1994. O que de importante aconteceu no mundo e que você se lembra? A morte de Ayrton Senna? A morte de Mussum de Os Trapalhões ou o tetra campeonato mundial de futebol da seleção brasileira? Enquanto o Brasil tinha seus acontecimentos, que não deixam de ser importantes, um certo país da chamada África Negra passava por um dos episódios mais cruéis e sanguinolentos da história da humanidade. Se Ruanda hoje é uma nação conhecida no mundo, é devido ao genocídio de Abril de 1994, onde a minoria tútsi foi dizimada, e em sua maioria a golpes de facão ou em situações simplesmente absurdas, e o pior, os assassinos eram a maioria presente nesta nação, uma etnia conhecida como hutu, em outras palavras, negros matando negros, ruandenses matando ruandenses.
Historicamente, um dos aspectos que sempre contribuiu com os diversos problemas na África foi a intolerância entre as etnias do próprio continente, e o genocídio de Ruanda é um grande exemplo disso. Tiros Em Ruanda retrata os acontecimentos de Abril de 1994 pelo olhar dos tútsis, através de uma Escola Técnica que é comandada por um padre e seu ajudante e que refugiam uma boa quantidade de membros desta etnia. Vale lembrar, que esta escola é o ponto de fixação dos soldados enviados pela ONU para manter a paz no país, devido a isto, existe proteção para os perseguidos.
O filme então, se passa quase todo neste ambiente tenso, dramático e cruel. As atrocidades e o ódio de uma etnia para com a outra, são temperados com doses culturais, danças e falas, modelos e condições, sempre se agrupando uma através da outra para criar o clima certo. As semelhanças com Hotel Ruanda são inevitáveis, mas este aqui consegue ser uma pouco mais cru e sincero, mesmo que aquele seja um filme melhor no conjunto. O diretor Michael Caton-Jones erra a mão em alguns momentos e parece que se perde em meio a tanta coisa para se dizer e se mostrar, e em tão pouco tempo. Algumas cenas são desnecessárias e o filme tende a um caráter apelativo e de comoção forçada que também não era preciso, principalmente no final. Todavia, existem dois elementos interessantes no filme, e no parágrafo abaixo falarei sobre eles.
O primeiro, é o aspecto sutil, porém malicioso que o diretor dá a questão religiosa. Não sabemos muito bem qual é a função ali, já que em alguns momentos o personagem principal, o padre Christopher (interpretado por John Hurt) mostra que a religião vem primeiro, em outros as preocupações do momento ultrapassam, mas fica essa coisa aberta, um pouco congestionante e que cria um mal estar danado. Se foi proposital, ponto para o diretor, senão, temos um problema sério aqui. O segundo, é a negligência da ONU, que teve a "capacidade" de retirar suas tropas (soldados belgas) da escola retratada no filme, deixando os tútsis refugiados ali à mercê da fúria e da crueldade hutu, e é aqui Caton-Jones acerta a mão. Tudo é bem construído , amarrado e delineado, levando o filme a tomar uma clara posição sobre o assunto. No final das contas, temos um ponto positivo para a fita, e uma dúvida aberta em nossa mente e que fica latejando o tempo todo, pelo manos na minha ficou.
É um bom filme, com elementos interessantes, e que trata de um episódio marcante e importante da história da humanidade. Se o elenco fosse um pouquinho melhor, e ao mesmo tempo, se o filme procurasse um caráter mais histórico-documental, ao invés de meros elementos dramático-narrativos, acredito que o resultado também seria mais interessante, mas a intenção foi legal, e o resultado tem bastante paixão envolvida. Vale a pena dar uma conferida, acrescentará algo aos seus conhecimentos e te despertará várias sensações; umas boas e outras ruins, porém todas válidas e interessantes.
(Shooting Dogs de Michael Caton-Jones, 2005)
NOTA: 7,0
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