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quinta-feira, 28 de abril de 2011

ATIVIDADE PARANORMAL


Clima criado. Após ouvir falar muito bem deste terror/suspense de toques sobrenaturais eu e minha namorada e companheira de filmes resolvemos encará-lo. Clima criado. Noite de sábado, já passava da meia-noite quando inserimos o disco no DVD e começava então o tão bem falado Atividade Paranormal. Com receio de nos assustarmos muito, tomamos a única precaução de não apagar as luzes da sala onde estávamos, entretanto o resto estava de acordo com os dizeres de um filme deste tipo: um clima soturno, ventos batendo na janela e somente duas pessoas dispostas a tomar bons sustos com um bom terror. Resultado desta brincadeira: uma grande decepção, e esta é com certeza a frase que melhor define Atividade Paranormal.

O roteiro nos conduz a acompanhar os dias de um casal que após verificar acontecimentos estranhos em sua casa, resolvem deixar uma câmera filmando-os o tempo todo, inclusive enquanto dormem para tentar captar o que estava acontecendo. Desenvolve-se a partir daí, teses demonológicas, fantasmagóricas e se instala um histórico de perseguição à representante feminina do casal. O negócio pode até ser bem amarrado, entretanto acaba não funcionando muito bem. Os furos de roteiro, sérios problemas de andamento e um apelo repetitivo de cenas fazem de Atividade Paranormal um filme maçante e bem chatinho, e o pior, quase não assusta, e digo quase, para fazer justiça com os últimos 15 minutos, que dão um pequeno up ao filme, porém sem salvá-lo.

Filmado aos moldes A Bruxa de Blair, ou seja, num estilo caseiro para ampliar o ar de realidade, Atividade Paranormal não te insere no filme, você é sempre um espectador, o que no meu simples ponto de vista, gera um defeito ao filme, pois o susto nunca acontece com você , mas com os personagens, ou seja, o susto vem de forma indireta e devido a isso é mais fraco. Alguém pode então me perguntar: Mas Pablo, todo filme de terror os sustos não são nos personagens? E a resposta é não. Os bons filmes de terror usam os personagens como meio para chegar ao espectador, enquanto que Atividade Paranormal, o espectador não se vê nessa posição, por que não há interação, tudo acontece de forma distante, e os personagens acabam como meio e fim do susto, em um movimento que se mostra falho. Prova disso, é o fato de que a cena mais assustadora do filme e praticamente a única assustadora é a cena final (olha o spoiler) quando a moça do casal possuída pelo suposto demônio se aproxima da câmera e sorri para o espectador, uma pequena interação, porém suficiente para ser melhor que o resto do filme.

Uma ideia comum, mal construída e que não me causou tensão alguma, levando-se ainda em consideração o fato de que o filme tem efeito a longo-prazo, com a clara intenção de fazer o espectador ter calafrios ao dormir, sensação que dura dez minutos e não prejudica mais o sono. Este estilo de filmagem, se bem feito dá muito certo, mas parece que ainda não pegaram muito o jeito da coisa. Eu não gosto de A Bruxa de Blair, não vi Cloverfield – O Monstro e este Atividade Paranormal me desapontou, com exceção do inovador italiano Cannibal Holocaust (eita filme maldito) e do ótimo filme espanhol [REC] (esse sim me deu medo) que são realmente impactantes, é nítido o fato de que o estilo ainda está em evolução e aprimoramento, mas infelizmente Atividade Paranormal não contribuiu muito para estes aspectos.

Como fã de terror, que sofre com a baixa qualidade atual do gênero, constatar mais um erro, depois de criar grandes expectativas é realmente algo muito ruim. Atividade Paranormal não tira o sono de ninguém, muito pelo contrário, no fim das contas, confesso que dormi em várias partes, não deu pra resistir, foi mais forte do que eu e muito mais forte que o filme que me desapontava a cada minuto de sua duração.

(Paranormal Activity de Oren Peli, 2007)



NOTA: 3,0

segunda-feira, 25 de abril de 2011

PÂNICO 4



A série Pânico causou um verdadeiro frisson em meio aos fãs de filme de terror nos anos 90. A história do assassino mascarado, Ghostface, à solta em meio ao campus da pequena cidade Woodsboro rendeu três episódios muito divertidos com direito a muito suspense, sangue e adolescentes com os hormônios à flor da pele. Mas nos anos 2000, o sucesso dos filmes paródia da série Todo Mundo em Pânico ridicularizou a série do nosso querido esfaqueador e hoje fica quase impossível levar a sério os filmes originais. A fórmula simplesmente não funciona mais. O filme causa risadas em vez de medo. Ciente disso, o sagaz e experiente diretor Wes Craven, não se amedrontou e decidiu, com uma fina sutileza, tirar sarro da própria franquia. Deu certo. Muito certo. Pânico 4 é atual, divertido e muito engraçado. Na história, durante a comemoração do aniversário de 10 anos desde os primeiros ataques em Woodsboro, a sobrevivente Sidney Prescott volta à cidade para o lançamento de seu novo livro, mas tem que tentar achar o novo assassino à solta que está atrás da sobrinha dela. Aqui a proposta não é causar medo ou sustos ao espectador.

