ENCONTRE AQUI

sábado, 26 de novembro de 2011

LUZ DE INVERNO


Integrante da clássica e aclamada Trilogia do Silêncio do genial cineasta sueco Ingmar Bergman, Luz de Inverno faz uma descida às catacumbas das dúvidas de fé que envolvem um pastor e de certo que envolvem todos aqueles envolvidos em uma pequena cidade da fria Suécia. Através de grandes diálogos, atuações exuberantes e a já conhecidíssima visão cinematográfica de Bergman, Luz de Inverno se mostra uma ótima análise do ser humano perdido e sem confiança nas bases que sempre carregou.

O filme se passa quase todo em ambientes fechados e se apóia na claramente em seu roteiro. Ainda bem, e como já é de praxe, os roteiros dos filmes de Bergman são simplesmente espetaculares (com raras exceções) e Luz de Inverno segue esta tradição. Com diálogos primorosos, inteligentes, sensatos e muito provocativos em alguns momentos (como uma das cenas finais na conversa entre o pastor e um tipo de sacristão que questiona a ênfase da liturgia cristã no sofrimento físico de Jesus em sua paixão), Bergman consegue mais uma vez envolver o espectador em uma análise profunda do ser humano. Como de costume, o diretor sueco se envolve no elemento subjetivo de seus personagens e lida com suas crises existenciais de maneira respeitosa e não como estupidez ou rejeição.

O personagem do pastor é um elemento clássico da história humana, onde temos o rompimento da fé nas bases criantes de si próprio, ou seja, rui-se aquilo que o transforma naquele indivíduo “x” e não “y” provocando uma crise de identidade. Além disso, Bergman se utiliza do escopo geral, para postar uma situação de um mundo sem a figura de Deus, sem a fé, sem a atribulação do divino para guiar a vida humana. Novamente, como ninguém mais conseguiu na história do cinema (com exceção de Tarkovsky talvez), Bergman cria um grande filme em sua parte propriamente cinematográfica, sem esquecer-se dos inseparáveis movimentos filosóficos e existenciais que perturbam e circundam o homem durante toda a sua vida.

Contudo, vale dizer que Bergman pesa a mão como poucas vezes foi visto em sua vasta cinematografia. Luz de Inverno é um desfile de questionamentos, de problemas e de incertezas, o que o transforma em um filme denso, pesado e lento, elemento que converge com a dura paisagem do congelante inverno sueco. Extremamente reflexivo e de assimilação quase nada usual, Luz de Inverno, mais que vários outros filmes do diretor, não é nem um pouco recomendado para se assistir em família como elemento relaxante de uma tarde de domingo ou de uma noite de sábado.

Recomendado apenas para fãs que optam por um cinema não comercial e que conseguem realizar um bom exercício de paciência, Luz de Inverno se mostra como um belo filme, porém com uma função mais questionadora e cognoscente do que propriamente uma função de entretenimento, o que venhamos e convenhamos não é nenhuma novidade levando-se em conta a filmografia de Bergman.


(Nattvardsgästerna de Ingmar Bergman, Suécia - 1963)




NOTA: 8,0

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O CONCERTO


Em 1998, o cineasta romeno Radu Mihaileanu lançava um dos grandes filmes dos anos 90, chamado Trem da Vida, ao qual eu só teria acesso poucos anos atrás. Fato este que contribuiu para meu interesse por este O Concerto, que chegou há pouco tempo no Brasil e colocou em minha mente cinéfila uma nova certeza: eis um diretor que passarei a acompanhar com mais carinho.

O filme parte de um argumento central que beira o absurdo: um ex-maestro da orquestra do Teatro Bolshoi da Rússia, que foi demitido de seu posto junto com sua orquestra pelo governante soviético Leonid Brezhnev por defender músicos judeus, “rouba” um fax do diretor do Teatro Châtelet em Paris que convidava a orquestra do Bolshoi para um concerto. Sem comunicar a verdadeira orquestra do Bolshoi o “Maestro” reunirá novamente sua orquestra e partirá para a França.

