ENCONTRE AQUI

segunda-feira, 23 de maio de 2011

UMA JANELA PARA O AMOR

Um caso peculiar na história do cinema, talvez esta seja a melhor denominação para Uma Janela Para o Amor do diretor James Ivory, já que estamos diante de um filme muito apreciado pela crítica, considerado por muitos um clássico do cinema, contudo, não faz parte do panteão de filmes prediletos nem de um público mais comercial e nem de um público mais alternativo, o que torna a obra de Ivory meio que sem lugar comum entre os cinéfilos, e acredito que isto se deve ao próprio modo de construção da obra.

Filmado de uma maneira muito burocrática, Uma Janela Para o Amor possui sérias dificuldades em se relacionar com o público, gerando poucos simpatizantes entre aqueles que não ligam muito para um tecnicismo maior, gostando mais dos filmes pelas sensações e movimentos que causam a ele próprio. Seria um erro e um exagero rotular este filme como uma obra fria e sem emoção, agora que a coisa é muito mais técnica e se baseia muito mais nisso do que na própria capacidade de agregar espectadores através do sentimentalismo, isto com certeza é.

Eu entendo o motivo da crítica adorar Uma Janela Para o Amor, já que Ivory é de um detalhismo e de um perfeccionismo que em alguns momentos chega até a soar exagerado, contudo, o cara sabe manter o espectador na frente da tela devido a esta perfeição. Tudo é tão bem filmado, bem enquadrado, de um bom gosto tão grande, que em alguns momentos fica difícil escolher entre que parte do cenário focar seu olhar, ou o que apreciar mais. A Inglaterra e a Itália do início do século XX são retratadas com um ar saudosista, precioso, como se tudo fizesse parte de uma tela de Monet ou de algum outro brilhante pintor impressionista. Uma direção de arte impecável, um figurino sensacional, e uma fotografia de encher os olhos, fazem de Uma Janela Para o Amor um dos mais belos filmes dos anos 80, quando o critério de análise é a parte artística.

Por outro lado, Ivory pareceu que se esqueceu de algumas coisas. O roteiro em alguns momentos recorre a resoluções fáceis, e falta profundidade, principalmente na relação que norteia o filme entre a personagem Lucy e George interpretados respectivamente por Helena Bonham-Carter (sem os trejeitos e caricaturas que adquiriu após vários papéis excêntricos nos filmes de seu marido Tim Burton) e Julian Sands. A química entre os dois é muito curta e as coisas acontecem rápidas demais e entre intervalos muito grandes, Nenhum dos dois atores convence de verdade o espectador de que há paixão ou amor em tudo aquilo, fazendo com que na maioria das situações prevalece um clima gélido no filme, o que faz com que o personagem menos deslocado da situação seja o aristocrata noivo de Lucy, Cecil Vyse muito bem interpretado por um jovem, porém já talentoso Daniel Day-Lewis. O outro destaque do elenco vai para a ótima Maggie Smith como a prima Charlotte cheia de pudores e perdões. Judi Dench faz uma pequena ponta e muito bem, diga-se de passagem.

.De um jeito ou de outro, Uma Janela Para o Amor é um grande filme, contudo lhe falta um pouco mais de acessibilidade. A obra de Ivory em alguns momentos me parece aqueles livros hiper-técnicos sobre informática (ou qualquer outro elemento científico, a idéia aqui é o aspecto tecnicista da coisa), que será muito bem recebido por quem é profissional da área, mas jamais seria apreciado por pessoas que usam o computador por lazer, ou gostam de informática sem serem profissionais. Como este ser que vos fala não é profissional, mas aprecia uma obra bem feita e correta, mesmo que peque em alguns aspectos, eu ainda recomendo Uma Janela Para o Amor, afinal nada me garante que o filme capture emoções em outras pessoas que eu não consegui perceber.

( A Room With A View de James Ivory, Reino Unido - 1985)


NOTA: 7,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário