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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

RELIGULOUS



Antes de começar a ler este pequeno relato sobre Religulous, dê uma boa olhada no pôster do filme. Fez isso? Bom, se mesmo assim você não captou qual a real intenção do documentário, então recomendo que sua leitura pare por aqui, pois você dificilmente haverá qualquer assimilação com o conteúdo tanto da crítica e muito menos do filme; todavia, se você captou a ideia e se sentiu instigado a entender o real sentido de uma imagem tão cativante e ao mesmo tempo provocativa, seja bem-vindo para embarcar na viagem de Religulous com todo o veneno e audácia que o filme proporciona.

O documentário é "apresentado", por assim dizer, pelo apresentador de talk show estadunidense Bill Maher, que é provavelmente um dos ateus mais radicais e conhecidos do mundo todo e dirigido por Larry Charles, que dirigiu nada mais nada menos que os dois filmes de Sascha Baron Cohen, citando-os temos o ótimo Borat e o exagerado e famigerado Brüno. A combinação é exótica e proporciona um resultado também e exótico, arrebatador, polêmico, e que transita de momentos brilhantes e bem construídos para momentos complexos e por segundos ofensivos, mas sem perder em nenhum momento seu foco principal: as religiões e a fé são problemas grandiosos e se o mundo quiser prosseguir e alcançar sua plenitude, o ser humano deve se racionalizar e abandonar estas fantasias causadoras de violência e tantas outras maldades; justo algo que deveria proporcionar por essência, apenas o bem.

Dito isto, começamos a adentrar melhor nas nuances da obra. Maher não tem meio termo: toda religião e todo tipo de fé é ruim, e de certo modo deturpa o ser humano, premissa à qual eu concordo e muito, afinal assim como Maher também aceita, basta qualquer análise mais aprofundada de tudo o que já nos foi proporcionado pelos "religionismos" do mundo e concomitante a isso, uma formulação mais clara das funções religiosas e do papel exercido pela mesma na história contrapondo-as com o real papel que deveriam ter exercido. Todavia, acredito que em alguns momentos Maher escorrega e se utiliza de argumentos um pouco forçados e sem muito fundamento, o que acaba não prejudicando o resultado final, já que isto é minoria. 

Logicamente, que a tolerância de Maher se mostra maior que a dos religiosos, e mesmo com argumentos gritantes em alguns momentos, nos deparamos com um homem que está interessado em entender e questionar algo que os próprios envolvidos na questão não o fazem, ou seja, a grande sacada de Maher (seja ela proposital ou não) é mostrar ao espectador, quão grande pode ser a ignorância e a intolerância de pessoas envolvidas neste meio, chegando ao ponto de que as únicas questões colocadas aos religiosos veem de fora, e os colocam normalmente em situações embaraçosas, pois não sabem lhe dar com a capacidade do ser humano de pensar.

O humor negro e venenoso de Maher dá ao documentário um clima todo diferente, e o transforma em uma fita ao mesmo tempo leve e gostosa de assistir, agora devo advertir novamente, que Maher e Charles não poupam ninguém, ou seja, todas as grandes religiões do mundo são colocadas como alvo, assim como seus praticantes, e como todo bom alvo, recebem flechadas de todas as formas e de todos os lados, sendo, por sua vez, estas flechadas em alguns momentos perfeitamente encaixadas e em outros meio exageradas e por que não dizer desrespeitosas. Desrespeitosas?


Desrespeito não seria o fato de um documentário, que é no mínimo extremamente interessante não chegar ao circuito comercial brasileiro, limitando-se então a cinéfilos que passam horas na internet a buscar filmes mais alternativos? Qual seria o motivo para tal ação? O mesmo motivo que levou Agora de Alejandro Amenábar a não ser lançado também? O mesmo motivo que proibiu na década de 80 o filme Je Vous Salue, Marie do diretor francês Jean-Luc Godard e que criou um alvoroço no lançamento de A Última Tentação de Cristo de Martin Scorcese e mais recentemente no lançamento de Dogma do diretor Kevin Smith? Umas das grandes ilusões do brasileiro é a de que vivemos em um país democrático e laico, acreditando que tudo e todos são tratados da mesmo forma independente de religião e coisas assim; porém, qualquer pessoa que consiga um brilho de lucidez na análise de algumas práticas de nosso país consegue perceber que isto é uma bela mentira, talvez não tão grande quanto a que Maher analisa em seu documentário, contudo, a união das duas transforma o Brasil em um país falso e bem maquiado, já que poucos percebem isto. 

Talvez o filme pudesse ser um pouco mais leve, e trocar, de vez em quando, sua ironia e humor por uma visão mais séria, porém é apenas um detalhe, pois o documentário vai fundo na questão, o que o torna acessível a pouquíssimas pessoas, e fico extremamente feliz por ser uma delas, e ficaria mais feliz ainda se você leitor, também fosse, sem apologia nem nada, apenas pela inquietação e pela necessidade de não abaixar a cabeça para tudo, concordando ou não com a fita em questão.


NOTA: 9,0

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