Mihaileanu constrói uma falsa sinopse, já que no fundo este elemento de confusão do filme é o pano de fundo para uma história terna e sensível sobre o poder da música, o poder da perseverança e em alguns momentos até uma fixação pela perfeição que beira a loucura. Além disso, temos um elemento de “grito de liberdade” inserido no filme que pode até passar despercebidos a olhos mais desatentos, mas que flutua por ali com um sussurro de todos os povos (incluindo os russos) que foram oprimidos e martirizados pela antiga União Soviética. O retorno do antigo Bolshoi destituído pela antiga URSS entre outros aspectos é uma clara alusão de povos que ainda estão se levantando e se reerguendo depois de um longo período de queda e sofrimento.

Deve-se, entretanto uma leve ressalva; já que para construir a sua história Mihaileanu não tem nenhum pudor em se apoiar por situações em alguns momentos muito coincidentes, ou seja, tudo acontece perante muitas coincidências, e sem muita construção lógica, no sentido pragmático da coisa. Além disso, o flerte com situações espalhafatosas e algumas cenas que beiram a “comédia pastelão” pode fazer com que o espectador não leve esta obra tão a sério como ela merece, já que, por mais que a mesma seja uma comédia e goste disso, seu fundo de seriedade é de muito brilho e até mais presente do que a própria comédia. Mesmo assim, Mihaileanu não perde a mão e constrói um filme que é sério, trata de um assunto sério, mas se caracteriza como comédia, pois suas veias cômicas se convergem entre as cenas, criando mesmo entre o absurdo e o espalhafatoso algo correto.

O elenco é excelente, a trilha sonora é simplesmente monumental, o trabalho artístico é muito detalhado mesmo que na maioria do tempo discreto e a construção do argumento, mesmo com certos desvios para o inusitado com fundo de comédia, é bem formulado e possui um grande mérito ao optar pelo simples é um momento crucial do filme, ao invés de tentar uma reviravolta tão comum atualmente, que se espera o segundo e não o primeiro, o que torna o final da fita até certo ponto incomum, porém muito feliz do ponto de vista da construção argumentativa.

Entretanto, até este momento, O Concerto se encaixaria como aquele bom trabalho que cumpria seu papel muito bem, mas sem aquele “algo mais” dos grandes filmes, fato que começa a mudar faltando cerca de catorze minutos para seu término. A cena final (que eu não vou contar, lógico) é simplesmente uma das melhores cenas que eu vi nos últimos anos. Ao som do Concerto para violino e orquestra em Ré Maior, Op. 35 de Tchaikovsky, Mihaileanu passeia com sua câmera, amarra todos os pontos do roteiro e finaliza seu filme de uma maneira simplesmente majestosa, intercalando passado e presente em um belíssimo trabalho de edição. O diretor romeno insere uma dose tão grande de sentimento aqui, que é impossível não se extasiar com o que se passa na tela. São quase catorze minutos daquilo que o cinema pode nos proporcionar de melhor e de mais prazeroso. O filme em si já valeria seu dinheiro, mas o final é com certeza a garantia de um bom investimento. Um bom filme com um majestoso final. Mihaileanu mostra de vez que é um grande diretor e em O Concerto ainda vem acompanhado de Tchaikovsky, o que me leva a realizar a seguinte pergunta: Você ainda tem alguma dúvida de qual será o seu próximo filme?


(Le Concert de Radu Mihaileanu - Bélgica/França/Itália/Romênia/Rússia, 2009)



NOTA: 8,5

terça-feira, 15 de novembro de 2011

RANGO


O cinema de animação sempre foi um dos mais propícios para homenagens, sejam elas de qual caráter for, contudo, talvez a mais explícita de todas elas aconteça nesta animação do experiente e versátil diretor Gore Verbinski, mais conhecido do público por ter sido o diretor dos três primeiros filmes da franquia Piratas do Caribe. Rango é uma ode ao cinema de faroeste que dominava o circuito e levava ao delírio platéias nos anos 50,60 e 70, mas que hoje é praticamente um gênero morto.

