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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO



O primeiro filme do cineasta italiano Antonioni em inglês, Blow up, tornou-se logo uma das referências principais ao se atribuir grandes títulos ao diretor. Apesar do estilo de Antonioni sempre compor seus filmes com sutis, porém profundas críticas à sociedade (burguesa, moderna, etc.), Blow up, apesar de tê-las, vai além, existe algo transcende à simples vivência no mundo como sociedade. Ora, Antonioni vai para um campo de relação percepção-superficialidade.

Explico: num mundo onde o tédio e a angústia, ambos proporcionados pelo dinheiro ou a trivial vida moderna (que no caso, se constitui de uma Londres anos 60, idade de ouro do famoso trio sexo, drogas e rock’n’roll, como é explicitamente abordado no filme, mas não como foco principal, apenas como o contexto básico), existe então um peculiar desespero por se livrar de tais estados, dessa existência, culminando ao homem a ter dificuldades com sua própria realidade, com a sua percepção daquele mundo real (e tedioso), levando-o assim a momentâneos estados de felicidade, mesmo que seja através de estados e situações duvidosas sobre a objetividade da realidade.

Como já se disse, apesar de Antonioni focar neste filme um especial tema sobre percepção e, por que não, estados espúrios ao homem contemporâneo, o diretor parte da vida social (não sem ter uma definida intenção com isto)  em que o protagonista vive: Thomas é um fotógrafo famoso e muito bem de vida, rodeado de modelos sempre todas iguais querendo ser famosas (nas próprias palavras do personagem: vacas), uma realidade  que apesar de parecer muito boa, traz consigo as mesas coisas, as mesmas pessoas, consequentemente, o tédio, a infelicidade de ser/estar. Porém, um dia este estado muda, mesmo que rapidamente, em um momento em que Thomas fotografa duas pessoas se beijando em um parque. A cena para ele é deslumbrante, porém, a mulher que estava sendo fotografada insiste para que Thomas entregasse as fotos, que ninguém as visse. Extasiado com as fotos em mãos, Thomas insiste em revelá-las e ampliá-las (para se fazer jus a expressão blow up utilizada para aumentar fotos ou, num duplo sentido para a película, explosão).

Em um período de êxtase pelas fotografias, analisando-as enquanto se livra de um tédio profundo que se encontra, Thomas começa a enxergar pequenos detalhes nas cenas de suas fotos e então, cada vez mais as ampliando, chaga a conclusão de que há nelas uma cena de um assassinato: visualiza um corpo, um homem com uma arma, a mulher que pedira as fotos com uma aparente preocupação em suas feições. O desenrolar do filme se dá numa bela sequência lacônica sobre Thomas buscar saber mais sobre a situação, um sequência tênue entre o que ele pensa que está acontecendo, e assim, seus momentos interessantes, e o que realmente está acontecendo, o mundo concreto, pois o que sobra para Thomas é a duvida e novamente o tédio. E em nenhum momento o filme deixa transparecer o que realmente é, se há ou não um assassinato, um corpo. O espectador pode tanto comprar a ideia a partir de que Thomas tende achar, quanto a ideia de que não há nada, apenas imaginação, um escape do personagem para um estado mais excitante.

O filme é, então, o conjunto de um roteiro interessante e transposto em cenas que o deixa ainda mais interessante: há no ritmo de Blow Up um ar desinteresseiro e leve, entretanto, com uma temática inteligente e profunda, fazendo-o aqueles típicos filmes que não sai da sua cabeça por dias. E aliado à tudo isso, temos uma fotografia deslumbrante de cada cena, de cada detalhe, com retratos de um Londres fria e nublada e figurinos muito bem colocados; e méritos também da atuação de David Hemmings (como Thomas) que consegue levar o filme muito bem sozinho. Em suma, é um filme que deve ser assistido.


                   (Blow Up, de Michelangelo Antonioni, Inglaterra/Italia - 1966)


NOTA: 9.0

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