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domingo, 25 de dezembro de 2011

A PELE QUE HABITO

Almodóvar revive o personagem do “cientista maluco” em um conto sobre a crueza e a dureza da busca pela vingança e do encontro de uma identidade própria. O resultado, assim como quase todos os filmes do diretor espanhol, é um filme superficial e banalizante, com um pequeno agravante: falta originalidade, ao contrário do que muitos andam dizendo por aí.

A Pele Que Habito é um Frankenstein moderno, não apenas no contexto geral da história, mas também pelos vários elementos de outros filmes e diretores usados por Almodóvar. Na parte artística, é possível notar sinais de Greenaway e de Hitchcock. Na condução e produção do contexto, temos elementos de O Segredo dos Seus Olhos. Contudo, o argumento central em si, a produção argumentativa, mesmo que com algumas diferenças, já foi abordada pelo cinema. Georges Franju com seu Os Olhos Sem Rosto e John Frankenheimer com seu O Segundo Rosto, já trataram da obsessão pela reformulação plástica, das conseqüências de tais movimentos e dos malefícios e benefícios de tais elementos. Por mais que se possa argumentar que tal situação é apenas um ponto de partida e que no fim geram consequências diferentes, a tão falada originalidade de Almodóvar perde um pouco de seu sentido.

Além disso, o roteiro tem vários buracos e situações que não se sustentam. Como (no caso do personagem de Banderas) uma vingança se torna uma paixão? Como a personagem Jan/Vera perde em apenas seis anos qualquer traço de masculinidade, já que qualquer pessoa um pouco mais atenta sabe que a coisa não é tão simples, o que torna a aceitação do argumento um nítido exercício de boa vontade. A frivolidade da película ganha força neste aspecto, já que na concepção de Almodóvar homens e mulheres se caracterizam apenas pelo elemento biológico, ou seja, para o fútil diretor espanhol a principal característica do homem é ter um pênis e realizar a penetração, enquanto que da mulher é ter uma vagina e ser penetrada. Confesso que eu não me surpreendo com tal concepção, pois tratamos aqui de um diretor que não possui capacidade intelectual para um vislumbre mais detalhado da existência humana, contudo fica a minha pergunta ao espectador: Como um ser que é seqüestrado, tem seu corpo todo alterado incluindo seu sexo e é mantido em cativeiro, não possui sequer nenhum conflito interno ou qualquer reação humana? Tudo é muito banal, além de ser sempre mantido no âmbito corpóreo-biológico sem qualquer intenção de profundidade.

O personagem de Antonio Banderas é o Macaco Louco. Com claras alusões ao personagem central de A Centopéia Humana, o ator espanhol constrói um homem sem propósitos e que se utiliza de sua técnica por puro exercício de masturbação. Movido inicialmente por vingança, o médico vivido por Banderas, em posteridade, se apaixona por sua criação com uma esfarrapada desculpa de “reconstruir” sua esposa morta e de aparência semelhante, contudo é nítido que o jogo aqui se firma do egoísmo de sua técnica, ou seja, é um homem sem humanidade e que se utiliza do corpo dos outros para louvar sua própria frivolidade. Não há esse elemento de busca de identidade que alguns colocam, e A Pele Que Habito é um movimento de Síndrome de Estocolmo com sadismo puramente vulgar, assim como várias de suas cenas.

Acho válida a tentativa de Almodóvar de mudar de gênero e se renovar, mesmo com a nítida dificuldade que o diretor possui nas cenas de suspense. O elenco, mesmo com um roteiro cambaleante se sai bem e pulsa bem os aspectos básicos da história. Outro bom aspecto da fita é a inebriante e funcional trilha sonora que mescla com muita capacidade vários gêneros da arte sonora.

A verdade é que Almodóvar novamente depende da boa vontade de seus ortodoxos fãs, pois A Pele Que Habito deixa a desejar quando analisamos o resultado final de seu conjunto. Ao tentar inserir simbolismos e reflexões em seu filme, o diretor espanhol só escancarou o quão superficial ele é; me deixando com a sensação de que talvez esteja aí o motivo pelo qual o mesmo é tão adorado pelo público atual. 


(La Piel Que Habito de Pedro Almodóvar, Espanha - 2011)



NOTA: 4,5

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