O filme investe em diálogos eficientes, uma história recheada de personagens interessantes e muita ação. As situações são sempre inconsistentes e nada verossímeis. Mas não é por isso que o filme deixa de encantar. Há uma discussão sobre a banalização e a crise mercadológica dos filmes de terror, que apenas causam repulsa com cenas nojentas em vez de causar espanto ou aflição pela violência e o excesso de sequências lançadas só pelo dinheiro das bilheterias. O filme também deixa uma crítica sobre o apego excessivo dos jovens pelas novas tecnologias, pelas redes sociais e pela necessidade de aparecer na mídia. Quando perguntam para uma adolescente por que ela quer tanto ficar famosa na internet, ela responde com tom de indignação: “o que você espera que eu faça? Entre para alguma faculdade, faça pós-graduação, arranje um emprego?”. 

O que mais espanta em Pânico 4 é que um filme supostamente tão sem proposta tenha um eixo crítico tão criativo. Outro ponto interessante é a participação massiva de atores de seriados da TV americana. Além de Courtney Cox Arquette, de Friends, que já estava na série original, participam também Ana Paquin, de True Blood; Adam Brody, de The O.C., Kristen Bell de Veronica Mars, Anthony Anderson, de Law and Order, Hayden Panatierre de Heroes e muitos outros.

Scream 4 (EUA, 2011)


NOTA: 7,5

SPLICE - A NOVA ESPÉCIE



Mais um filme filho das preocupações bioéticas e biogenéticas que tem gerado discussões e mais discussões em todo mundo nos últimos anos e que atende pelo nome de Splice – A Nova Espécie, lançado em 2009 e que chega direto em DVD ao Brasil neste início de 2011. Desde que a genética se tornou uma realidade gigantesca, filmes que tratam sobre esta temática ganharam investimento e muita divulgação, afinal discutir sobre estas coisas, além de ser de suma importância, infelizmente também virou moda. Todavia, deve-se admitir o seguinte: a maioria dos filmes que possuem este tipo de temática são interessantes, vide trabalhos como Gattaca, Não Me Abandone Jamais, A Ilha do Dr. Moreau e até mesmo as ficções de baixo orçamento dos anos 50, que cada qual a seu modo contribuíram para este cenário. Contudo, não acredito ser possível encaixar Splice entre os bons filmes frutos desta discussão que mesmo aparecendo desde sempre no cinema, ganhou contornos de realismo nos últimos 20 anos.

O filme dirigido por Vincenzo Natali (???) escorrega principalmente em uma indecisão de gênero incrível, variando entre a ficção, o suspense e o terror, intercalando entre estes toques de romance e dramas familiares que não definem Splice e o transforma em uma miscelânea no mínimo bem duvidosa. O diretor não consegue criar uma boa atmosfera e vai se apoiando em pilares destrutivos, o que torna o filme muito quebrado e com um ritmo desconexo.

Eu não tenho a intenção aqui de adentrar discussões sobre questões mais éticas, como o fato de o filme assumir a ideia de que sentimentos são compostos genéticos e nem no caráter pouquíssimo profissional e irresponsável dos personagens, e nem de comentar sobre aspectos especistas e técnicos sejam genéticos, bioéticos ou filosóficos que a questão envolve, pois acredito ser algo muito peculiar e que exigiria um nível de argumentação que pode não convir com os temas do blog e uma disponibilidade de tempo e de linhas muito maiores das que possuo no momento. Até porque, mesmo que de forma acanhada, o filme gera discussões deste tipo, e acredito que para a maioria dos espectadores de Splice esse “acanhamento” ainda será mais que suficiente. Assim sendo, me aterei mais ao filme em si, e deixarei esse lado acima citado mais para discussões pessoais.

Splice possui um paradoxo que percorre todo o filme, que é o fato de tentar simplificar e acabar complicando. Para tentar soar pouco técnico e alcançar públicos menos exigentes no quesito conhecimento científico-biológico-genético, Splice opta por poucas e curtas discussões mais elaboradas e que contenham um alto de teor de cientificidade, evitando muitos termos técnicos, assim como soluções exigentes, e o resultado disto é uma fita que explica muito pouco e que acaba por negar sua própria auto-suficiência, em outros termos, por tentar evitar o tecnicismo do tema, Splice joga um monte de coisas na tela e não explica quase nada, deixando lacunas no roteiro simplesmente impressionantes, como por exemplo, o motivo pelo qual os seres que os cientistas criam mudam de sexo, algo que é de vital importância para o filme, ou que raios de proteína eles buscam e várias outras coisas, que exigiriam movimentos mais calcados na parte científica.

Além disso, o filme tem cenas completamente desnecessárias, e o roteiro encaixa um apetite sexual à personagem da criatura que só colabora para a dualidade monstro/humano que é muito mal explicada, além do fato de tentar incrementar isso com a correspondência do apetite pelo personagem de Adrien Brody, gerando uma cena que beira a zoofilia e que é de um mau gosto descomunal.

O elenco é bom e apesar de se acomodar aos furos de roteiro em alguns momentos, consegue nos propiciar bons momentos, mesmo que seus personagens sofram com uma construção de roteiro péssima, no quesito personalidade das figuras dramáticas. A virada no final, até contribui para um clímax maior, porém deveria ter sido mais bem explicada, e os efeitos especiais conseguem se sair bem na criação da criatura Dren, do resto uma ficção-terror-suspense com muitos problemas e que escorregou naquilo que achava ser uma grande sacada, levando um belo tiro no pé. Splice poderia ter dado certo, mas infelizmente não deu, ou melhor, passou muito longe de dar certo.


(Splice de Vincenzo Natali, 2009)


 NOTA: 4,0

sexta-feira, 22 de abril de 2011

SUNSHINE - ALERTA SOLAR


O diretor inglês Danny Boyle passou de um dos favoritos entre os amantes do cinema independente, para se tornar um dos mais respeitados diretores da atualidade após o sucesso bombástico do famigerado Quem Quer Um Milionário? Ele angariou fãs, ganhou respeito e hoje tem seu nome estampado nas capas de seus filmes de forma destacada. Todavia, Boyle construiu uma carreira sólida antes do sucesso de seu já acima citado filme, que inclui filmes cults como Trainspotting e Cova Rasa. Para dizer bem a verdade, eu até gosto destes dois filmes de Boyle, mas nunca fui um fã do diretor devido ao seu estilo agressivo e que chegam a doer os olhos de tantas mudanças de câmera e da tantos cortes no trabalho de edição. Coisa boa ou coisa ruim, Boyle tem uma linha filmográfica e seu método consistente se repete em praticamente todoS os seus filmes, ora mais ora menos.

Sunshine – Alerta Solar representa o início do processo de ruptura de Boyle, de um cinema mais sujo e bruto, para algo mais poético, mesmo que ainda com um caráter sórdido. Boyle começa a deixar o seu lado mais independente para beijar as arestas mais hollywoodianas, unindo os elementos destas duas inferências para criar o seu modo de filmar atual, e que culminou no seu grande sucesso citado no primeiro parágrafo. Assim sendo, Sunshine carrega todos os elementos boyleanos e já começa a apontar para a tendência atual do diretor, o que me leva a duas conclusões: a primeira é que Danny Boyle é um diretor de estilo bem definido e que funciona, mesmo que você não admire, e a segunda é que cada vez mais Quem Quer Ser Um Milionário? se mostra como o filme mais comum e sem graça de Boyle. Tecnicamente Sunshine é inferior, agora no quesito característica de Boyle, Sunshine é muito mais agregado às concepções básicas de Boyle do que Quem Quer Um Milionário?

Contudo, minha intenção não é uma comparação entre filmes, deixando isto para os espectadores de Boyle, de tal forma que, dedico-me agora a falar sobre e apenas sobre Sunshine – Alerta Solar. Tomado em si, Sunshine é uma ficção científica que parte de uma ideia muito boa e que parece ignorada pelas pessoas. A Terra vai acabar, e isso acontecerá apenas quando o Sol se extinguir (não vou entrar em discussões pseudo-ambientalistas e nem em moralismos falsos, vamos trabalhar com fatos). Para efeito de conhecimento, toda estrela tem vida finita, e o Sol que é uma estrela também morrerá , levando com ele todo o sistema solar. 

Assim sendo, é enviada uma missão para implantar uma bomba de fissão no interior do sol antes de sua explosão, para criar outro sol quando o original explodir. Primeiro, eu não sou físico e não sei se esta possibilidade é viável, mas o modo como o roteiro é construído tem muita consistência, seja nisto ou em qualquer outro tipo de fenômeno físico-biológico-químico descrito; em resumo: minha ignorância sobre o tema real envolvido não me permite afirmar possibilidade no argumento, mas apenas validade, em outras palavras, não sei se o filme poderia ocorrer na vida real, mas que aquilo faz sentido, isso faz.

Sunshine transita entre vários gêneros e em sua maioria transita bem. Inicia como uma ficção de nave e astronauta comum, caminha para uma ficção mais dramática onde começam a ser discutidas questões éticas e humanas, passa por sequências de ação e suspense, e mais para o final possui até momentos que beiram o terror. Enquanto ficção e suspense, o filme vai muito bem, porém nas discussões mais éticas e humanas Boyle não tem o mesmo time e a coisa soa um pouco falsa. Na parte mais terror, temos o problema de que os acontecimentos não são muito bem explicados, porém é exatamente nesta parte que o trabalho de edição e direção se supera com imagens ótimas, além de cortes e movimentos sensacionais.

No final das contas, Sunshine é uma ficção que trabalha com uma ideia interessante, com belas imagens e que poderia ter focado melhor o seu problema evitando assim esta salada de gêneros. Fica a sensação de que a coisa poderia ter sido mais compacta gerando um resultado mais impactante. Mesmo assim, Danny Boyle faz um bom trabalho e nos apresenta um filme, que se não é um clássico, se torna pelo menos um entretenimento bem acessível, além de nos levar a pensar e a refletir sobre questões interessantes, mesmo que unido a isso venha uma enxurrada de outras coisas “menos importantes”.


(Sunshine de Danny Boyle, 2007)



NOTA: 7,0

domingo, 17 de abril de 2011

ESTRADA PARA PERDIÇÃO


Segundo filme do diretor Sam Mendes, que havia sido ovacionado merecidamente por seu filme de estréia Beleza Americana, Estrada Para Perdição é um drama de máfia, que se passa no início dos anos 30, em meio a Grande Depressão, e que tem resquícios e citações vagas ao famoso Al Capone e todos os seus aparatos, o que nos leva à sua sinopse.

Tom Hanks interpreta Michael Sullivan, um assassino da máfia, que tem sua família assassinada pelo filho de seu chefe, após seu próprio filho de 11 anos ter presenciado uma ação conjunta de Sullivan e do filho do chefe. A partir daí, segue-se uma briga interna entre os membros da máfia e Sullivan que pretende se vingar. Sam Mendes novamente analisa as relações familiares e como elas interferem em toda a vida externa, vamos dizer assim, das pessoas envolvidas nesta, focando fortemente desta vez na relação entre pais e filhos.

Deve-se firmar o seguinte: Estrada Para a Perdição tem todo o clima de filmes de máfia, tem aquele toque de noir que todo filme de máfia possui, porém ele não é um representante preciso de tal gênero, já que Mendes se utiliza deste fundo para guiar sua análise das relações paternais em suas várias instâncias. Existem pelos menos quatro relações deste tipo que são colocadas ao espectador por Mendes: a primeira é a do personagem de Hanks com seu filho mais novo e que acaba assassinado, a segunda é a do personagem de Hanks com o seu filho mais velho, a terceira é a do personagem de Paul Newman (o chefe da máfia) com seu filho, e a última é a do personagem de Newman com o personagem de Hanks.

Devido ao andamento do filme, a primeira relação citada, se mostra comum, e a terceira, se mostra uma clássica relação entre um pai sensato e um filho mesquinho, mimado e metido a futuro magnata. Estas duas relações, por mais que tenham funções no filme, não compõem a cereja no topo do bolo, esta característica fica então com as outras duas relações.

A segunda e a quarta relações, não só formam a cereja no topo do bolo, como permeiam e criam todo o corpo do filme de Mendes. A relação entre o personagem de Hanks e seu filho que sobrevive ao massacre da máfia é interessantíssima e mostra as angústias de um pai que de repente percebe que está falhando em sua posição e de um filho que é obrigado a lidar com algo que ele sempre quis, mas que tem medo, ou seja, o próprio pai. A afinidade entre os dois cresce a partir do momento em que eles percebem que somente juntos eles conseguirão superar todos os obstáculos. A partir disto, Mendes cria uma convivência e uma relação de confiança entre os dois muito singela, muito simples e muito sincera, aonde os dois vão, juntamente com o filme, mostrando que a máfia é um pano de fundo, e que o que realmente importa é tudo aquilo que os envolve enquanto seres que se amam, e que precisam um do outro. O preciosismo de Mendes é vital para o funcionamento de tal relação, já que se ela não funcionasse, o filme também não funcionaria.

A quarta relação tem um caráter todo especial, pois é a única que não possui laços de sangue, mas sim de consideração pura, além de unir dois dos maiores atores que já passaram pelo cinema estadunidense. Os diálogos de Hanks e Newman são sensacionais e só nos mostram o quão bons são estes dois homens quando interpretam. Esta relação é mais periférica e Mendes se utiliza dela muita mais no aspecto interno do que externo. É a partir desta relação que o filme vai explodindo, até chegar ao seu auge. Se a relação entre o personagem de Hanks e seu filho é sempre estável dentro de seu cerco, a de Hanks e Newman mostra o crescimento de uma tensão e caracteriza a explosão interna que ocorre neste grupo de mafiosos, culminando em uma cena emocionante perto do final, ou seja, Mendes destrói o grupo em um movimento explosivo, de dentro para fora.

Essas quatro relações transformam o roteiro do filme em algo complexo, porém muito seguro e gostoso de acompanhar. O roteiro do filme só não é mais interessante por possuir alguns furos, possuir alguns problemas de ritmo, já que fica muito lento em alguns momentos e muito rápido em outros e colocar alguns personagens chatos e com manias estúpidas como o caracterizado pelo inconstante Jude Law. O pessimismo de Mendes também se encontra no desenrolar do filme, e está bem representado por uma cenografia brilhante, um figurino preciso e uma deslumbrante fotografia em tons verde-escuros se escondendo atrás de um preto que recria toda uma época negra para o país e para os envolvidos na trama, aliados à sempre impactante visão de “pessimismo por atacado” que muitas vezes estragam os filmes de Mendes, deixando bem claro que Estrada Para Perdição não é um dos “estragados”.