É exatamente este caráter de homenagem, ou pelo menos de dedicatória, que propicia tanto as qualidades como os problemas de Rango. O filme é leve, divertido, com personagens (incluindo seu protagonista) extremamente carismáticos (algo essencial para qualquer filme, mas principalmente para as animações) e de um leve bom gosto não encontrado em animações como Rio por exemplo. Verbinski faz um filme apaixonado, em que os clichês do gênero de faroeste (e são muitos) são explorados e encaixados ao longo da trama com muita simpatia e com muita simplicidade. O feno pelo deserto, o sol nascendo ao longe com as sombras dos cowboys (no caso aqui montados em papas-léguas acredito eu), aquele clima de coisa antiga, a música firmada em acordes de banjo, aquele sotaque de provinciano, tudo isto é explorado com muito profissionalismo e muito cuidado por Verbinski, já que, caso contrário, estes elementos poderiam caracterizar uma pieguice que o filme não possui.

Verbinski não é um grande diretor, mas ninguém pode negar que ele é versátil. O cara já fez filmes infantis (Um Ratinho Encrenqueiro), ficção científica (A Máquina do Tempo), Terror (O Chamado) e os já citados três primeiros filmes da saga do pirata Jack Sparrow entre outros, agrupando aqui um grau de experiência que ajuda bastante, principalmente na flutuação das construções dramáticas, que por mais que possuam suas bases nos pilares do faroeste, se alteram em alguns momentos.

Todavia, no caso de Rango, a mão que afaga é a mesma que apedreja. A falta de originalidade na construção argumentativa sempre foi um dos grandes problemas dos filmes de western, isso se não for o maior. Além de envelhecerem (como o próprio filme colocar, que aqueles personagens hoje são lendas), os filmes de faroeste conviverem com a falta de novas idéias, deixando os espectadores enjoados e com aquela sensação de que “tudo igual”. No final do auge do gênero, os faroestes não passavam de um enorme e interminável mais do mesmo, e Rango esbarra neste ponto. Além disso, o filme de Verbinski tem obrigações com seu próprio gênero, ou seja, as animações. De tal forma, um elemento mais infantil, e até mesmo uma lição de vida quase que necessariamente deve ser inserida em meio aos tiroteios e dos ventos carregadores de poeira que se misturam com a dura paisagem desértica. Verbinski não consegue fugir dos clichês de nenhum dos dois gêneros, e ainda perde a chance de criar algo novo com a união destes já citados dois gêneros. Em suma; com meia-hora de filme, você já praticamente desvenda todo o restante da fita, que ainda une a isto o fato de ser um pouco longa.

Desde que o cinema de animação se modernizou e passou a produzir de quinze a vinte filmes por ano, vindos de várias partes, 2011 talvez seja o pior ano para o gênero, que não produziu nenhum grande filme e muito menos encravou qualquer sequência ou projeção nas eternas memórias dos cinéfilos (não coloco aqui a animação francesa O Mágico, pois acredito que o foco seja diferente), contudo, em um ano onde o gênero está nivelado por baixo, Rango acaba ganhando certo destaque. Longe de ser um clássico, ou até mesmo um grande filme do gênero, Rango talvez seja uma das melhores animações do ano, só que infelizmente em um ano como este, tal elogio não quer dizer muita coisa.


(Rango de Gore Verbinski, EUA - 2011)


NOTA: 6,5

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

MUPPETS - O FILME


O primeiro longa de uma das mais famosas turmas de todos os tempos (dizer a mais famosa poderia se tornar uma grande pretensão) é também o mais completo e o mais correto dos longas já realizados por estes simpáticos seres. Não que os outros filmes que envolvam os Muppets sejam ruins, mas este aqui ainda é supremo, não sem méritos, que ainda hoje é considerado um clássico do cinema.

