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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

OS GAROTOS PERDIDOS


Ser uma obra representante de um comportamento ou de uma maneira de vida de uma determinada época tem seus benefícios e seus malefícios. Nos benefícios inclui-se a sempre admiração daqueles que conviveram com tal comportamento, isso para citar apenas um, enquanto que nos malefícios, encontra-se o fato, sempre um pouco incômodo do rótulo de que “o filme envelheceu”. Os Garotos Perdidos abraça estes dois aspectos, contudo, consegue se manter um pouco acima dos benefícios e inibir um pouco os malefícios.

Não falamos aqui de uma grande obra de arte, nem sequer falamos de um grande filme, mas mexemos com um representante de uma das mais peculiares juventudes de todos os tempos, a dos anos 80. Ex-hippies, jovens aventureiros, jaquetas de couro, cabelos arrepiados alinhados a maquiagens às vezes rudes às vezes sutis, mas quase sempre presente, rebeldia e sentimentalidade contrastando o tempo todo, vampiros cruéis e maldosos (ao contrário da geração atual dos purpurinados seres da floresta) e aquele pseudo hard rock eletrizado pautado na utilização de baterias eletrônicas e teclados estridentes; todos estes aspectos entre outros estão na obra de Joel Schumacher e estiveram presentes durante muito tempo no imaginário dos jovens que viveram em tal época.

Ser cult é ser aclamado e adorado por grupos de pessoas e possuir sua marca através deste mesmo público, sem necessidade de perfeição técnica ou artística; logo Os Garotos Perdidos é cult, e dos grandes ainda. O filme gira em torno de uma mãe divorciada e seus dois filhos, quando estes se mudam para uma cidade costeira nos EUA famosa pela quantidade de crimes que ali se passam. Contudo, o motivo não são pessoas comuns, mas uma gangue formada por vampiros. O problema começa quando o filho mais velho desta mãe solteira (interpretada por Dianne Wiest) se torna um iniciante deste grupo. A partir deste argumento, que é até bem morninho, Schumacher consegue desenvolver um bom filme, respeitoso com a geração e com os estereótipos que ali aparecem. Sua direção, apesar do peso habitual, é consciente e encaixada. O roteiro possui situações bem estúpidas e apela para formulações exageradas (como os irmãos caçadores de vampiros e seus comportamentos fortes que terminam em fraqueza e piadas), mas é agradável no estilo ímpar com que constrói a história dos personagens e os relacionamentos entre os mesmos. A trilha sonora tem um efeito meio enevoado e consegue criar um bom clima de horror e suspense, sempre aliada ao bom uso das luzes e dos efeitos visuais (a névoa misteriosa que surge em várias cenas do filme ganha o maior crédito desta parte).

Todavia, não é preciso um olhar muito apurado para perceber que o filme deu uma envelhecida. A agitação inofensiva, o romance puritano, o palavreado e o estilo propriamente dito já não fazem mais parte de nenhum cotidiano, menos ainda da juventude atual. As músicas do filme soam muito antigas, assim como a caracterização dos próprios vampiros, que nos dias atuais possuem sua literatura clássica suprimida por concepções menos maléficas, por assim dizer. Em outras palavras, no atual “público alvo”, Os Garotos Perdidos passa batido, e sobrevive apenas na nostalgia daqueles que o vivenciaram ainda em épocas de juventude. É um filme fadado ao esquecimento e que passará a fazer parte apenas de coleções e de estantes de saudosistas da sétima arte e da contracultura underground. Assistir a Os Garotos Perdidos é literalmente um exercício de nostalgia. 

Não chega a ser um representante clássico do horror e nem da mitologia vampiresca, afinal o filme não assusta e nem chega a gerar sensações angustiantes, algo tão necessário aos filmes do gênero; porém é um bom e divertido passatempo, que se tornou cult e ainda sobrevive com pernas próprias, mesmo que estas estejam cada vez mais curtas. 




(The Lost Boys de Joel Schumacher, EUA - 1987)




NOTA: 6,5

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