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sábado, 26 de fevereiro de 2011

A LETRA QUE MATA


Fãs de cinema são seres complicados, pois possuem uma ideia de que devem assistir tudo o que aparece em sua frente, ainda mais quando se trata de seres que se metem a críticos, como este que vos fala. Todavia, esta mania, em alguns momentos faz com que você se depare com coisas interessantes, e que por mais que não sejam clássicos da sétima e nem filmes de qualidade indiscutível, são fitas com ideias interessantes e não totalmente descartáveis, e este é o caso de A Letra Que Mata.

Inicialmente, o filme parece uma mistura incompatível, já que é um suspense religioso; isso mesmo, o filme é recheado de temáticas cristãs, e é assumidamente religioso, porém é um suspense, com tudo o que o gênero tem direito, e inclua aí, perseguições, discussões acaloradas, assassinatos bizarros e a sangue-frio, crimes absurdos, trilha sonora estilo O Exorcista e por aí a fita se constrói, se utilizando dos clichês de um gênero muito interessante, para passar sua mensagem religiosa e particularmente cristã.

O problema deste tipo de filme, é que ele trabalha de forma meio amadora, e isto faz com que tenhamos elementos bem fraquinhos. As atuações não convencem muito, e esbarram em "dramalidades" desnecessárias, caretas malévolas, "chororôs" e desconstruções inviáveis e ruins. A direção dos irmãos Dawn´s (pessoas às quais eu não conheço trabalhos anteriores) é fraca, principalmente quando o assunto é o controle dos atores; já que quando o negócio é com a câmera, até dá pra se deixar levar, considerando-se o fato de algumas cenas serem até bem feitinhas e bem conduzidas, como os cortes de câmera da cena de perseguição que ocorre entre dois personagens dentro da igreja e por debaixo de seus bancos, porém tirando isso, o resto é coisa comum, é por que não dizer um pouco displicente. A trilha sonora é hiper clichê, e em alguns momentos deslocada. A mixagem de som e o próprio som em si, são gritantemente ruins, além da fotografia embaçada e que não aproveita a paisagem florestal e campal dos locais onde se passa o roteiro, e por falar neste último, temos aqui um argumento que esbarra em alguns clichês, mas que tem uma função clara, e que por mais que doa em alguns, consegue passar sua mensagem, mas fique tranquilo, o fato de você se incomodar um pouco com isso, não o transforma em um enviado de Satanás como acredita a vilã do filme, ou seria a mocinha do filme? Isso aí vai da interpretação de cada um, mas já vou lhe avisando, o filme é uma intenção de louvor e evangelização, que contém elementos cinematográficos mais comuns pelas entrelinhas, e interpretações mais enrustidas e detalhadas e por que não dizer conspiratórias, vai da capacidade de aceitação do argumento em cada espectador, ou seja, religiosos aceitarão o filme de uma maneira melhor que não-religiosos, e isto não é crítica e nem elogio, mas apenas características de espectadores que a fita pode produzir.

O filme gira em torno de uma pequena comunidade Batista no EUA, e seu novo pastor e esposa, que ao chegarem se deparam com uma fanática religiosa e seu filho alienado pelas concepções da mãe. A fanática Pat (em uma interpretação cheia de caretas da atriz Jackie Prucha) , dedica sua vida a igreja, e por isso se acha dona dela. Entretanto, suas concepções sua hiper redicais, se colocando contra todo o tipo de influência mais mundana, inclua aí, televisão, jovens mais desleixados, concepções mais abertas e coisas assim. Seu filho Elias, é marcado pela rigidez da mãe, enquanto que eu não preciso nem dizer, que o pastor e sua esposa, possuem uma mente mais aberta e se veem envolvidos em uma trama maquiavélica conduzida por Pat para aniquilá-los e eliminar a presença de Satã de sua igreja. 

Tendo em mente este eixo central, os aspectos de suspense se desenvolvem em meio a citações bíblicas e lições de moral baseadas na religiosidade. O que me parece é que os irmãos Dawn´s (que também escreveram o roteiro), tem a clara intenção de contrapor o religioso radical contra o religioso mais aberto, e o filme toma partido a favor deste segundo grupo, e o acaba mostrando como verdadeiros cristãos, enquanto estes radicais deturpariam o sentido de Deus e da igreja, em um movimento quase de o escravo se torna mestre, o que é perigosíssimo, já que são ambas mentalidades e que disputam o modo de conduzir pessoas.

Como não sou religioso, analisei o filme sem tomar partido, e devo admitir, que o roteiro te prende, e que mesmo as falhas técnicas não o desviam dele, mas quando alcançamos o final, que também é bem clichê, a sensação de apologia, no leva a pensar qual a diferença entre as duas correntes, talvez o fato de que uma mate e a outra não? Mas a mais radical não matava até precisar e a outra ainda não precisa, já que sua mentalidade se englobe ao mundo contemporâneo. A verdade, é que a discussão é interessante, e não me lembro de um filme que discuta isso entre estilos religiosos, já que normalmente é o religioso contra o não-religioso, ou ainda, entre religiões diferentes, agora a mesma tentando se auto-renovar e se adaptar ao mundo e mostrando isto em filme, pelo menos para mim é algo novo, e mesmo com o caráter apologético, tem seu valor. Como eu disse, não é genial e nem revolucionário, mas entretêm bem, mas precisa ser assistido por pessoas com uma mente mais aberta e livre de preconceitos, ou pelo menos, um pouco menos preconceituosa.



NOTA: 5,0

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