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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A TROCA


Demorei um pouco mais de 2 anos para resolver encarar este drama sobre uma mãe que tem seu filho sequestrado e que se vê envolvida em uma trama policial, que se utiliza de sua tragédia para tentar amenizar as duras críticas que a corporação vem recebendo. Bom, em primeiro momento, quando lemos esta pequena sinopse acima, um pouco clichê, mas também instigante e com alguns toques originais, vem em nossa cabeça aqueles dramas exagerados, cheio de gritos, lágrimas e muito desespero, e A Troca segue bem este caminho, porém tem um diferencial gigantesco e que dá um toque todo especial a este filme, e este diferencial atende pelo nome de Clint Eastwood.

É impressionante a capacidade que este homem tem em transformar o mais do mesmo em algo diferente e cativante. No mesmo ano de Gran Torino, que já fazia este papel, A Troca vem para se utilizar dos clichês de um estilo difícil e que exige muito tanto do roteiro quanto da direção e dos atores, e aí estava o motivo pelo qual demorei 2 anos para ver o filme. Apesar de John Malkovich no elenco, a presença de Angelina Jolie no papel de uma protagonista que sempre me passou a imagem de uma personagem difícil não me atraiu nem um pouco. Entretanto, eu esqueci que era um filme de Eastwood, e que se existem poucos diretores que poderiam fazer Jolie atuar de verdade, um destes é nosso bom e velho amigo Clint.

Angelina Jolie entrega a Eastwood e a nós a melhor interpretação de sua carreira (tudo bem, eu admito, não era algo muito difícil de fazer), mas não apenas em curto tempo, mas em uma esfera macro em todos os sentidos. Ela conseguiu deixar para trás a maioria de suas caretas, de seus tiques e se livrou, pelo menos por uns instantes, de todo aquele ar de ser superior que ela ostenta em seus personagens, mesmo quando não tem nada a ver com o mesmo. O elenco secundário "carrega o piano" de forma precisa e John Malkovich é sempre uma presença agradável ( ou melhor, quase sempre, mas neste caso é sim).

A direção de Clint Eastwood é milimétrica, detalhista e super gentil, como se o diretor conduzisse o espectador pela mão, mostrando com rara atenção todas as minúcias e detalhes de um roteiro árduo, mas que se transforma em uma experiência super válida, devido a toda este carinho com o qual Eastwood trata a fita e o seu espectador. O roteiro é bem interessante, e apesar de se segurar em pilares um pouco clichês, consegue acrescentar alguns elementos no meio do contexto que o deixam um pouco diferente, com apenas a ressalva de que o final poderia ou ser totalmente aberto, ou totalmente fechado, já que ficou uma dúvida meio forçada e um pouquinho chata, pra dizer a verdade. Agora, verdade seja dita, é incrível o modo como o roteiro consegue mexer com nossas emoções, fazendo com que o espectador experimente sensações antagônicas como ódio e amor, raiva e alegria, esperança e derrota, transitando sobre um trilho que parece  uma conspiração cruel e absurda, o que o transforma em um argumento no mínimo cativante. Destaque também para o excelente trabalho de cenografia, que consegue reconstruir com muito sucesso os EUA do final da década de 20 e início dos anos 30, principalmente nos figurinos e na fotografia um pouco dura, porém bem encaixada.

A Troca pode até não ser o melhor filme de Eastwood, e realmente não é, já que Sobre Meninos e Lobos, Os Imperdoáveis, Menina de Ouro e principalmente Gran Torino, são levemente superiores a este drama, entretanto, Eastwood novamente mostra o que o amor pelo cinema pode produzir, afinal não é todo mundo que com pouco mais de 80 anos de idade consegue nos entregar dois filmes por ano, ainda mais dois filmes de altíssimo nível como normalmente ele faz. Vale muito a pena, afinal Clint Eatswood parece vinho, quanto mais velho melhor, e conferir o trabalho de gênio como ele tem sempre um gosto especial.


NOTA: 8,5

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com a critica. Eastwood é mesmo incrivel, e A Troca é outro grande filme dele.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Pois é, realmente enrolamos para ver esse filme, achei-o surpreendente pelos elementos descritos por você: de uma história aparentemente clichê e com Angelina no elenco não esperávamos um filme tão bom.

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