Um filme duro, triste e emocionante, mostrando mais uma vez o talento de Mendes em analisar as relações familiares e atrelá-las ao mundo exterior, com seus modos e consequências. Não é superior ao clássico Beleza Americana, mas também não foi superado por nenhum posterior filme da carreira de Mendes, além do fato de que assistir Tom Hanks e Paul Newman contracenando juntos é uma oportunidade que não deve ser perdida.


(Road To Perdition de Sam Mendes, 2002)


NOTA: 7,5

sábado, 16 de abril de 2011

ENROLADOS



Depois de três anos e mais de 300 milhões de dólares investidos, a Disney finalmente concretizou a ambiciosa proposta de recontar a história da Rapunzel para as novas gerações em um filme 3D. O resultado é excelente. Enrolados é diversão garantida para todos os públicos. E vale a pena destacar não somente a parte visual, como os aspectos sonoros da animação. As canções do filme foram compostas por ninguém menos do que Allan Menken. O músico tem no currículo trilhas de grandes clássicos da Disney, como A Pequena Sereia e Alladin. Uma das canções de Enrolados ("I see the light") foi inclusive indicada ao Oscar esse ano. Na história (que dispensa muitas explicações), a jovem Rapunzel, vive aprisionada em uma torre na floresta por uma bruxa que usa os poderes mágicos dos longos cabelos da princesa raptada para manter a vida eterna. Um belo dia, ela conhece um jovem errante (futuro Príncipe Encantado) que resgata a princesa e a leva para um mundo de aventuras. A história não tem nada de muito inovador, mas ainda assim é contada com toques de um humor contemporâneo e interessante. Aliás, a falta de originalidade é o grande problema aqui. Enrolados bebe na fonte do imaginário de outros filmes recentes. Depois de cada piada, de cada gag, temos a impressão de que se trata de algo que já vimos antes em algum lugar. O estilo da narrativa, a princesa com personalidade inconstante e traços de bipolaridade e o personagem Cavalo remetem diretamente ao trio Shrek, Fiona e Burro. O personagem Camaleão lembra muito o Grilo do recente A Princesa e o Sapo. Enfim, não faltam referência a outras animações de sucesso. Talvez parte de uma estratégia produtora que queria garantir o sucesso comercial do filme desde o início. É por isso que as animações da Disney nunca alcançam o mesmo resultado da parceira Pixar, por exemplo. Falta arriscar, falta criatividade. Não basta apenas qualidade. Se a Disney não voltar a trazer histórias inovadoras, não vai ter o reconhecimento artístico como a agregada, que todo ano lança pelo menos uma grande obra de arte no mercado (vide Up, Wall-E e Ratatouille). Mas mesmo que mais do mesmo, Enrolados ainda vale a pena.


Enrolados (Tangled, EUA 2010)



NOTA: 7,5

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O MÁGICO



Voltei ao cinema pela segunda vez em menos de uma semana para conferir uma animação. Não ao mesmo cinema, e logicamente não ao mesmo filme. Desta vez, optei por me dirigir a um cinema mais alternativo, sem muito apelo comercial e que normalmente exibe filmes que condizem com esta característica. Assim sendo, fui conferir a nova animação de Sylvain Chomet e que conta com roteiro em forma de adaptação do lendário Jacques Tati, e que atende pelo nome de O Mágico.

Chomet já havia me cativado muito com o brilhante As Bicicletas de Belleville, e novamente me tocou profundamente com este seu novo trabalho. Ao contrário de Rio, que me causou raiva no cinema, O Mágico enche o espectador de sentimentos incríveis; o filme é simples, sensível, tocante e extremamente nostálgico, se utilizando de uma atmosfera afetuosa em todo o seu antro, e cada vez mais está perdida no mundo da animação, dominado por novas tecnologias e adereços. Não há nada aqui de atual, já que O Mágico é todo desenhado de maneira um pouco disforme e desconexa. Ruim isso não? Com certeza não. Os traços casam de forma precisa com a intenção do diretor e colorem de forma sensacional o argumento de Tati, isso sem contar nas belíssimas imagens da costa escocesa retratadas de forma estupenda.

O Mágico conta a história de um mágico meio decadente, meio periférico e sua odisséia por se firmar na profissão. Em um show em uma pequena vila no interior da Escócia, ele conhece uma menina que passa segui-lo e a viver com ele, em uma relação parecida com paternidade. O filme então perpassa a vida dos dois, e é neste ponto que Chomet insere seu grande trunfo: o filme é um dos melhores retratos que eu já vi do antagonismo entre fantasia e realidade. A fita se passa quase toda na relação entre a menina fantasiosa que quer se transformar em uma princesa dos contos de fada, e o mágico realista, que tem que trabalhar para bancar os sonhos da menina.

Extremamente nítido, Chomet constrói uma personagem que vai aos poucos se transformando literalmente em uma princesa clássica, com um vestido parecido com o da Branca de Neve, o sapato de Cinderela e lógico o Príncipe Encantado e deixando suas origens mais brejeiras. Enquanto isso, o Mágico trabalha para conseguir bancar tudo isso, já que a menina acredita que ele pode conseguir todas as coisas através de sua mágica. Essa dualidade magia-realidade é feita de uma forma tão sutil, mas ao mesmo tempo tão precisa que se constrói sem falas, apenas com gestos, movimentos e interjeições, no máximo com pequenos diálogos que nem traduzidos são, e que resultam em um final brilhante, simbólico e cheio de carisma.

