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segunda-feira, 30 de maio de 2011

CAMINHO DA LIBERDADE


Para muitos estudiosos e curiosos sobre o assunto Segunda Guerra Mundial, nenhum lugar poderia ser pior para um prisioneiro ser enviado do que os gulags russos. Os gulags eram campos de trabalhos forçados no meio da vastidão fria da Sibéria para onde a ditadura de Stálin enviava todo tipo de preso, bastava se opor ao regime stalinista. Caminho da Liberdade o mais novo filme do veterano diretor australiano Peter Weir (de filmes como O Show de Truman, Sociedade do Poetas Mortos, Mestre dos Mares entre outros), e relata a história verídica de um grupo de prisioneiros políticos que conseguiram fugir de um gulag e passaram por situações deploráveis no seu caminho para a liberdade, em pleno conflito supracitado, mais precisamente no início da década de 40.

De tal modo, Weir conduz um filme difícil e que possui uma linha muito tênue entre o precisamente dramático e o excessivamente dramático. Em vários Weir escorrega, mas na maioria do tempo se firma do lado positivo da linha, carregando uma câmera sutil, para contrastar com um ambiente natural extremamente pesado, assim como as situações vividas. A experiência do diretor ajudou muito aqui, já que não foi a primeira vez que Weir se aventurou em épicos deste tipo, mesmo com várias diferenças, no escopo geral podemos ver elementos tanto de Mestre dos Mares quanto de Gallipoli, isso para citar apenas dois. Para ser sincero, Weir nunca demonstrou ser um diretor bem definido e com um estilo marcante, agora eu confesso que sempre do modo como este australiano consegue sutilizar seus movimentos, tudo parece tão dançante e tão leve, que seus filmes, mesmo pesados, te marcam por um sentimento pacífico e não por algo muito brusco ou cortante.

Caminho Da Liberdade possui apenas alguns problemas de roteiro, correndo muito em algumas situações (a fuga do gulag poderia ter sido mais detalhada) e se prendendo muito em outras que a meu ver não possuía essa necessidade (a passagem pelo deserto do centro-leste asiático), mas se defende com uma fotografia, uma cenografia, uma edição de som e efeitos especiais estupendos, que se aproveitam da flutuação das paisagens para alinhar um clima sensacional (as imagens da Sibéria e as representações de tempestades de neve e areia são ótimas), além do fato de que Caminho da Liberdade possui uma das trilhas sonoras mais bonitas e mais bem encaixadas que eu ouvi nos últimos tempos.

O elenco merece um parágrafo a parte. Filmes em que se tem grupos de atuações e que passam de forma coletiva pelas situações do roteiro, se mostram complexas em alguns momentos pela pluralidade dos atores de se compor quanto a tais condições. Aqui esse problema é eliminado devido ao talento como um todo e da maneira sagaz com que Weir e sua equipe formulou os personagens e os conduziu. Ed Harris está brilhante e é bom vê-lo de tal maneira, e o elenco todo faz o filme com uma paixão e com uma vontade, que até parece acreditarem mesmo nesta liberdade fora dos muros de um gulag. Tudo é muito sincero, e o filme trabalha com a importância da jornada e do ato, e se abastece de uma tese central já exposta no início do filme: muito mais que guardas, muros, armas e cães, os prisioneiros dos gulags devem lutar contra uma natureza extrema e cruel para alcançarem seus objetivos, ou seja, é um movimento circular o do filme, já que a natureza ao mesmo tempo que é vilã é heroína, já que na trajetória é dela que tiram a sobrevivência. Essa pseudo-dicotomia (se é que isso é possível) entre uma natureza que ajuda e uma natureza que atrapalha é muito delicada e Weir não a deixa explícita em nenhum momento, porém ela está ali e dá base para todo o processo do filme. A trajetória é natural, a busca pela liberdade é natural, o homem vive com e contra a natureza e deve se nutrir dela e ao mesmo tempo combatê-la. Muito mais que uma guerra bélica, Caminho da Liberdade é uma guerra humana, de si contra sua própria natureza, e as peripécias do mundo.

Estamos diante de um filme muito interessante, bonito, com um final prazeroso e ao mesmo pedagógico, até um pouco cristão, não no sentido religioso da palavra, mas comportamental (pelo menos em conceito, já que sabemos que na prática a coisa é diferente). De vez em quando é bom apreciar um filme tão bem construído, tão bem direcionado e com uma transbordo de vontade e sentimento. Tudo aqui transborda, e isto não é ruim não, já que Weir controla esse emocional de forma precisa e competente. Pode até não ser o filme mais acessível do ano, pode até não ser o melhor filme (realmente não é), mas que filmes como este, sempre são bem-vindos, mesmo que para completar um domingo a tarde, ah isso são, ainda mais para alguém como eu que tenho uma apreciação bem clara e explícita para este tipo de filme.

(The Way Back de Peter Weir, EUA - 2011)

NOTA: 8,0

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