Devido ao título infeliz escolhido pela distribuidora brasileira e com Ben Stiller - um dos mestres do humor de mau gosto - como protagonista do filme, O Solteirão, à primeira vista, deve espantar espectadores com algum bom senso. Mas não se deixe enganar. Greenberg (título original do filme, que se refere ao sobrenome do personagem principal) é uma crônica inteligente sobre a manifestação do egoísmo no ser humano. Uma frase muito dita no filme é “pessoas machucadas machucam pessoas” (“hurt people hurt people” – no original). Essa premissa justifica toda a história do filme.
Trata-se do novo trabalho do ainda desconhecido, mas promissor, cineasta Noah Baumbach. Responsável pelo ótimo A Lula e a Baleia (que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original em 2006), o diretor traz um personagem fascinante. Em A Lula e a Baleia, Baumbach discutia o egoísmo contando a história de um casal que passava por um divórcio, deixando à deriva os filhos, que desenvolviam fobias sociais e desvios de caráter no desenrolar do processo de separação. Em Greenberg, esses princípios são discutidos por meio de um quarentão em crise de meia idade que está repensando a vida.
Roger Greenberg é um homem se vê aos quarenta trabalhando como carpinteiro até ser internado em uma clínica psiquiátrica. Quando liberado, ele decide passar umas semanas na mansão em Hollywood que pertence ao irmão, que foi passar as férias no Vietnã. Nesse período, o objetivo dele é se reconectar com antigos amigos e, como ele mesmo defende a toda hora: “não tentar fazer mais nada”.
Greenberg é extremamente egocêntrico e inconveniente. A maioria de suas falas são carregadas com tom de crítica e ele sempre se mostra indiferente ao que as pessoas falam, sem se preocupar com os sentimentos dos outros. Mas ele carrega um ar de melancolia e certo carisma que cativa as pessoas e as convencem a fazer o que ele quer. O personagem é uma criação original e inspirada. O fato de ele não saber dirigir e precisar a toda hora que as pessoas lhe deem carona, ter o hobby de mandar cartas de reclamação a empresas prestadoras de serviços com queixas absurdas e o desespero em impor seu gosto musical sobre os outros são apenas alguns dos trejeitos que o fazem tão verossímil. O que Greenberg não esperava era se apaixonar pela empregada do irmão, Florence (a revelação Greta Gertwig – aliás, o que falta de beleza à atriz, sobra em interpretação).
O principal atrativo do filme é o relacionamento destrutivo em que ele arrasta a pobre garota. Ela é exatamente o oposto do amado, e apesar de sempre estar sendo esnobada, se livra de qualquer orgulho e está sempre pronta para ajudar Greenberg. Cabe a ela despertar algum tipo de altruísmo no protagonista. Se ela de fato consegue, o filme sugere isso de uma maneira bem sutil. Greenberg não está muito preocupado com o que os outros pensam.
O Solteirão (Greenberg, EUA 2010)
NOTA: 7,5
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