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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O FANTASMA DA ÓPERA


Um dos musicais de maior sucesso da história da Broadway e uma das histórias mais conhecidas e admiradas em todo o mundo, O Fantasma da Ópera, baseado no livro de Gastón Leroux, aproveitou-se do efeito Moulin Rouge na indústria dos musicais para tentar causar o mesmo impacto, ou pelo menos tentar transpor, com qualidade, um sucesso dos palcos para a telona. Dirigido por um Joel Schumacher (conhecido por assassinar Batman em dois filmes, onde um é bem fraco e o outro uma grande piada, entre outros) acima da média, mas com atuações pífias e um roteiro extremamente superficial, a versão musical na telona bate na trave e sai em tiro de meta, deixando o grito de gol para uma próxima oportunidade.

A influência de Luhrmann é visível, tanto na condução de Schumacher quanto na construção argumentativa e cenográfica, não se limitando apenas a Moulin Rouge, mas buscando elementos até de outros filmes do diretor australiano como o original Romeu + Julieta. Buscar respaldo em coisas boas, normalmente traz coisas boas, e isso se repete aqui, já que Schumacher se supera e surpreende na direção. Enquanto os atores surpreendem pela frieza nas cenas, Schumacher enche a tela com uma paixão nunca vista anteriormente em seus filmes. A câmera pulsa o tempo todo, e em alguns momentos parece até tentar gerar um efeito de desfibrilador para galvanizar a falta de vontade de seu elenco. Se O Fantasma da Ópera possui algo de surpreendente e de vibrante, com certeza é a direção de Schumacher, como exemplo, é só tomarmos a melhor cena do filme, um baile de máscaras sensacional com bailarinos e ótimos cantores interpretando a clássica Masquerade do musical original.

Além disso, Schumacher possui o respaldo de um bom figurino, uma trilha sonora excelente (o que é essencial para um musical) e uma fotografia estupenda, lamenta-se apenas o fato de o restante do filme ser exatamente o oposto do esforço do diretor. A cenografia, por exemplo, é extremamente exagerada e em alguns momentos destoa totalmente do ideal central da fita.

O elenco principal, escolhido a dedo pela capacidade de cantar, se mostra uma escolha ruim na parte interpretativa, fazendo com que tenhamos bons cantores que não conseguem unir esta qualidade com uma boa interpretação. Patrick Wilson (que já é ruim por natureza) atua de forma robótica e não consegue causar nenhuma emoção e nenhuma simpatia no espectador. Emmy Rossum brilha na tela devido ao já citado ótimo trabalho de fotografia e a uma boa utilização de luzes e sombras por parte de Schumacher, mas apesar disso, e apesar de cantar muito bem, está totalmente apática e sem vida no papel. As cenas entre Raoul (Wilson) e Christine (Rossum) são incrivelmente inertes e desprovidas de qualquer emoção. No papel do Fantasma, Gerard Butler (que ficaria famoso posteriormente por sua interpretação do rei espartano Leônidas em 300) é o “menos pior” do elenco de protagonistas, porém, isso se deve muito mais aos seus atributos físicos que ajudam na criação do personagem do que pela sua capacidade de atuar; mesmo assim, as cenas entre Christine e o Fantasma são mais interessantes e fortes do filme.

O roteiro, outro ponto baixo do filme, patina muito, e não consegue desenvolver nenhuma relação entre os personagens, transformando o esforço de Schumacher, em sua maioria, num emaranhado de relações mal explicadas, mal construídas e mal desenvolvidas. Com diálogos fracos, e passagens complicadas para um filme cantado em pelo menos 90% de seu andamento, o roteiro peca por apostar no elemento auto-explicativo das canções, pois por mais que as mesmas exerçam bem seus papéis, as amarras entre elas, é função da construção argumentativa, e isto simplesmente não acontece, ou seja, sem amarras, tudo parece um monte de capítulos sem conexões e sem funcionalidades fazendo com que o império da superficialidade se assente ali e praticamente não exista uma linha condutora de andamento.

Muito se esperava desta adaptação, que se mostra interessante em alguns aspectos, porém muito pecadora em outros. No final das contas, uma história como esta, com a fama que tem e com o charme que tem, merecia algo um pouco mais satisfatório no campo dos musicais (afinal, existem outras várias adaptações de O Fantasma da Ópera, das quais algumas se mostram muito interessantes). Não é um filme ruim, mas poderia ser bem melhor, ainda mais se levando em consideração o potencial artístico e público que a história possui intrinsecamente.

