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terça-feira, 15 de novembro de 2011

RANGO


O cinema de animação sempre foi um dos mais propícios para homenagens, sejam elas de qual caráter for, contudo, talvez a mais explícita de todas elas aconteça nesta animação do experiente e versátil diretor Gore Verbinski, mais conhecido do público por ter sido o diretor dos três primeiros filmes da franquia Piratas do Caribe. Rango é uma ode ao cinema de faroeste que dominava o circuito e levava ao delírio platéias nos anos 50,60 e 70, mas que hoje é praticamente um gênero morto.

É exatamente este caráter de homenagem, ou pelo menos de dedicatória, que propicia tanto as qualidades como os problemas de Rango. O filme é leve, divertido, com personagens (incluindo seu protagonista) extremamente carismáticos (algo essencial para qualquer filme, mas principalmente para as animações) e de um leve bom gosto não encontrado em animações como Rio por exemplo. Verbinski faz um filme apaixonado, em que os clichês do gênero de faroeste (e são muitos) são explorados e encaixados ao longo da trama com muita simpatia e com muita simplicidade. O feno pelo deserto, o sol nascendo ao longe com as sombras dos cowboys (no caso aqui montados em papas-léguas acredito eu), aquele clima de coisa antiga, a música firmada em acordes de banjo, aquele sotaque de provinciano, tudo isto é explorado com muito profissionalismo e muito cuidado por Verbinski, já que, caso contrário, estes elementos poderiam caracterizar uma pieguice que o filme não possui.

Verbinski não é um grande diretor, mas ninguém pode negar que ele é versátil. O cara já fez filmes infantis (Um Ratinho Encrenqueiro), ficção científica (A Máquina do Tempo), Terror (O Chamado) e os já citados três primeiros filmes da saga do pirata Jack Sparrow entre outros, agrupando aqui um grau de experiência que ajuda bastante, principalmente na flutuação das construções dramáticas, que por mais que possuam suas bases nos pilares do faroeste, se alteram em alguns momentos.

Todavia, no caso de Rango, a mão que afaga é a mesma que apedreja. A falta de originalidade na construção argumentativa sempre foi um dos grandes problemas dos filmes de western, isso se não for o maior. Além de envelhecerem (como o próprio filme colocar, que aqueles personagens hoje são lendas), os filmes de faroeste conviverem com a falta de novas idéias, deixando os espectadores enjoados e com aquela sensação de que “tudo igual”. No final do auge do gênero, os faroestes não passavam de um enorme e interminável mais do mesmo, e Rango esbarra neste ponto. Além disso, o filme de Verbinski tem obrigações com seu próprio gênero, ou seja, as animações. De tal forma, um elemento mais infantil, e até mesmo uma lição de vida quase que necessariamente deve ser inserida em meio aos tiroteios e dos ventos carregadores de poeira que se misturam com a dura paisagem desértica. Verbinski não consegue fugir dos clichês de nenhum dos dois gêneros, e ainda perde a chance de criar algo novo com a união destes já citados dois gêneros. Em suma; com meia-hora de filme, você já praticamente desvenda todo o restante da fita, que ainda une a isto o fato de ser um pouco longa.

Desde que o cinema de animação se modernizou e passou a produzir de quinze a vinte filmes por ano, vindos de várias partes, 2011 talvez seja o pior ano para o gênero, que não produziu nenhum grande filme e muito menos encravou qualquer sequência ou projeção nas eternas memórias dos cinéfilos (não coloco aqui a animação francesa O Mágico, pois acredito que o foco seja diferente), contudo, em um ano onde o gênero está nivelado por baixo, Rango acaba ganhando certo destaque. Longe de ser um clássico, ou até mesmo um grande filme do gênero, Rango talvez seja uma das melhores animações do ano, só que infelizmente em um ano como este, tal elogio não quer dizer muita coisa.


(Rango de Gore Verbinski, EUA - 2011)


NOTA: 6,5

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