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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MEIA-NOITE EM PARIS


Tudo parecia caminhar rumo a uma fase assombrosa para o outrora gigante Woody Allen. O diretor acumulava fracassos e filmes de baixa qualidade, sendo estes admirados apenas por aqueles tocados por alguma nuance do mesmo, ou pela insistência em um ídolo do passado. Todavia, um dos grandes divertimentos do cinema é a capacidade que ele proporciona a diretores, atores e envolvidos na construção geral dos filmes de retornar ao auge, ou pelo menos de proporcionar aquela clássica “volta por cima”. Meia-Noite em Paris é a volta por cima de Allen.

A fita é leve, deslizante e muito redondinha, o que beira um elemento sublime em seus pontos mais apoteóticos. O roteiro de Allen é muito inspirado e se transforma no ponto alto do filme com uma originalidade e astúcia dignas das grandes obras do já consagrado diretor. Owen Wilson faz uma espécie de roteirista comercial que almeja se tornar um “escritor de verdade” e está em Paris de passagem com sua noiva interpretada por Rachel McAdams. Todo dia, ao soar da meia-noite, o personagem de Wilson se transporta para a Paris dos anos 20, onde encontrará célebres personalidades da época, além de um novo amor. Se a ideia em si já é original e interessante, imagine a mesma desenvolvida de forma concisa e cheia de mecanismos de admiração.

Allen se utiliza deste roteiro para realizar um questionamento sobre o descontentamento humano com o seu presente e a conseqüente admiração de um passado não-vivido. A proposta de Allen se mostra simples: a vida é insuficiente, e como o futuro é incerto, buscamos aquilo que nos falta, em um passado que admiramos. Tal elemento, segundo Allen, não é especificidade do homem do século XXI, mas de todos os homens, basta ver, que no filme, conhecemos homens dos anos 2000 que preferem os anos 20, pessoas dos anos 20 que preferem o final do século XIX e outros do final do século XIX que preferem a época da Renascença, em outras palavras, o problema do homem é a insuficiência de seu presente.

Concordando ou não com esta tese, é difícil não se maravilhar com um diálogo entre Hemingway e Fitzgerald, com a dica do personagem de Owen Wilson para o jovem Luís Buñuel na criação de um filme, com um eufórico Dalí ou com uma mesa de bar no final do século XIX onde se encontram juntos nada mais nada menos que Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Edgar Degas. Allen brinca com o tempo de uma forma impressionante até mesmo para seus não-fãs e consegue levar o espectador a todas as épocas de uma forma muito interessante, além de apresentar seus respectivos personagens de forma resumida (afinal estamos falando de um filme e não de um livro de história de Paris), porém muito cativante.

Entre seus defeitos, Meia-Noite em Paris peca um pouco na superficialidade das relações entre os personagens, possui uma trilha-sonora um pouco enjoativa e se esquece de alguns personagens ao longo de sua duração, sendo que estes poderiam acrescentar bastante à trama, casos do próprio Dalí de Adrien Brody ou do “pedante” Paul do sempre ótimo Michael Sheen. Owen Wilson empresta aqui uma grande atuação, muito acima do seu próprio talento nato e Kathy Bates enche a tela de graciosidade com sua ótima Gertrude Stein, para destacar apenas dois do elenco, que no geral está muito bem.

Os fãs de Allen estão vibrando com este filme, e não por acaso, já que este é o melhor trabalho do diretor em muitos anos, o que nos faz pensar na seguinte questão: Seria Woody Allen um ex-diretor em atividade que ainda possui lampejos esparsos de talento ou seria Woody Allen um gigante que passou por uma longa má fase? Bom, esta é uma pergunta que apenas os próximos filmes do diretor responderão, nos restando apenas esperar.


(Midnight in Paris de Woody Allen, EUA/Espanha - 2011)




NOTA: 8,5

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