 
(The Phantom Of The Opera de Joel Schumacher, EUA/Inglaterra- 2004)
 
 
NOTA: 6,0

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SEM LIMITES


Imagine a simples hipótese da existência de um medicamento ou droga que expandisse a capacidade cerebral do ser humano ao seu máximo, sem qualquer tipo de restrição? Não é necessário ser um grande neurologista para saber que uma situação como esta geraria a pessoa possuidora de tal droga uma responsabilidade muito grande. É a partir deste centro e de outras minúcias que o diretor Neil Burger (o mesmo de O Ilusionista) conduz um thriller até certo ponto bem clichê, mas que consegue se sair bem melhor do que a capa sugere.

A fita gira em torno do personagem de Bradley Cooper, um escritor falido, que ao encontrar seu ex-cunhado, recebe deste uma pequena pílula que teria a capacidade de expandir o alcance do cérebro. A partir disto, como é de praxe neste tipo de filme, o personagem de Cooper presencia assassinatos, corre de conspiradores e se vê envolto a tudo aquilo que se pode imaginar com algo deste tipo, seja positiva ou negativamente. O aspecto ficcional acontece no momento em que se insere aqui uma tentativa de explicação dos efeitos que tal droga poderia causar fato que é totalmente desconhecido por nós.

Contudo, acredito que o interessante do argumento da fita é o fato de não desprezar totalmente o ser humano em si. A droga expande o cérebro, mas o ser humano que está inserido ali também interfere, o que faz com que frase do início do filme tenha bastante valor: “se a pessoa já for inteligente, ajuda”. Mesmo com toda essa tecnologia envolvida, o personagem de Cooper só consegue usufruir de todos os benefícios da droga, por que percebe em um momento que deve também pensá-la e não apenas usufruir dela.

Em termos técnicos o filme é clichê. Burger não é um inovador e nem um mestre na arte de fazer cinema. As cenas de ação permeiam entre os chassis da trilogia Bourne com elementos mais arcaicos. A edição rápida e precisa ajuda a criar a tensão, assim como um excessivo movimento de closes do diretor, que em muitos momentos chega a soar irritante. A trilha sonora é barulhenta e incessante e a fotografia tem um aspecto esfumaçado, quase que para criar um clima mórbido e até apocalíptico, mesmo que o filme não tenha nada em relação a tal elemento.

Cooper deixa um pouco em segundo plano seu lado “garanhão” que o está transformando em guru das comédias românticas e cria um bom personagem, com carisma adequado e que carrega bem todos os tipos de situação, inclusive as que exigem mais capacidade dramática. Elimine certo elemento cafajeste que aparece em um limiar de transição do personagem e temos um ótimo trabalho de um ator que ainda precisa provar que é bom. O elenco de apoio com o dinossauro Robert de Niro e a talentosa Abbie Cornish firma um ótimo apoio ao protagonista.

Burger filma com vontade um bom entretenimento, que se não bebe do poço da originalidade (acho que já escrevi essa frase antes por aqui), se sai mais inteligente e mais interessante do que sua capa ou até mesmo seu título aparenta. Funciona muito bem para aquela descompromissada sessão de cinema do sábado à noite, mesmo que seu efeito dure um pouco mais que isso.


(Limitless de Neil Burger, EUA - 2011)


NOTA: 6,5

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MELANCOLIA


A imaginação do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier parece não conhecer muito bem a palavra “limite”. Depois de atormentar mentes e espalhar simbolismos e movimentos bruscos em seu “Anticristo”, Von Trier retorna com este drama/ficção sobre duas irmãs que de repente passam a conviver com a ideia de que um planeta chamado Melancolia poderá colidir com a Terra causando a destruição do mesmo. Se Melancolia não possui o mesmo ocultismo e o mesmo caráter polêmico de Anticristo, ele se mostra um filme muito mais maduro, e até mesmo mais fácil de interpretar, pois ao contrário de seu trabalho anterior, Melancolia é mais aberto a interpretações precisas, além de abandonar um pouco todo aquele subjetivismo arraigado de Anticristo.

