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segunda-feira, 25 de abril de 2011

SPLICE - A NOVA ESPÉCIE



Mais um filme filho das preocupações bioéticas e biogenéticas que tem gerado discussões e mais discussões em todo mundo nos últimos anos e que atende pelo nome de Splice – A Nova Espécie, lançado em 2009 e que chega direto em DVD ao Brasil neste início de 2011. Desde que a genética se tornou uma realidade gigantesca, filmes que tratam sobre esta temática ganharam investimento e muita divulgação, afinal discutir sobre estas coisas, além de ser de suma importância, infelizmente também virou moda. Todavia, deve-se admitir o seguinte: a maioria dos filmes que possuem este tipo de temática são interessantes, vide trabalhos como Gattaca, Não Me Abandone Jamais, A Ilha do Dr. Moreau e até mesmo as ficções de baixo orçamento dos anos 50, que cada qual a seu modo contribuíram para este cenário. Contudo, não acredito ser possível encaixar Splice entre os bons filmes frutos desta discussão que mesmo aparecendo desde sempre no cinema, ganhou contornos de realismo nos últimos 20 anos.

O filme dirigido por Vincenzo Natali (???) escorrega principalmente em uma indecisão de gênero incrível, variando entre a ficção, o suspense e o terror, intercalando entre estes toques de romance e dramas familiares que não definem Splice e o transforma em uma miscelânea no mínimo bem duvidosa. O diretor não consegue criar uma boa atmosfera e vai se apoiando em pilares destrutivos, o que torna o filme muito quebrado e com um ritmo desconexo.

Eu não tenho a intenção aqui de adentrar discussões sobre questões mais éticas, como o fato de o filme assumir a ideia de que sentimentos são compostos genéticos e nem no caráter pouquíssimo profissional e irresponsável dos personagens, e nem de comentar sobre aspectos especistas e técnicos sejam genéticos, bioéticos ou filosóficos que a questão envolve, pois acredito ser algo muito peculiar e que exigiria um nível de argumentação que pode não convir com os temas do blog e uma disponibilidade de tempo e de linhas muito maiores das que possuo no momento. Até porque, mesmo que de forma acanhada, o filme gera discussões deste tipo, e acredito que para a maioria dos espectadores de Splice esse “acanhamento” ainda será mais que suficiente. Assim sendo, me aterei mais ao filme em si, e deixarei esse lado acima citado mais para discussões pessoais.

Splice possui um paradoxo que percorre todo o filme, que é o fato de tentar simplificar e acabar complicando. Para tentar soar pouco técnico e alcançar públicos menos exigentes no quesito conhecimento científico-biológico-genético, Splice opta por poucas e curtas discussões mais elaboradas e que contenham um alto de teor de cientificidade, evitando muitos termos técnicos, assim como soluções exigentes, e o resultado disto é uma fita que explica muito pouco e que acaba por negar sua própria auto-suficiência, em outros termos, por tentar evitar o tecnicismo do tema, Splice joga um monte de coisas na tela e não explica quase nada, deixando lacunas no roteiro simplesmente impressionantes, como por exemplo, o motivo pelo qual os seres que os cientistas criam mudam de sexo, algo que é de vital importância para o filme, ou que raios de proteína eles buscam e várias outras coisas, que exigiriam movimentos mais calcados na parte científica.

Além disso, o filme tem cenas completamente desnecessárias, e o roteiro encaixa um apetite sexual à personagem da criatura que só colabora para a dualidade monstro/humano que é muito mal explicada, além do fato de tentar incrementar isso com a correspondência do apetite pelo personagem de Adrien Brody, gerando uma cena que beira a zoofilia e que é de um mau gosto descomunal.

O elenco é bom e apesar de se acomodar aos furos de roteiro em alguns momentos, consegue nos propiciar bons momentos, mesmo que seus personagens sofram com uma construção de roteiro péssima, no quesito personalidade das figuras dramáticas. A virada no final, até contribui para um clímax maior, porém deveria ter sido mais bem explicada, e os efeitos especiais conseguem se sair bem na criação da criatura Dren, do resto uma ficção-terror-suspense com muitos problemas e que escorregou naquilo que achava ser uma grande sacada, levando um belo tiro no pé. Splice poderia ter dado certo, mas infelizmente não deu, ou melhor, passou muito longe de dar certo.


(Splice de Vincenzo Natali, 2009)


 NOTA: 4,0

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