Criado pelo francês Charles Perrault no longínquo ano de 1697, o Gato de Botas sempre foi símbolo de lealdade e coragem. Contudo, não é este gato precisamente o assunto deste pequeno texto. Neste caso, o personagem central é aquele simpático mosqueteiro felino que apareceu pela primeira vez no segundo filme da franquia Shrek e que (seguindo a tendência da animação) ganhou um trabalho próprio. A Dreamworks não perdeu tempo e criou um ambiente bem favorável àquele que talvez seja seu mais carismático personagem.
O tom amarelado no melhor estilo Garfield está de volta, juntamente com seu figurino de tendências dumasianas com toques de Zorro e aquele sotaque de Don Juan que combina perfeitamente com um timbre de voz sedutor; não há como negar, o bichano é um charme só e possui um inigualável carisma. Tal caráter é extremamente explorado pelo filme, o que nos leva a afirmar claramente a seguinte premissa: se fosse um filme solo de um personagem diferente o resultado teria beirado o catastrófico.
O enredo da animação é pouco inspirado e se utiliza de outra fábula (João e o Pé de Feijão) para se formar. Falta inspiração para mudar um pouco o curso das coisas, o que torna o roteiro previsível demais. O vilão (que se “desvilaniza” depois) é um personagem incrivelmente chato. O ovo Humpty Dumpty (personagem também tirado de obras literárias infanto-juvenis e de mensagens folclóricas e culturais) é construído de tal forma que nos vemos diante de um dos mais intragáveis (no mau sentido) e desinteressantes personagens da animação recente.
Se o vilão e o roteiro fazem com que o filme derrape de forma muito forte, seu protagonista consegue segurar um pouco do outro lado da corda. Principalmente no início, ou seja, antes daquele ovo chato aparecer, o filme é uma boa piada atrás da outra, levando o espectador a momentos de puro riso. Quando foca no Gato o filme cresce, quando ele divide a tela com o ovo sua presença sofre uma ofuscação com a chatice de seu companheiro. Em suma, O Gato de Botas é um cabo de guerra disputado pelo carisma e a simpatia de seu protagonista contra a chatice do personagem Humpty Dumpty e a pobreza de roteiro. Para alegria, principalmente das crianças, o Gato vence mais uma, e conta com isso com uma sensacional trilha sonora e com coadjuvantes menores até interessantes como a gata Kitty Pata-Mansa e como um gato que só aparece de olhos arregalados e assustado com o que vê, soltando sempre um sonoro “oooohhhhh”.
Uma animação com grandes defeitos, mas que os supera calcados na força de seu protagonista. É óbvio que o filme poderia ter sido bem melhor, ainda mais por ter como protagonista um personagem tão carismático, todavia, O Gato de Botas cumpre o seu papel, tornando-se um bom entretenimento e um ótimo programa para crianças e para adultos que desejam relaxar e dar boas risadas.
(Puss In Boots de Chris Miller, EUA - 2011)
NOTA: 6,5
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