Segundo o filósofo holandês Baruch de Espinosa, a melancolia é o sentimento triste que mais se aproxima da morte, pois representa o estado máximo da não-potência de vida, ou seja, o melancólico abandona toda potencialidade para a vida alegre e se embanha em tristeza profunda. Sendo assim, é claro que Von Trier nomeia o planeta de melancolia para mostrar que ela é a responsável pelo estado de espírito de seus personagens, ou pelo menos, a materialização dela. De tal modo, e mais precisamente na segunda parte do filme, temos claramente três personagens que convivem e possuem três claras características que se apresentam mediante a possibilidade “melancólica” de construção, ou seja, em uma situação de destruição, de melancolia, de niilismo (no sentido etimológico da palavra), existem três possibilidades de se comportar, onde temos: o otimista (Kiefer Sutherland) que não aceita a situação até o momento em que ela se mostra empiricamente real, e que propositalmente no filme é o primeiro a morrer; a desesperada (Charlotte Gainsbourg) que simplesmente “entra em parafuso” só com a possibilidade do fim de tudo, e toma atitudes impensadas e que se mostram inúteis e a conformada e pessimista (Kirsten Dunst) que aceita o fim e termina seus dias vivendo a melancolia que o mesmo proporciona. Todavia, Von Trier, com seu pessimismo habitual, parece querer dizer que independente de sua posição, o fim é o mesmo. Uma vida melancólica é a resposta a um mundo melancólico e que acabará de modo melancólico.

A primeira parte do filme é dedicada à construção do personagem melancólico, onde, em uma noite, a personagem de Dunst deixa o emprego, o marido e quase toda a família por não encontrar sentido em tudo aquilo, isso por que se tratava da noite de seu casamento. A sacada de Von Trier é brilhante, pois se utiliza daquele que é considerado um dos maiores momentos de felicidade dos homens (o casamento), para a partir dele, mostrar a pateticidade e o vazio da vida humana. A melancolia e a personagem que a representa estão prontas para a sequência da fita.

Tecnicamente, o filme segue as linhas mais atuais de Von Trier, com aquela fotografia cintilante e brilhante na linha tarkovskyana, câmera quase sempre na mão, com aquela aproximação e aqueles ângulos inclinados que o diretor usa muito bem, cenas marcantes e fortes (como a cena final que é espetacular) e uma trilha sonora contrastante, no caso de Melancolia a utilização do tema de Tristão e Isolda de Richard Wagner, que ao mesmo tempo acompanha o filme e o distancia da mesmice linear. Entretanto, Von Trier parece mais concentrado e consegue unir tudo isto e ligá-los ao roteiro de uma forma muito mais incisiva e contundente que seus últimos trabalhos, o que transforma Melancolia no melhor filme do diretor desde a dupla Dançando no Escuro/Dogville.

O elenco carrega o piano de forma excepcional, com destaque para a inspirada interpretação de Dunst que encontra aqui o melhor papel de sua carreira e para sua companheira de elenco Gainsbourg, que novamente se destaca pelo feeling que dedica ao personagem e pela incrível capacidade de atuação principalmente em cenas extremas e de forte embarco dramático. O elenco de apoio é muito bom e conta com nomes como John Hurt e o ótimo Stellan Skarsgard, além de um Kiefer Sutherland surpreendente, em uma atuação muito acima da sua baixa média habitual.

Polêmico ou não, excêntrico ou não, sádico ou não, a verdade é que Von Trier é fácil, um dos mais inspirados, criativos e originais cineastas da atualidade, fato que torna cada filme seu um espetáculo a parte, esbanjando inteligência e instiga no espectador. Melancolia é um exercício cinematográfico e intelectual de grandioso nível, o que o candidata seriamente a uma das vagas entre os melhores filmes de 2011, provando mais uma vez o descomunal talento que Von Trier possui para criar filmes, ou melhor, para criar obras-primas.


(Melancholia de Lars von Trier, Alemanha/Dinamarca/França/Suécia - 2011)


NOTA: 9,5

terça-feira, 18 de outubro de 2011

AS 10 CENAS QUE EU DEVO ASSISTIR ANTES DE MORRER - Pt1

Para que o Pablão não chegue aos finalmentes e literalmente me mate por deixar de contribuir com o blog resolvi voltar com as 10 cenas que mais gosto no cinema, aquelas que consigo assistir cinqüenta vezes sem que elas percam o efeito de novidade. Faço isso até por uma necessidade de catálogo, para guardá-las no celular como kit de sobrevivência contra eventuais acidentes aéreos, principalmente aquelas catástrofes que deixam a gente como único sobrevivente numa ilha deserta. A principio postaria todas juntas, mas como escrever o pouco e o mínimo não está entre as minhas principais qualidades literárias será uma cena por vez mesmo.


