A categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar tem premiado nos últimos anos verdadeiras joias do cinema como O Segredo dos Seus Olhos, A Partida e A Vida dos Outros. Então é claro que a expectativa em torno do vencedor do prêmio esse ano – Em um Mundo Melhor – era muito grande. O filme rendeu à diretora dinamarquesa Susane Bier (de Coisas que Perdemos Pelo Caminho) a estatueta dourada porque se trata de um drama muito sólido, bem construído e com um tratamento muito sensível a um tema que muito facilmente cai no lugar comum – o bullying.
Temos a história de dois pré-adolescentes que estão passando por traumas tanto no ambiente familiar quanto na sociedade. Elias está assistindo ao divórcio dos pais enquanto Cristian sofre pela recente perda da mãe a um câncer. Os garotos ainda sofrem com a violência dos valentões da escola. Mas a situação muda quando Cristian decide reagir e espanca um colega da escola com uma bomba de encher pneus de bicicleta. A vingança funciona: os valentões do colégio passam a respeitar o garotos antes fragilizados. Mais tarde, os jovens também presenciam uma cena de violência contra o pai de Elias, Anton, um médico que divide o tempo entre a família na Dinamarca e o trabalho voluntário em uma aldeia no Sudão. Diante do exemplo na escola, os garotos decidem se vingar pelo pai de Elias, arquitetando um plano de vingança que, é claro: tem tudo para dar errado. E vai dar errado.
O que o filme tenta provar aqui é que quando se paga violência com violência o resultado nunca é bom. Mas não é doutrinação ou pregação de moral e bons costumes. Há um respeito à inteligência do espectador, deixando a mensagem de que a impunidade também não é a solução. Em um trecho episódico em meio à história, vemos o personagem Anton em uma viagem ao Sudão, diante de um dilema: oferecer ou não tratamento médico a um chefe de guerrilha que vem atacando mulheres grávidas da aldeia. Mesmo sabendo se tratar de um assassino, Anton cuida do homem ferido. O que causa certa indignação, tanto aos habitantes da vila, quanto ao espectador. Mas ao perceber que mesmo diante de sua solidariedade a atitude do homem não muda, Anton muda de ideia e dá início a um linchamento ao assassino.
Trata-se de um ótimo filme, que discute sentimentos como rancor e vingança. Mas não é nem de longe o melhor filme falado em língua não inglesa esse ano. Portanto, é bom diminuir as expectativas, pois, elogios a parte, Em Um Mundo Melhor aqui foi superestimado pela crítica internacional.
(Haevnen de Susanne Bier - Dinamarca, 2010)
NOTA: 7,0
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