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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A GAROTA IDEAL


Lars, cuja principal característica é uma timidez fora do comum e uma falta de capacidade de viver no meio das pessoas igualmente assombrosa, encontra refúgio em uma boneca de tamanho e feições reais, cujos verdadeiros fins seriam sexuais. Contudo, o personagem de Ryan Gosling (Lars) a assume como real, e passa a tratar a boneca como sua namorada, sem qualquer noção aparente da verdadeira realidade do ser que agora ele acolhe. Bianca (a boneca) não só deixa de ser uma boneca erótica, como passa a ser um membro da família, da comunidade e o principal eixo da vida deste solitário e distorcido jovem.

A sinopse básica de A Garota Ideal não é a grande sacada do filme. O grande aspecto, e aquilo que norteia toda a fita, é a psicologia inserida nas relações entre as pessoas e a boneca. Por ordens da psicóloga de Lars, as pessoas à sua volta passam a aceitar a boneca e a tratá-la como uma pessoa ao invés de repeli-la. A inversão real-ideal transforma uma comédia de poucas pretensões em um filme muito interessante, cheio de boas piadas, completamente não-apelativo e bem original, algo cada vez mais raro no gênero das comédias.

A fita de utiliza de uma psicologia inversa para apresentar o amor incondicional pelas pessoas. Lars é tão querido pela comunidade, que a mesma abraça Bianca com o carinho de um ser humano normal. Com um humor bem brejeiro e aquele de coisa caipira (sem tom pejorativo), vemos o nascer, o desenrolar e o fim de uma relação entre Lars e os outros por intermédio de um ser não - vivo, pelo menos em termos biológicos. Toda a criação de Lars reflete em suas relações, e no final das contas, aparece como um escape do personagem para sua aparente solidão. Logicamente, que um aprofundamento maior no âmbito total da fita nos colocaria em meio a uma análise mais precisa, mas algo aqui me parece nítido, que é a falta de visão que algumas pessoas possuem de sua própria importância. Assim como em A Felicidade Não Se Compra de Frank Capra (dadas às devidas diferenças que não nos cabem neste momento), encontramos um personagem amado pelas pessoas e que se esconde disto, anulando sua crença própria, tanto que é preciso algo externo (ou inventivo interno?) para reviver tal questão.

Em termos mais cinematográficos, A Garota Ideal derrapa na construção de alguns personagens que em alguns momentos se mostram deslocados da realidade da comunidade (o irmão de Lars é um exemplo), mas possui um roteiro leve, gentil e muito gracioso, onde as piadas fluem, e, mesmo sem a existência de gargalhadas, diverte com qualidade e inteligência, algo que é no mínimo digno de nota. O ar de filme independente está por toda a parte, desde as singelas construções cinematográficas até a pouca inspirada parte artística que mesmo podendo ser mais bem fixada, não chega a prejudicar a fita. Gosling está perfeito no papel, e se dedica de forma única a um personagem difícil e cheio de minúcias; contudo acredito que o ator deve ter se divertido como poucos em tal construção.

Talvez a complexidade e as diversas alternativas psicológicas do filme exigissem que eu dedicasse mais tempo à análise desta fita neste espaço, contudo acredito ter resumido bem o contexto da questão; sendo que qualquer outra interpretação ou mais ampla análise fica por conta do espectador, afinal a graça de um filme como este é a geração de tais perspectivas. Uma comédia diferente, inteligente e engraçada, em outras palavras, um ótimo trabalho.


(Lars and the Real Girl de Craig Gillespie, EUA - 2007)



NOTA: 8,0

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