10. La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)



Poucas cenas são tão gostosas de assistir quanto da belíssima Anita Ekberg subindo um rodopio de escadas em “La Dolce Vita”. Nesta ela interpreta Sylvia – uma atriz americana de sucesso em excursão por Roma – que desperta uma paixão dessas de deixar cansado no Marcelo Mastroianni. E faz isso com uma liberdade selvagem de floresta, de criança, de chuva em janela de quarto, de jabuticaba fruta mascada no pé, de sonho bom, se rindo toda rouca ao galgar cada degrau pretendido. Os homens, os paparazzi, os sorveteiros, os jornaleiros, os correntistas que lhe perseguiam nesta fantástica jornada vão desistindo um a um, vencidos pela energia dessa mulher de infinitas tempestades. Anita, mais do que beleza em cabelos loiros cor-de-prata, transbordava a virtude essencial da própria vida: era livre. “Carpe Diem”, uma frase que os próprios romanos repetiram incansavelmente em seus momentos gloriosos, parecia existir somente neste momento de mundo e apenas para descrevê-la por entre as avenidas e azaléias da cidade museu.

A despedida de sua personagem é talvez a maior quebra de mitos do cinema: ao voltar para o hotel com Mastroianni ela encontra na calçada o namorado violento embriagado que, balbuciando qualquer coisa, lhe dá uma bofetada na cara. Anita então transforma o rosto. O tempo parece engatilhar pois seu coração dispara décadas. O corpo adquire o cansaço de corpo, está finalmente entregue à dura passagem dos anos, a dura passagem dos amores, a dura passagem das tragédias e saudades desses amores. E por de trás daquela criatura que aparentava ser genuinamente livre e incontrolavelmente feliz surge uma mulher submissa, triste, sem romance e principalmente humana. Desaparece a atriz, a baita gostosa inconquistável, a deusa onírica de todos os momentos anteriores. O frágil castelo de cartas construído meteoricamente em torno dela é soprado e rompido. Ao vê-la correndo humilhada para o saguão do hotel Mastroianni, que antes a devorava em cada olhar e suspiro, sorri com um profundo carinho para nunca mais reencontrá-la. Muitos (para não dizer todos) consideram “La Dolce Vita” um retrato da decadência e da superficialidade humana, mas particularmente nunca o encarei dessa forma. No final somos todos mais tímidos, gagos, solitários, perdidos, inseguros e tristes que aparentam estas fantasias que os outros vestem na gente. Descobrir isso não é descobrir a decadência no outro, mas o motivo para vida ser tão doce quando se está junto de qualquer pessoa.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

VENCER


Obra de cunho político com elementos de biografia, que perpassa praticamente duas décadas da conturbada Itália do início do século passado, traçando trejeitos que vão desde a Primeira Guerra, Tratado de Latrão até o ápice da ditadura fascista de Benito Mussolini, tudo isto sob a ótica e o olhar de Ida Dalser, controversa personagem da contemporânea história italiana, por seu caso com o ditador supracitado. Vencer inicia-se na década de 10 quando Mussolini ainda era um jovem ativista do partido socialista que se inclinava à frente de barricadas e confrontos citando frases batidas de Bakunin e Proudhon com a esperança de criar um país melhor. Após isso, presenciamos as alterações na vida do futuro ditador até sua atualização na função máxima de um país e todo o entrave de seu caso com Ida.

Escandaloso ou não, a verdade é que Ida foi responsável pelos primeiros passos de Mussolini em uma realidade maior que um simples idealismo jovem pautado na rebeldia e na visão utópica de “um mundo melhor”. Por mais que Ida tenha se apaixonado por este furor e por esta jovialidade de Mussolini, foi em forma de casal que os dois deixaram a fantasia e passaram para a realidade e Vencer traça tal movimento, passando de um amor vibrante para uma dura realidade de perdas e sofrimento. Eu em particular, aprecio muito este tipo de cinema documental que alterna cenas fictícias com imagens de época reais, e especialmente o diretor Marco Bellocchio acerta ao abrir mão de um Mussolini personagem a partir do momento em que o mesmo passa da posição de ativista para ditador supremo. A partir deste momento, toda imagem que temos de Mussolini na fita são reais e representam o verdadeiro ditador de apelido Duce. Como se não bastasse Bellocchio ainda é muito feliz na recriação da época e utiliza muito bem as luzes e sombras, criando em alguns momentos um clima meio sombrio para as situações.