O filme é uma sessão de cinema, onde os Muppets assistem ao mesmo filme que o espectador, ou seja, um longa que conta a história de como tudo começou; desde a descoberta de Caco por parte de um produtor de Hollywood, enquanto este dedilhava em seu banjo e cantava com sua voz fanha e estranha as maravilhosas notas de Rainbow Connection (uma das grandes cenas musicais da história do cinema, e uma das mais belas canções já compostas para o cinema), o encontro um a um com os principais nomes da turma, até o ápice no final, com a assinatura de um contrato “dos ricos e famosos”, por um produtor de Hollywood interpretado por nada menos que a Lena Orson Welles, e o retorno, agora na voz de todos os Muppets de Rainbow Connection.

Existe um grande mérito no trabalho do diretor James Frawley, que é focar na construção dos personagens, muito mais que na turma em si, pois os Muppets se tornam um conjunto aos poucos, sendo que essa união mesmo acontece no final. Antes de se tornarem um; Frawley fixa pelo menos alguns minutos da película, em praticamente todos os Muppets (os principais pelo menos; como Piggy, Fozzie, Rowlf, Animal, Gonzo, Beaker e por aí vai) individualmente, para que possamos verificar as características de cada um, que em posteridade se tornarão a unidade conhecida como os Muppets. Não que os personagens perdem depois a identidade particular, mas ela se ofusca pela identidade dos Muppets; e, por se tratar de um filme que vai buscar as origens do “Grupo do Arco-Íris” (Tradução mal feita do título da canção já citada aqui), a opção de Frawley se mostra muito acertada.

Dirigir e atuar com bonecos é complicado, afinal você não possui o retorno imediato de um ator “normal”, contudo esse entrave não se torna um problema aqui, tamanha a destreza de Frawley na condução dos planos e do desenvolvimento do roteiro e do elenco, principalmente Charles Durning e Austin Pendleton que são os atores humanos que mais contracenam com os bonecos Muppets. Vale destaque, além da já citada participação de Orson Welles, a participação do gênio da comédia Mel Brooks, do ator James Coburn e do ainda meio jovem Steve Martin.

O carisma dos Muppets, aliado a um detalhado trabalho, pautado principalmente em um carinho com aquilo que se estava produzindo, contribuiu; não só para que o filme entrasse para a história do cinema, mas cravou de vez no imaginário das pessoas esses bonecos, alguns bem definidos, outros nem tanto, mas todos muito presentes e queridos, e os trouxe para um meio do qual não saíram mais, haja vista o fato de que outro longa da turma está prontinho para estrear nos cinemas.

Se você ainda não encontrou o “Grupo do Arco-Íris”, não perca mais tempo, vá até a locadora mais próxima, ou melhor, vá até a loja de DVD´s mais próxima e compre o filme, o assista várias vezes, dedicando cada vez a um personagem diferente e se delicie com uma das grandes mágicas que o cinema produziu, se unindo assim de forma inevitável “aos apaixonados, aos sonhadores e a mim”. Inesquecível. 


(The Muppet Movie de James Frawley, EUA/Reino Unido - 1979)



NOTA: 9,0

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A ESPADA ERA A LEI


Uma das mais sutis, belas, simples e singelas obras dos estúdios Disney, A Espada Era a Lei sobrevive hoje como um clássico que alegra muito mais fãs saudosistas do que públicos saudosistas, algo que, aliás, acontece com a maioria das animações mais antigas, quando não existiam animações computadorizadas, e as histórias destas antiguidades se baseavam em números musicais e lições de aprendizagem, que em primeiro momento tinham o intuito de atingir as crianças, mas que levavam os adultos correnteza abaixo também.