Apesar de ser uma animação, O Mágico não é recomendado para crianças, já que sua temática é adulta, e por muitas vezes, há um clima meio depressivo que permeia o filme. Não que crianças não possam ter acesso a este tipo de sensação, mas a construção técnica do filme, quase sem diálogos e com uma forma de animação meio “atrasada” não deve agradar muito as crianças de hoje em dia, o que só mostra que o mundo de fantasia está realmente presente nas entranhas do mundo real, além do fato de que muitos adultos podem tomar um belo soco no rosto ao se identificar com um personagem que tenta manter um mundo que não existe, e que quase o leva à ruína.

Chomet acerta novamente, e cria uma animação cheia de brilho e de personagens interessantes. Defeitos? Talvez o fato de ser pouco acessível e de ser bem curto. Uma animação incrível, admirável, afinal da união de Chomet e Tati, dificilmente sairia algo que não se encaixasse em adjetivos deste tipo.


(L'Illusionniste de Sylvain Chomet, 2011)


NOTA: 9,0

domingo, 10 de abril de 2011

MEU ADORÁVEL VAGABUNDO

Os filmes de Frank Capra são acusados por muitos críticos e fãs de envelhecimento, ou seja, muitos dizem que os filmes de Capra já não funcionam mais, e que ostentam bandeiras e ideais que não condizem mais com os instrumentos sociais e principalmente com a realidade do ser humano. A verdade, é que eu concordo plenamente com isto. Assistir a um filme de Capra, é presenciar algo totalmente deslocado e eliminado da sociedade atual, entender e captar os ideais e pensamentos expressos por Capra em seus filmes, traz sensações e nuances quase não vistas mais nos dias de hoje; culpa de Capra? Não. Culpa da sociedade atual.

Frank Capra é um dos poucos diretores que tem um estilo tão marcante e uma visão de cinema tão precisa, que com 10 minutos de filme já temos certeza de se tratar de mais uma fita capriana, e já sabemos o que esperar no escopo geral, apesar de sempre haver surpresas nas pequenices que permeiam o cinema do diretor. Adorável Vagabundo, pega carona em todo o otimismo e preciosismo de um diretor que não envelheceu não, mas colocado de lado, por defender ideias que hoje em dia parecem cada vez mais piegas, bobas e ingênuas. Quais ideias são estas? Otimismo, humanidade, respeito, amizade, confiança, e várias outras coisas que não tem importância nenhuma para se viver no mundo atual, já que o importante mesmo é ter sempre um celular ultra-moderno, twittar (é assim que se escreve?) centenas de vezes por dia, e aconselhar seu amigo triste pela internet, porque ir até lá é chato. É por estes e outros zilhões de motivos , que assistir aos filmes de Capra, cheios de risos, alegrias, pulinhos e coisas assim, é uma experiência para poucos, já que nem todo mundo consegue perceber a real mensagem deste gênio. Eu sou um fã do diretor, e isto não se deve ao fato de comungar de todos os seus ideais rousseaunianos e leibnizianos, e nem de acreditar em toda a beleza que o diretor encontra nas coisas, eu respeito isto, mas, assim como Capra, sofro as consequências de ser alguém que ainda não se adequou a um mundo desprovido de humanidade, fazendo com que eu pelo menos consiga entender o que Capra pretende, mesmo não concordando.

Após minha pequena defesa do diretor, falo agora da obra Adorável Vagabundo em si. Jornalista demitida de um jornal, em momento de raiva, cria uma carta "quase-suicida" assinado por um fictício John Doe, que anunciava seu suícido em plena noite de Natal. A carta causa frenesi na população, e a jornalista recupera seu emprego, e juntamente com o dono do jornal, contrata um mendigo para se tornar John Doe, e interpretar enquanto a jornalista escreve cartas diárias de como o tal John Doe se sente triste por um mundo cheio de violência, brigas, e de como as pessoas deveriam se unir.O que não estava nos planos era que os próprios envolvidos acabassem se envolvendo com o ideal pregado.

Em resumo, que já viu algum filme de Capra, já encontra na pequena sinopse acima, todo o esquema e o método parabólico bem definido do cineasta. Adorável Vagabundo parte de uma ideia, a desconstrói totalmente com a intenção de mostrar o como ela tem problemas, e depois a constrói novamente, amarrando e consertando tudo aquilo que é necessário, para transformá-la na ideia central, que sempre (pelo menos dos filmes do diretor que eu vi), vem regadas de muito sentimentalismo, arrependimento, superação e um otimismo descomunal.

