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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

VENCER


Obra de cunho político com elementos de biografia, que perpassa praticamente duas décadas da conturbada Itália do início do século passado, traçando trejeitos que vão desde a Primeira Guerra, Tratado de Latrão até o ápice da ditadura fascista de Benito Mussolini, tudo isto sob a ótica e o olhar de Ida Dalser, controversa personagem da contemporânea história italiana, por seu caso com o ditador supracitado. Vencer inicia-se na década de 10 quando Mussolini ainda era um jovem ativista do partido socialista que se inclinava à frente de barricadas e confrontos citando frases batidas de Bakunin e Proudhon com a esperança de criar um país melhor. Após isso, presenciamos as alterações na vida do futuro ditador até sua atualização na função máxima de um país e todo o entrave de seu caso com Ida.

Escandaloso ou não, a verdade é que Ida foi responsável pelos primeiros passos de Mussolini em uma realidade maior que um simples idealismo jovem pautado na rebeldia e na visão utópica de “um mundo melhor”. Por mais que Ida tenha se apaixonado por este furor e por esta jovialidade de Mussolini, foi em forma de casal que os dois deixaram a fantasia e passaram para a realidade e Vencer traça tal movimento, passando de um amor vibrante para uma dura realidade de perdas e sofrimento. Eu em particular, aprecio muito este tipo de cinema documental que alterna cenas fictícias com imagens de época reais, e especialmente o diretor Marco Bellocchio acerta ao abrir mão de um Mussolini personagem a partir do momento em que o mesmo passa da posição de ativista para ditador supremo. A partir deste momento, toda imagem que temos de Mussolini na fita são reais e representam o verdadeiro ditador de apelido Duce. Como se não bastasse Bellocchio ainda é muito feliz na recriação da época e utiliza muito bem as luzes e sombras, criando em alguns momentos um clima meio sombrio para as situações.

O roteiro bem aguçado, duro e forte, alterna uma acronologia com um elemento jornalístico muito preciso, fazendo com que a fita exija do espectador uma atenção constante e em alguns momentos até desgastante. Contudo, o resultado final é muito bom, e a união entre ficção e documentário, entre roteiro de pauta e periódico (com direito a manchetes no centro da tela e em efeitos de aproximação e desaparecimento entre outros) forma um contexto conciso, tornando Vencer um dos melhores momentos do cinema italiano dos últimos tempos. Cenas brilhantes e magistrais desfilam pela tela, como a conversa frente a frente entre Ida e os médicos psiquiatras e freiras, o enquadramento costal perfeito como momento de solidão da personagem Ida enquanto a mesma se encontra desolada “pendurada” nas grades do manicômio onde está internada, ou ainda o momento em que Ida assiste ao filme O Garoto de Chaplin e desaba em lágrimas por se identificar com a película.

O elenco é formidável, com uma ótima atuação de Giovanna Mezzogiorno como Ida em uma personagem difícil, e um trabalho perfeito de Filippo Timi interpretando Mussolini como jovem e seu filho em posteridade. Timi se destaca nos discursos e no modo como capta os trejeitos do ditador e os reproduz com fineza, algo que pode ser verificado no próprio filme a partir do momento em que as cenas reais do ditador perpassam nossa retina e corroborando o nosso ponto acima colocado.

Um filme que de certo modo já nasceu cult, ainda mais por tratar de um tema nebuloso e pouco explorado, e fazer isto de uma forma original e muito interessante. Um trabalho forte, bonito e muito bem conduzido, que mesmo se alongando um pouco demais, consegue preencher todas as lacunas e responder a todas as perguntas a que se propõe. Para uma pessoa que não se considera um apreciador nem do cinema italiano e nem do cinema francês (a fita é uma co-produção dos dois países), encontrar uma boa produção como este é bem raro, mas de vez em quando acontece.


(Vincere de Marco Bellocchio, França/Itália - 2009)


NOTA: 8,5

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