O roteiro bem aguçado, duro e forte, alterna uma acronologia com um elemento jornalístico muito preciso, fazendo com que a fita exija do espectador uma atenção constante e em alguns momentos até desgastante. Contudo, o resultado final é muito bom, e a união entre ficção e documentário, entre roteiro de pauta e periódico (com direito a manchetes no centro da tela e em efeitos de aproximação e desaparecimento entre outros) forma um contexto conciso, tornando Vencer um dos melhores momentos do cinema italiano dos últimos tempos. Cenas brilhantes e magistrais desfilam pela tela, como a conversa frente a frente entre Ida e os médicos psiquiatras e freiras, o enquadramento costal perfeito como momento de solidão da personagem Ida enquanto a mesma se encontra desolada “pendurada” nas grades do manicômio onde está internada, ou ainda o momento em que Ida assiste ao filme O Garoto de Chaplin e desaba em lágrimas por se identificar com a película.

O elenco é formidável, com uma ótima atuação de Giovanna Mezzogiorno como Ida em uma personagem difícil, e um trabalho perfeito de Filippo Timi interpretando Mussolini como jovem e seu filho em posteridade. Timi se destaca nos discursos e no modo como capta os trejeitos do ditador e os reproduz com fineza, algo que pode ser verificado no próprio filme a partir do momento em que as cenas reais do ditador perpassam nossa retina e corroborando o nosso ponto acima colocado.

Um filme que de certo modo já nasceu cult, ainda mais por tratar de um tema nebuloso e pouco explorado, e fazer isto de uma forma original e muito interessante. Um trabalho forte, bonito e muito bem conduzido, que mesmo se alongando um pouco demais, consegue preencher todas as lacunas e responder a todas as perguntas a que se propõe. Para uma pessoa que não se considera um apreciador nem do cinema italiano e nem do cinema francês (a fita é uma co-produção dos dois países), encontrar uma boa produção como este é bem raro, mas de vez em quando acontece.


(Vincere de Marco Bellocchio, França/Itália - 2009)


NOTA: 8,5

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O ABOMINÁVEL DR. PHIBES


Os anos 60 e 70 representaram uma alteração muito forte no cinema de horror. Enquanto os outrora astros Boris Karloff, Bela Lugosi entre outros, deixavam de vez os palcos e as mentes dos amantes do gênero, até mesmo pelo motivo de seus falecimentos (1969 e 1959 respectivamente), outros astros como Christopher Lee e até mesmo Jack Nicholson tomavam as rédeas. Todavia, nenhum deles chegou perto (pelo menos no que diz respeito ao gênero do terror) de alcançar o carisma, a canastrice, a destreza e a maestria de Vincent Price no gênero, e O Abominável Dr. Phibes é, definitivamente, um dos grandes momentos de Price e do terror em si mesmo.

É de importante ressalva que o terror desta época possuía uma tendência muito forte, exatamente onde Price se destacava, onde as tendências cômicas contrastavam com elementos thrash, escatológicos e explícitos, em outras palavras, muito mais que um terror forte e sanguinolento que dominaria os anos 80, os filmes de terror desta vertente, fazia uma deliciosa mistura entre comédia e terror, gerando filmes que nitidamente “não se levavam a sério”. A canastrice de Price encaixou e brilhou precisamente na construção e no desenvolvimento do gênero.

Nesta fita em específico, Price é um viúvo inconsolável, que acredita ter havido negligência por parte da equipe médica que tentou salvar a vida de sua esposa sem sucesso. Depois de ser dado como morto, o Dr. Phibes retorna para firmar sua vingança que consiste em assassinar aqueles que “assassinaram” sua esposa, e para isto, se utilizará de uma tendência baseada das 10 pragas do Egito, elemento clássico da mitologia judaico-cristã.

O roteiro que é até bem amarradinho, leva o espectador a situações que flutuam entre o cômico, o clássico e o grotesco, onde cada cena é uma grande experiência. A influência de suas premissas é gritante, fazendo com que até hoje, Dr. Phibes seja considerado um dos grandes assassinos em série do cinema de horror, além do fato de filmes como Teatro da Morte, estrelado pelo próprio Price, seguir o mesmo trilho.

Não podemos deixar de notar, que o baixo orçamento prejudica bastante o filme, que possui uma maquiagem muito forte e efeitos visuais que, no mínimo, poderiam ser um pouco mais caprichados; agora no que dependem dos humanos do projeto de forma direta, o filme faz jus ao seu caráter cult. Os policiais charlatães, abobalhados e desajeitados contracenam com “mocinhos” sérios e galanteadores, Price possui um ar de mistério que desemboca em sua “parceira” de crimes sempre gélida e misteriosa, sendo que tudo isso é muito bem conduzido por uma direção sincera de Robert Fuest e uma trilha sonora sensacional baseada em toques de órgão, que ajudam e muito a criar aquele clima de calabouço e de tempestade característico deste tipo de cinema.

