Os anos 60 e 70 representaram uma alteração muito forte no cinema de horror. Enquanto os outrora astros Boris Karloff, Bela Lugosi entre outros, deixavam de vez os palcos e as mentes dos amantes do gênero, até mesmo pelo motivo de seus falecimentos (1969 e 1959 respectivamente), outros astros como Christopher Lee e até mesmo Jack Nicholson tomavam as rédeas. Todavia, nenhum deles chegou perto (pelo menos no que diz respeito ao gênero do terror) de alcançar o carisma, a canastrice, a destreza e a maestria de Vincent Price no gênero, e O Abominável Dr. Phibes é, definitivamente, um dos grandes momentos de Price e do terror em si mesmo.
É de importante ressalva que o terror desta época possuía uma tendência muito forte, exatamente onde Price se destacava, onde as tendências cômicas contrastavam com elementos thrash, escatológicos e explícitos, em outras palavras, muito mais que um terror forte e sanguinolento que dominaria os anos 80, os filmes de terror desta vertente, fazia uma deliciosa mistura entre comédia e terror, gerando filmes que nitidamente “não se levavam a sério”. A canastrice de Price encaixou e brilhou precisamente na construção e no desenvolvimento do gênero.
Nesta fita em específico, Price é um viúvo inconsolável, que acredita ter havido negligência por parte da equipe médica que tentou salvar a vida de sua esposa sem sucesso. Depois de ser dado como morto, o Dr. Phibes retorna para firmar sua vingança que consiste em assassinar aqueles que “assassinaram” sua esposa, e para isto, se utilizará de uma tendência baseada das 10 pragas do Egito, elemento clássico da mitologia judaico-cristã.
O roteiro que é até bem amarradinho, leva o espectador a situações que flutuam entre o cômico, o clássico e o grotesco, onde cada cena é uma grande experiência. A influência de suas premissas é gritante, fazendo com que até hoje, Dr. Phibes seja considerado um dos grandes assassinos em série do cinema de horror, além do fato de filmes como Teatro da Morte, estrelado pelo próprio Price, seguir o mesmo trilho.
Não podemos deixar de notar, que o baixo orçamento prejudica bastante o filme, que possui uma maquiagem muito forte e efeitos visuais que, no mínimo, poderiam ser um pouco mais caprichados; agora no que dependem dos humanos do projeto de forma direta, o filme faz jus ao seu caráter cult. Os policiais charlatães, abobalhados e desajeitados contracenam com “mocinhos” sérios e galanteadores, Price possui um ar de mistério que desemboca em sua “parceira” de crimes sempre gélida e misteriosa, sendo que tudo isso é muito bem conduzido por uma direção sincera de Robert Fuest e uma trilha sonora sensacional baseada em toques de órgão, que ajudam e muito a criar aquele clima de calabouço e de tempestade característico deste tipo de cinema.
O Abominável Dr. Phibes marcou época da mesma forma que seu motor Vincent Price, e por mais que estejamos falando aqui de um tipo de cinema que não agrada a todos, o elemento cult desta obra perpassa qualquer opinião levemente preconceituosa. Se o filme não contava com os efeitos e o dinheiro que o gênero possui hoje, compensava-os em um carisma e em uma sinceridade que há muito tempo o gênero perdeu, e sinceramente, eu escolho a turma dos antigos.
(The Abominable Dr. Phibes de Robert Fuest, EUA/Reino Unido - 1971)
NOTA: 9,0
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