A Espada Era a Lei tem sua base nas lendas arthurianas, e conta a história do pequeno Arthur, este sendo ainda treinado por um Merlin que sabia que o mesmo estava predestinado a algo grande, porém sem saber o que, antes de retirar a lendária Excalibur da pedra onde esta dormia e se tornar Rei da Inglaterra e líder dos Cavaleiros da Távola Redonda. A animação não adentra na vida de Arthur depois de tornar rei, se tornando então um prólogo sobre a preparação do mesmo e da Inglaterra antes de acolher seu lendário monarca. De tal modo, e por se manter apenas na infância do personagem, o filme não se utiliza da lenda para se firmar, se utilizando apenas de seu próprio roteiro e de sua querela mais “independente” para se sustentar, algo muito bom para a intenção da fita.

O filme é muito leve e muito divertido, nos remetendo ao que a Disney sempre teve de melhor, ou seja, aquele humor simples, vindo de personagens e piadas espontâneas e que levavam os espectadores ao delírio. O maior exemplo disso é a alegria e a magia do estabanado e simpático Merlin. Como se o velho mago lendário não fosse ele, por si só, extremamente engraçado, ele ainda conta com as trapalhadas de seu assistente Arquimedes, uma coruja muito astuta e ao mesmo tempo muito engraçada. Os dois com certeza seguram, em grande parte sozinhos, a bronca do longa inteiro. Os números são poucos, porém bem encaixados e bem feitos, ajudando o filme em seu andamento.

A clássica lição de moral dos filmes mais antigos da Disney está bem presente aqui, e de muitas formas, mas a que mais se repete, se torna um problema para a assimilação atual da fita, já que a tal lição simplesmente envelheceu. Eu sei que alguns discordarão de mim quanto a isto, afinal as frases dos mesmos para os perfis do Facebook, Orkut e MSN dizem o contrário e aceitam ideias parecidas com a deste filme, mas qualquer pessoa que aprofunde um pouco mais a análise sabe que isto se trata de uma das várias hipocrisias da era digital. Qualquer pessoa mais atenta e mais analítica em relação ao mundo e à juventude atual, conseguirá entender o problema que um filme que frisa “a supremacia do estudo e da inteligência sobre a força física e ao apelo passional” enfrentará. Tal premissa, inúmeras vezes repetida por Merlin no intuito de ensinar o pequeno Arthur só colabora para o caráter “envelhecido” da fita. Isso não é um defeito do filme, mas é o preço que ele paga por ainda sobreviver a uma sociedade com um defeito.

A animação tem poucos problemas; sendo um deles seu formato argumentativo que poderia ter uma dinamicidade maior, levando-se em conta principalmente o fato de se tratar de um filme basicamente infantil. Outro problema que a fita possui este já um pouco mais sério é a falta de carisma de seu protagonista, já que o pequeno Arthur é muito simples e sem muita audácia ou personalidade, sendo facilmente engolido por qualquer outro personagem da trama, mesmo quando estes são nitidamente coadjuvantes como seu padrasto Sir Ector, seu irmão de criação Kay ou a malvada e clássica madame Min. Tais problemas prejudicam um pouco a fita, porém não tiram o brilho de uma bela animação e nem a rebaixam de seu status de clássico em seu gênero.

Um ótimo trabalho, que sobrevive até hoje com o rótulo de ter sido o último filme dos estúdios Disney a ser produzido enquanto seu fundador, Walt Disney, ainda estava vivo. Curiosidades e situações à parte, A Espada Era a Lei vale cada minuto do tempo dedicado a apreciá-lo, admirá-lo e entendê-lo; afinal de contas, nenhum filme sobrevive (e sobrevive bem) quase cinqüenta anos (o filme completará cinqüenta anos em 2013) à toa. Busque suas qualidades, viva seus conselhos e aprecie seu humor e assim, você estará embrulhado em um grande filme, muito mais que isso, você se tornará cúmplice de uma grande obra.


