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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

MARGIN CALL - O DIA ANTES DO FIM


O ser humano em estado de crise e as atitudes que o mesmo toma em situações extremas sempre foi um dos temas favoritos do cinema. Seja no aspecto ético, natural, antropológico ou financeiro (como é o caso aqui, com um grande risco de queda no reducionismo), analisar como o homem se perde em meio a situações delicadas é um prato cheio, e temos então em Margin Call – O Dia Antes do Fim mais um representante desta trupe.

O filme perpassa um dia inicialmente de demissões (comuns, ao que me pareceu) em um banco de investimentos. Um dos analistas de risco dos investimentos é demitido, e antes de sair do prédio da empresa entrega um trabalho em andamento à mão de um jovem ex-subordinado seu. Este jovem termina o que seu demitido chefe havia começado e percebe que, devido aos movimentos dos investimentos e as nuances do mercado, as coisas tendem para uma queda brusca, que levaria tal banco a falência.

O novato (pelo menos para mim) J.C. Chandor se utiliza deste banco de investimentos (como representante dos vários que quebraram) para tratar da crise financeira que abalou o mundo em 2008. As relações financeiras do filme e o modo como as coisas vão se montando retratam de forma muito convincente e tensa o embrião de uma crise, que por mais que tenha se acalmado, ainda reflete na economia mundial.

O estranhamento que o filme causa no início (a não ser para aqueles que trabalham no ramo de investimentos, bolsas e afins) é normal, já que a fita transita por um meio pouco comum e nem um pouco acessível ao público “leigo” por assim dizer. Tal elemento faz com que Margin Call demore um pouco para funcionar, além de uma necessária simplificação do roteiro que derrapa em alguns momentos por desprezar a inteligência do espectador. Explico. O filme é bem técnico e pontual no início, contudo J.C. Chandor parece perceber que naquele pique o negócio descambaria para o documentário, perdendo seu elemento ficcional. Ao perceber isso, o roteiro tenta simplificar os termos e em alguns momentos se desespera em metáforas pouco inspiradas, afinal chega a ser um pouco estranho que o chefe do banco de investimentos precise de uma simplificação tão grande para entender o que está acontecendo, ou seja, Chandor tenta, mas não consegue esconder que aquilo é uma tentativa de explicar ao espectador o que está acontecendo, para que este compre a idéia de que algo grave está acontecendo, levando o filme ao deslanche aclamado.

Mesmo com umas poucas derrapadas a ideia do diretor acaba funcionando, e o espectador embarca na correnteza do filme, mesmo sem saber, em alguns momentos, de onde vem o impacto. No final das contas, Chandor consegue transformar um tema difícil e pouco comum em um ótimo suspense de situação que acertará em cheio os espectadores que conseguirem se enquadrar no esquema, algo que parece difícil, mas nem é tanto.

O conjunto de atores é muito bem guiado com destaque para o sempre espetacular Kevin Spacey e o sumido, porém providencial Jeremy Irons. Simon Baker carrega bem um personagem muito peculiar, enquanto que Paul Bettany (mesmo com um personagem meio sem função) e Stanley Tucci lideram um competente grupo de coadjuvantes.

Tenso, original, duro e sério, Margin Call – O Dia Antes do Fim consegue trazer à beira do cotidiano (com deslizes, mas consegue) um assunto de suma importância, mas que se isola em um mundo de termos técnicos e homens de ternos caros. Gostar ou não do tema cabe ao individualismo de cada espectador, mas que J.C. Chandor consegue te deixar tenso com uma situação que em alguns momentos você nem entende isso ele consegue, e não ver mérito nisso é quase um absurdo, já que o grande trunfo da fita não é tornar o espectador um homem daquele meio, mas tornar os homens daquele meio como qualquer um de nós, mortais espectadores. Belo trabalho.


(Margin Call de J.C. Chandor, EUA - 2011)


NOTA: 8,0

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