central é interpretada por Julia Roberts, que consegue ser mais insuportável que o habitual. Confesso que em alguns momentos do filme dá vontade de lhe quebrar os dentes, ou de segurar o rosto dela e dar um grito bem forte do tipo: " Vira gente sua mula". Sua interpretação segue a futilidade do filme, e suas caretas são simplesmente ridículas, passando uma imagem de mulher frágil e bobinha que venhamos e convenhamos parece coisa do século XVII e não condiz mais com a realidade, pelo menos não mais com a maioria. Você pode me perguntar então: Se não condiz tanto com a realidade, por que o livro no qual o filme é baseado vendeu tanto? E a resposta é simples. Nos livros as ideias se apresentam de forma mais concisa, e a interpretação vai de cada de pessoa. Ao contrário no filme, Julia Roberts força o espectador a não interpretar o filme, mas apenas vivenciá-lo do jeito que ela quer. Além disso, o livro é de auto-ajuda, um tipo de pseudo-literatura que só vende por que as pessoas se recusam cada dia mais a um auto-conhecimento e querem que os outros a conheçam por elas, o complicado é que nem isso o filme consegue fazer, o que nos leva à síntese de que no fundo, o livro pode até servir de auto-ajuda, mas o filme não quer ajudar ninguém, pois a única menagem que ele passa é de uma mulher que ao invés de enfrentar seus problemas, foge deles viajando, comendo, rezando, amando e nos fazendo em grandes partes do filme dormir.

Para não passar em branco no quesito técnico e para salvar alguma coisa no filme, temos uma fotografia interessante, que se aproveita bem dos vários cenários visitados pela personagem de Julia Roberts, e um trabalho de edição legalzinho, principalmente no início do filme, uma pena que depois esta mesma edição decida acompanhar o ritmo do filme e se transforme em um negócio lento e burocrático, além disso, as atuações masculinas de Billy Crudup, James Franco e Javier Bardem, apesar de comuns, não chegam a piorar o que já está ruim.

Comer, Rezar, Amar é um filme bobo, que subestima a inteligência do espectador e que não consegue nem mesmo reproduzir aspectos do clássico caráter de auto-ajuda deste tipo de filme e do tipo de livro ao qual o filme é baseado. Julia Roberts continua mostrando sua  mediocridade como atriz e que deve ficar neste tipo de filme mesmo, ao invés de tentar estragar filmes que poderiam ser bons sem sua presença. Mesmo entre o satirizado gênero da comédia romântica, este aqui consegue se destacar entre os piores, e como se não bastasse, tem a capacidade de durar 2 horas e 20 minutos, haja paciência.

(Eat, Pray, Love; 2010)


NOTA: 3,0

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