O Abominável Dr. Phibes marcou época da mesma forma que seu motor Vincent Price, e por mais que estejamos falando aqui de um tipo de cinema que não agrada a todos, o elemento cult desta obra perpassa qualquer opinião levemente preconceituosa. Se o filme não contava com os efeitos e o dinheiro que o gênero possui hoje, compensava-os em um carisma e em uma sinceridade que há muito tempo o gênero perdeu, e sinceramente, eu escolho a turma dos antigos.


(The Abominable Dr. Phibes de Robert Fuest, EUA/Reino Unido - 1971)


NOTA: 9,0

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ZÉ COLMEIA - O FILME


Cinqüenta e três anos se passaram desde a criação de um dos personagens de maior sucesso da igualmente bem-sucedida empresa de cartoons dos gênios William Hanna e Joseph Barbera. Se Zé Colmeia em si nunca foi um de meus personagens favoritos, sempre encontrei em Catatau um personagem ao qual dedicava grande afeição. Essa afeição pela “voz da razão” e pelo eterno companheiro do grande urso pardo especialista em roubar cestas de piquenique no fictício parque Jellystone, já me causou grande tristeza, devido ao problemático longa lançado em 2010, o que me leva a pensar e a tentar adivinhar o quão ruim deve ter sido a sensação dos grandes fãs que a animação possui.

O parque Jellystone está ameaçado devido ao inescrupuloso prefeito da cidade que quer fechar a atração para transformá-lo em um novo complexo urbano. Assim sendo, Zé Colmeia e Catatau unem forças com o guarda-chefe do parque (Tom Cavanagh) e com uma aspirante a documentarista que tenta produzir um filme sobre a excentricidade de Zé Colmeia (Anna Faris). Se a sinopse não concentra nenhuma novidade, o longa apenas ratifica e potencializa tal característica.

O roteiro do filme é de uma infantilidade e de uma falta de criatividade, que é impossível não se atentar ao fato de que, mesmo as crianças, não encontrarão aqui, algo que as agrade. A fita é cheia de passagens imediatistas, mal desenvolvidas, sem emoção e com um estoque de piadas limitadíssimo. O negócio é tal mal desenvolvido, que não consegue nem levar a fita a durar os clássicos noventa minutos, parando o assassinato ao espectador em torno dos setenta e cinco minutos.

O carisma de Catatau e de Zé Colmeia ainda existe afinal isto é algo dos personagens e que independe da técnica de animação ou do meio onde se inserem, todavia, este adjetivo é aqui sufocado por situações clichês, romances baratos, crises existenciais ridículas e uma “teoria da conspiração” totalmente fora de sintonia. Até mesmo a lição de moral e o elemento politicamente correto que quase sempre aparecem em filmes infantis é batido e mal desenvolvido (como é de se imaginar, existe todo um aspecto pró ambientalismo no filme).

Como se não bastasse a dificuldade do roteiro e da produção, a técnica aqui utilizada é a de animação live-action, técnica que mistura pessoas e animações computadorizadas (estilo Alvin e os Esquilos). Eu não tenho nada contra a técnica, entretanto, acredito que a mesma desagrada muitas pessoas, o que dificulta ainda mais a assimilação do filme pelos amantes da sétima arte. Como se não bastasse, fãs mais ortodoxos tendem a torcer o nariz para tal “modernização” dos personagens gerando assim mais um grande problema para a fita: além de não possuir qualidade suficiente para angariar novos fãs, o filme afasta os antigos devido à sua forma, já que conteúdo aqui é quase nulo.

Antes de finalizar este curto texto, faço uma importante ressalva: é necessário, para qualquer espectador, não abandonar o histórico do cartoon. Zé Colmeia e Catatau são lendários e permeiam o imaginário e o sentimento nostálgico de muitas pessoas, assim sendo, é importante frisar que o desenho continua com seu charme e sua importância mesmo após este tiro na água. Logicamente que o filme em si não respeita e nem leva em conta todo este histórico, e é por isso que esta ressalva é tão importante, afinal tenho certeza que o espectador não quererá cometer o mesmo erro que os energúmenos que fizeram isto aqui. Zé Colmeia e Catatau são eternos, enquanto que este filme não passa nem perto disso.


(Yogi Bear de Eric Brevig - EUA/Nova Zelândia, 2010)


NOTA: 2,5