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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A ESPADA ERA A LEI


Uma das mais sutis, belas, simples e singelas obras dos estúdios Disney, A Espada Era a Lei sobrevive hoje como um clássico que alegra muito mais fãs saudosistas do que públicos saudosistas, algo que, aliás, acontece com a maioria das animações mais antigas, quando não existiam animações computadorizadas, e as histórias destas antiguidades se baseavam em números musicais e lições de aprendizagem, que em primeiro momento tinham o intuito de atingir as crianças, mas que levavam os adultos correnteza abaixo também.

A Espada Era a Lei tem sua base nas lendas arthurianas, e conta a história do pequeno Arthur, este sendo ainda treinado por um Merlin que sabia que o mesmo estava predestinado a algo grande, porém sem saber o que, antes de retirar a lendária Excalibur da pedra onde esta dormia e se tornar Rei da Inglaterra e líder dos Cavaleiros da Távola Redonda. A animação não adentra na vida de Arthur depois de tornar rei, se tornando então um prólogo sobre a preparação do mesmo e da Inglaterra antes de acolher seu lendário monarca. De tal modo, e por se manter apenas na infância do personagem, o filme não se utiliza da lenda para se firmar, se utilizando apenas de seu próprio roteiro e de sua querela mais “independente” para se sustentar, algo muito bom para a intenção da fita.

O filme é muito leve e muito divertido, nos remetendo ao que a Disney sempre teve de melhor, ou seja, aquele humor simples, vindo de personagens e piadas espontâneas e que levavam os espectadores ao delírio. O maior exemplo disso é a alegria e a magia do estabanado e simpático Merlin. Como se o velho mago lendário não fosse ele, por si só, extremamente engraçado, ele ainda conta com as trapalhadas de seu assistente Arquimedes, uma coruja muito astuta e ao mesmo tempo muito engraçada. Os dois com certeza seguram, em grande parte sozinhos, a bronca do longa inteiro. Os números são poucos, porém bem encaixados e bem feitos, ajudando o filme em seu andamento.

A clássica lição de moral dos filmes mais antigos da Disney está bem presente aqui, e de muitas formas, mas a que mais se repete, se torna um problema para a assimilação atual da fita, já que a tal lição simplesmente envelheceu. Eu sei que alguns discordarão de mim quanto a isto, afinal as frases dos mesmos para os perfis do Facebook, Orkut e MSN dizem o contrário e aceitam ideias parecidas com a deste filme, mas qualquer pessoa que aprofunde um pouco mais a análise sabe que isto se trata de uma das várias hipocrisias da era digital. Qualquer pessoa mais atenta e mais analítica em relação ao mundo e à juventude atual, conseguirá entender o problema que um filme que frisa “a supremacia do estudo e da inteligência sobre a força física e ao apelo passional” enfrentará. Tal premissa, inúmeras vezes repetida por Merlin no intuito de ensinar o pequeno Arthur só colabora para o caráter “envelhecido” da fita. Isso não é um defeito do filme, mas é o preço que ele paga por ainda sobreviver a uma sociedade com um defeito.

A animação tem poucos problemas; sendo um deles seu formato argumentativo que poderia ter uma dinamicidade maior, levando-se em conta principalmente o fato de se tratar de um filme basicamente infantil. Outro problema que a fita possui este já um pouco mais sério é a falta de carisma de seu protagonista, já que o pequeno Arthur é muito simples e sem muita audácia ou personalidade, sendo facilmente engolido por qualquer outro personagem da trama, mesmo quando estes são nitidamente coadjuvantes como seu padrasto Sir Ector, seu irmão de criação Kay ou a malvada e clássica madame Min. Tais problemas prejudicam um pouco a fita, porém não tiram o brilho de uma bela animação e nem a rebaixam de seu status de clássico em seu gênero.

Um ótimo trabalho, que sobrevive até hoje com o rótulo de ter sido o último filme dos estúdios Disney a ser produzido enquanto seu fundador, Walt Disney, ainda estava vivo. Curiosidades e situações à parte, A Espada Era a Lei vale cada minuto do tempo dedicado a apreciá-lo, admirá-lo e entendê-lo; afinal de contas, nenhum filme sobrevive (e sobrevive bem) quase cinqüenta anos (o filme completará cinqüenta anos em 2013) à toa. Busque suas qualidades, viva seus conselhos e aprecie seu humor e assim, você estará embrulhado em um grande filme, muito mais que isso, você se tornará cúmplice de uma grande obra.


(The Sword In The Stone de Wolfgang Reitherman, EUA - 1963)




NOTA: 8,5

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