(The Sword In The Stone de Wolfgang Reitherman, EUA - 1963)




NOTA: 8,5

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A INQUILINA


Médica de pronto-socorro que acaba de se mudar, se vê envolta a uma obsessão doentia que parte exatamente do homem que é dono do apartamento onde esta se encontra. Ao longo do filme, mesmo que de relance, percebemos que tudo foi armado pelo próprio. Essa obsessão (que não se sabe a origem) atinge níveis altíssimos, terminando de maneira trágica aquilo que já estava predestinado para tal.

A ideia parece boa? O contexto parece criar uma expectativa interessante? O elenco composto por Hilary Swank, Jeffrey Dean Morgan e Christopher Lee faz com que o filme fique ainda melhor? Em teoria tudo isto pode ser verdade, contudo, na prática o que vemos é o oposto disso. A Inquilina não é um mais do mesmo em um mundo de clichês de sustos e sombras, mas ele vai além disso, e se transforma em uma experiência simplesmente lamentável.

O filme não funciona como suspense, não funciona como drama, não funciona como romance, não funciona como terror, no final das contas, ele não funciona nem como filme, seja lá de qual gênero esta obra pretende ser. O roteiro é furado, atropela várias situações e não consegue superar limitações básicas do cinema, como escolher um personagem ou um núcleo central, ou ainda escolher um norte para a história. A verdade é que o estreante diretor finlandês Antti Jokinen, faz um trabalho horrível, tanto na construção da obra em si, quanto com a câmera nas mãos.

A fita é mal enquadrada, não possui eloquência e não consegue criar um corpo, ou seja, não se estrutura, fica cambaleando entre um argumento e outro sem tomar nenhum como fundamental ou ainda sem gerar identificação com o mesmo. Jokinen falha tanto, que transforma sua heroína em uma mulher volúvel, sem padrões e totalmente frívola, enquanto que seu “vilão” ganha a simpatia do público pela feição chorosa e convidativa de piedade. A pergunta básica é: não deveria ser ao contrário? O agressor é bonzinho e a agredida é uma pessoa ruim? Jokinen consegue a façanha de inverter os papéis, fato que coloca o personagem de Dean Morgan como o mais passível de aproximação com as pessoas, levando o espectador a torcer pelo vilão. A pergunta então se transforma: Pablo, mas não se pode torcer pelo vilão em um filme? Claro que pode, mas isso acontece pelo desejo e interpretação do espectador, e não pela imposição do filme. O suspense tem sua base na relação herói/bandido ou agressor/agredido e a simpatia do espectador se pauta em sua admiração pelo filme e não por uma inversão de roteiro. A falta de carisma da heroína neste caso faz com que o espectador necessariamente se fantasie pelo outro lado.

Os furos de roteiro são gritantes. Muita coisa não se explica e outras se mantêm por outorga do argumento da fita, isso sem contar o final lamentável e fácil. O elenco é um desperdício. Dean Morgan parece a Bela do Crepúsculo com aquela cara de quem só chora e aquele olhar de cachorro abandonado, mesmo assim, o sósia de Javier Bardem é o “menos ruim” do elenco (isso mesmo!). O gigante e ícone Christopher Lee tem um personagem completamente inútil e que só está ali para tentar amarrar algumas incongruências do roteiro, enquanto que Hilary Swank vive mais uma vez sem sucesso sua odisséia para tentar provar ao mundo que é muito mais que uma atriz dramática, fato que eu particularmente não entendo, e que só nos propiciou filmes de qualidade bem duvidosa como O Núcleo, Insônia, A Colheita do Mal entre outros.

Se quiser se manter no ramo, Jokinen primeiramente precisa aprender a dirigir, em outras palavras, precisa esquecer as tentativas feitas aqui e começar de novo, sem olhar pra trás, pois se existia uma forma de se começar a carreira com o pé esquerdo Jokinen a encontrou, e não fez só isso, ainda a abraçou, fez um carinho na cabeça e chamou de meu amor.  Minutos preciosos da minha vida que não voltam mais.


(The Resident de Antti Jokinen, EUA/Reino Unido - 2011)



NOTA: 1,5