Integrante da clássica e aclamada Trilogia do Silêncio do genial cineasta sueco Ingmar Bergman, Luz de Inverno faz uma descida às catacumbas das dúvidas de fé que envolvem um pastor e de certo que envolvem todos aqueles envolvidos em uma pequena cidade da fria Suécia. Através de grandes diálogos, atuações exuberantes e a já conhecidíssima visão cinematográfica de Bergman, Luz de Inverno se mostra uma ótima análise do ser humano perdido e sem confiança nas bases que sempre carregou.
O filme se passa quase todo em ambientes fechados e se apóia na claramente em seu roteiro. Ainda bem, e como já é de praxe, os roteiros dos filmes de Bergman são simplesmente espetaculares (com raras exceções) e Luz de Inverno segue esta tradição. Com diálogos primorosos, inteligentes, sensatos e muito provocativos em alguns momentos (como uma das cenas finais na conversa entre o pastor e um tipo de sacristão que questiona a ênfase da liturgia cristã no sofrimento físico de Jesus em sua paixão), Bergman consegue mais uma vez envolver o espectador em uma análise profunda do ser humano. Como de costume, o diretor sueco se envolve no elemento subjetivo de seus personagens e lida com suas crises existenciais de maneira respeitosa e não como estupidez ou rejeição.
O personagem do pastor é um elemento clássico da história humana, onde temos o rompimento da fé nas bases criantes de si próprio, ou seja, rui-se aquilo que o transforma naquele indivíduo “x” e não “y” provocando uma crise de identidade. Além disso, Bergman se utiliza do escopo geral, para postar uma situação de um mundo sem a figura de Deus, sem a fé, sem a atribulação do divino para guiar a vida humana. Novamente, como ninguém mais conseguiu na história do cinema (com exceção de Tarkovsky talvez), Bergman cria um grande filme em sua parte propriamente cinematográfica, sem esquecer-se dos inseparáveis movimentos filosóficos e existenciais que perturbam e circundam o homem durante toda a sua vida.
Contudo, vale dizer que Bergman pesa a mão como poucas vezes foi visto em sua vasta cinematografia. Luz de Inverno é um desfile de questionamentos, de problemas e de incertezas, o que o transforma em um filme denso, pesado e lento, elemento que converge com a dura paisagem do congelante inverno sueco. Extremamente reflexivo e de assimilação quase nada usual, Luz de Inverno, mais que vários outros filmes do diretor, não é nem um pouco recomendado para se assistir em família como elemento relaxante de uma tarde de domingo ou de uma noite de sábado.
Recomendado apenas para fãs que optam por um cinema não comercial e que conseguem realizar um bom exercício de paciência, Luz de Inverno se mostra como um belo filme, porém com uma função mais questionadora e cognoscente do que propriamente uma função de entretenimento, o que venhamos e convenhamos não é nenhuma novidade levando-se em conta a filmografia de Bergman.
(Nattvardsgästerna de Ingmar Bergman, Suécia - 1963)
NOTA: 8,0
(Nattvardsgästerna de Ingmar Bergman, Suécia - 1963)
NOTA: 8,0
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