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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NAMORADOS PARA SEMPRE


A primeira coisa que se deve fazer ao tomar a decisão de acompanhar este drama é ignorar o ridículo título em português que lhe foi designado, já que, por mais que eu entenda a dificuldade em se traduzir o título original do filme (Blue Valentine), os distribuidores brasileiros poderiam ter optado por um título que fizesse jus ao filme de forma mais precisa. Contudo, este talvez seja o único problema de Namorados Para Sempre, ou seja, algo do qual o filme em si não possui culpa nenhuma.

Confesso que me dirigi ao cinema com grandes expectativas, e é com grande alegria que anuncio que todas elas foram ratificadas, isso se não foram até superadas, pois Namorados Para Sempre é de longe um sério candidato a ocupar lugar no ranking dos melhores filmes do ano. Poucas vezes eu vi um filme que conseguisse com tanta força flutuar entre o amor em seu ápice e em tudo aquilo que ele pode causar ao homem em seu bom sentido, e ao mesmo tempo intercalar tudo aquilo que o amor pode causar de ruim ao homem, ou seja, é o amor em suas duas facetas, é o amor destrinchado de forma crua e em alguns momentos até brutal.

Ao acompanhar a ascensão e queda de um casal ao longo de seus vários anos de união o diretor Derek Cianfrance nos proporciona um relato duro e triste sobre um amor que simplesmente se acabou sobre duas pessoas que naufragam e que perdem aquilo que por muito tempo foi o pilar de suas vidas. Cianfrance é extremamente ousado e minimalista na direção. Intercala movimentos bruscos de câmera com tomadas mais simples, corre com a câmera na mão, usa e abusa de closes para “enfiar” o espectador dentro de toda aquela situação, algo que em alguns momentos gera até mal-estar no espectador. Em contraste a isso, quando é necessário mostrar o lado bom do amor Cianfrance consegue soltar um pouco a mão e deixar a coisa um pouco mais leve. Algo muito interessante no filme é sua falta de linearidade no sentido comum da palavra. Ciafrance intercala momentos presentes de infelicidade com flash-backs de momentos de felicidade, em uma união de edição, maquiagem e montagem brilhantes, nos mostrando que a real intenção do diretor é: olha só no que isso se tornou, em uma clara intenção de demonstrar que o amor é algo bom, mas que ele também pode ser extremamente destrutivo, em uma relação dual muito difícil de construir, mas que aqui é feita de maneira brilhante.

Além do já descrito acima, existe outro fator de vital importância para o resultado final de Namorados Para Sempre, que é a dupla de protagonistas. Ryan Gosling e Michelle Williams interpretam dois personagens cada um: primeiramente o ser humano apaixonado, jovem e altivo, e em segundo ponto, interpretam o ser humano cansado, desgastado por um relacionamento definhante e sem qualquer perspectiva de reação por mais que não aceitem isso. Chega a impressionar a força dos dois e a química entre eles nas duas situações (apoiados por um trabalho de maquiagem igualmente majestoso). Gosling e Williams se amam e brigam como loucos e passam a clara imagem estereotipada acima nas duas situações exigidas. Gosling sempre foi um excelente ator, enquanto que a normalmente insossa Williams finalmente realiza um trabalho digno das expectativas que muitos depositam nela. Namorados Para Sempre é, e com sobra o melhor trabalho dos dois.

O roteiro merece uma menção especial. Além do já citado caráter de intercalação entre passado e presente muito bem amarrado, o roteiro não apela para extremismos e nem para lições de moral banais e mal fundamentadas. O argumento consegue envolver o espectador em suas duas fases e consegue misturar drama, romance e alguns toques de comédia com muita precisão, o que torna um trabalho bonito, detalhado e muito, mas muito conciso.

Namorados Para Sempre vem para novamente corroborar a força que o cinema independente ainda possui. Longe dos grandes estúdios e distante de orçamentos exorbitantes, Cianfrance criou um grande filme, que vai ao extremo do ser humano e em sua relação com um outro, tanto em seus momentos felizes como em seus momentos de destruição. Novamente, o já citadamente batido tripé roteiro-direção-atuação se faz o centro e o norte de um grande filme, e mostra que a receita básica para os mesmos continua igual: é só juntar atuações inspiradas, com uma direção precisa, técnica e por que não, ousada; um roteiro forte, lógico e lacônico e como coadjuvante (não como protagonista) um aparato técnico e artístico construído para o filme (e não ao contrário) e que vive para ele. Namorados Para Sempre é tudo isso, e ainda consegue mexer com o público e o levar a sentimentos antagônicos durante toda a extensão de sua película; seja em suas partes ou no todo em si da obra, Namorados para Sempre merece as duas palavras a seguir com entonação de interjeição, ou seja: Simplesmente sensacional.


(Blue Valentine de Derek Cianfrance, EUA - 2010)



NOTA: 10,0

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