Capra guia os atores de forma magistral, e consegue incluí-los neste método difícil, porém de resultados avassaladores, basta ver a sensacional interpretação de Gary Cooper como o falso John Doe, e como ele vai crescendo no personagem, e de certo modo antropomorfizando de forma única o método indicado anteriormente. Coadjuvantes ótimos e diálogos precisos, bem encaixados e de uma beleza realmente grande e cativante, gerando ótimas sensações no espectador e indo muito além da baboseira estúpida dos atuais livros de auto-ajuda; aqui a mensagem é propagada de forma concisa e simples, do jeito que deve ser.

Adorável Vagabundo é um Capra do começo ao fim, e de tal modo, um filme interessante do começo ao fim. Mesmo não se tratando da melhor obra do diretor, Adorável Vagabundo cumpre certinho seu papel, cativando o espectador e mostrando mais uma vez que Capra não envelheceu, foi o mundo que "emburreceu", e não o compreende mais, ou talvez nunca o tenha compreendido.


(Meet John Doe de Fran Capra, 1941)


NOTA: 8,5

sexta-feira, 8 de abril de 2011

RIO


Sexta-feira, noite, clima quente e sem possibilidade de chuva, Londrina-PR. Eis que ao invés de me dirigir a minha aula na UEL, resolvo levar minha namorada para um sessão de cinema no shopping local. Chegando lá, eu e minha digníssima nos defrontamos com um dilema poucas vezes vistos em minha curta porém já virtuosa vida de cinéfilo, já que ao olharmos para os painéis eletrônicos da entrada do cinema nos deparamos com as seguintes possibilidades: Sem Limites, As Mães de Chico Xavier, Sucher Punch, Esposa de Mentirinha, Fúria Sobre Rodas e Rio. Utilizando-me da ironia que tem aparecido por aqui principalmente nos posts de meu amigo Ciro, me vi simplesmente maravilhado com tantas opções de "qualidade". Decidimos então conferir a mais nova animação de Carlos Saldanha que atende pelo nome que você leu no título deste texto, e para minha total surpresa, Rio não é um filme ruim, ele não é nem sequer um filme, pelo menos não na definição que eu conheço.

Em 1954, foi lançado um filme chamado A Fonte Dos Desejos, que foi acusado de se tratar de um filme propaganda, e que parecia possuir apenas a clara intenção de atrair turistas para a Itália, bem, quando for assistir a esta animação, leve isto contigo, pois você está diante do segundo exemplar desta espécie (sem trocadilhos com o filme, e pelo menos dos filmes que eu conheço).

Carlos Saldanha, dirige esta animação, e vinha com o crédito adquirido pelo ótimo trabalho na trilogia de A Era Do Gelo, entretanto, o escorregão foi tão grande, mas tão grande, que fica difícil perceber até onde a mão de Saldanha interferiu em A Era do Gelo, ou até onde a preciosidade da ideia fez com que a coisa se  desenvolvesse por si só, já que Saldanha mostra aqui defeitos e manias que não apareceram em nenhum momento na trilogia acima citada.

Rio é um filme manipulativo, saudosista (no mau sentido), ideológico, ingênuo e estúpido, isto para não listar outros adjetivos de caráter negativo. Os diálogos são desinteressantes, existem poucas cenas engraçadas ou que lampejem inteligência, e os bons momentos da fita, parecem ter sido uma cópia meio disfarçada de animações de sucesso como Madagascar, Procurando Nemo e Como Treinar o Seu Dragão, além de todo o aparato clichê envolvido, já que a partir do vigésimo já sabemos como tudo aquilo vai terminar; e como se não bastasse, o filme tem alguns números musicais simplesmente sofríveis.

Todavia, estes aspectos apenas transformariam Rio em uma animação que deslizou, entretanto, a coisa é muito pior, já que a animação de Saldanha é apologética e defensora do "Rio way of life". Tudo aqui gira em torno de praia, favela e carnaval, que afinal é "a maior festa do mundo" segundo o próprio filme. Saldanha constrói um filme para cariocas e americanos que acreditam que o Brasil é um grupo de favelados (no sentido preconceituoso da palavra, e não como o adjetivo que qualifica a pessoa que mora na favela, já que é neste sentido que o filme o coloca) que vai todos os dias à praia e que uma vez por ano para com sua vida para curtir o carnaval, ou seja, Rio é uma versão moderna do Zé Carioca. Como se não bastasse, o filme nitidamente quer fazer propaganda de turismo carioca, e não tenta esconder isso em nenhum momento, ou seja, não é um filme, é um instrumento comercial.

É uma pena pensar que Saldanha tinha boas tramas na mão, como a questão do tráfico de animais e da extinção de algumas espécies, e ele simplesmente coloca isto como um pano de fundo para divulgar o carnaval e as peraltices do povo carioca, que definitivamente não é o Brasil, e o Rio de Janeiro. Em outras palavras, Saldanha e sua animação demonstraram fazer parte de um grupo de brasileiros, que finge não conhecer os verdadeiros problemas deste país, e os coloca como meros detalhes das grandiosas futilidades que "alegram" o povo. Afinal, quem se importa com o tráfico de animais e a extinção das araras azuis quando se tem festa em Ipanema e Carnaval na Sapucaí?

Eu realmente fico muito triste quando assisto a uma animação ruim, pois se trata de um gênero que eu aprecio muito, e Saldanha pisou na bola, e isto aconteceu por uma ideia errada, uma ideia americanizada de que o Brasil é apenas praia, futebol e carnaval. De uma vez por todas, nem todo brasileiro gosta de samba, nem todo brasileiro gosta de carnaval, nem todo brasileiro gosta de futebol, nem todo brasileiro gosta de praia, nem todo brasileiro é fútil, nem todo brasileiro dá as costas aos problemas de seu país, nem todo brasileiro é burro e o mais importante: Brasil é uma coisa, Rio de Janeiro é outra. Se cinema é identificação e assimilação de concepções, este é o motivo pelo qual Rio me deixou até mesmo revoltado: eu moro no Brasil, mas não este que ele retrata; depois quando algum americano disser que o Brasil não passa de um monte de areia e grama para se deitar ou jogar futebol, e que o país só é bom 4 dias por ano, ninguém pode reclamar, já que no fundo muitos brasileiros acreditam nisso, e Saldanha parece ser um deles.

(Rio de Carlos Saldanha, 2011)



NOTA: 2,5

segunda-feira, 4 de abril de 2011

TIROS EM RUANDA


1994. O que de importante aconteceu no mundo e que você se lembra? A morte de Ayrton Senna? A morte de Mussum de Os Trapalhões ou o tetra campeonato mundial de futebol da seleção brasileira? Enquanto o Brasil tinha seus acontecimentos, que não deixam de ser importantes, um certo país da chamada África Negra passava por um dos episódios mais cruéis e sanguinolentos da história da humanidade. Se Ruanda hoje é uma nação conhecida no mundo, é devido ao genocídio de Abril de 1994, onde a minoria tútsi foi dizimada, e em sua maioria a golpes de facão ou em situações simplesmente absurdas, e o pior, os assassinos eram a maioria presente nesta nação, uma etnia conhecida como hutu, em outras palavras, negros matando negros, ruandenses matando ruandenses. 

Historicamente, um dos aspectos que sempre contribuiu com os diversos problemas na África foi a intolerância entre as etnias do próprio continente, e o genocídio de Ruanda é um grande exemplo disso. Tiros Em Ruanda retrata os acontecimentos de Abril de 1994 pelo olhar dos tútsis, através de uma Escola Técnica que é comandada por um padre e seu ajudante e que refugiam uma boa quantidade de membros desta etnia. Vale lembrar, que esta escola é o ponto de fixação dos soldados enviados pela ONU para manter a paz no país, devido a isto, existe proteção para os perseguidos.

O filme então, se passa quase todo neste ambiente tenso, dramático e cruel. As atrocidades e o ódio de uma etnia para com a outra, são temperados com doses culturais, danças e falas, modelos e condições, sempre se agrupando uma através da outra para criar o clima certo. As semelhanças com Hotel Ruanda são inevitáveis, mas este aqui consegue ser uma pouco mais cru e sincero, mesmo que aquele seja um filme melhor no conjunto. O diretor Michael Caton-Jones erra a mão em alguns momentos e parece que se perde em meio a tanta coisa para se dizer e se mostrar, e em tão pouco tempo. Algumas cenas são desnecessárias e o filme tende a um caráter apelativo e de comoção forçada que também não era preciso, principalmente no final. Todavia, existem dois elementos interessantes no filme, e no parágrafo abaixo falarei sobre eles.

O primeiro, é o aspecto sutil, porém malicioso que o diretor dá a questão religiosa. Não sabemos muito bem qual é a função ali, já que em alguns momentos o personagem principal, o padre Christopher (interpretado por John Hurt) mostra que a religião vem primeiro, em outros as preocupações do momento ultrapassam, mas fica essa coisa aberta, um pouco congestionante e que cria um mal estar danado. Se foi proposital, ponto para o diretor, senão, temos um problema sério aqui. O segundo, é a negligência da ONU, que teve a "capacidade" de retirar suas tropas (soldados belgas) da escola retratada no filme, deixando os tútsis refugiados ali à mercê da fúria e da crueldade hutu, e é aqui Caton-Jones acerta a mão. Tudo é bem construído , amarrado e delineado, levando o filme a tomar uma clara posição sobre o assunto. No final das contas, temos um ponto positivo para a fita, e uma dúvida aberta em nossa mente e que fica latejando o tempo todo, pelo manos na minha ficou.

É um bom filme, com elementos interessantes, e que trata de um episódio marcante e importante da história da humanidade. Se o elenco fosse um pouquinho melhor, e ao mesmo tempo, se o filme procurasse um caráter mais histórico-documental, ao invés de meros elementos dramático-narrativos, acredito que o resultado também seria mais interessante, mas a intenção foi legal, e o resultado tem bastante paixão envolvida. Vale a pena dar uma conferida, acrescentará algo aos seus conhecimentos e te despertará várias sensações; umas boas e outras ruins, porém todas válidas e interessantes. 


(Shooting Dogs de Michael Caton-Jones, 2005)


NOTA: 7,0