A obra do político e pesado diretor estadunidense Alan J. Pakula é um daqueles casos que podemos chamar de “quase clássicos”, ou seja, aqueles filmes que para muitos é espetacular, enquanto que para outros é apenas uma obra como qualquer outro, e quando digo isso, me refiro a críticos e especialistas, em outras palavras, não existe um consenso, ou uma posição forte quanto à representatividade de A Escolha de Sofia para a história do cinema. A verdade é que muitos se lembram do filme por dois motivos em particular: a atuação brilhante, e talvez a melhor da carreira de Meryl Streep e a clássica cena pré-final, onde a personagem de Streep passa por um dilema terrível, principalmente levando-se em conta a posição de mãe.
Eu admito que estes dois motivos são realmente bons motivos, mas me sinto mais inclinado a compartilhar da posição daqueles que julgam a obra de Pakula como “outra obra qualquer”, uma boa obra em vários momentos, porém sem todo esse aspecto “brilhante e inesquecível” aos quais muitos a credenciam. Na frieza da análise, A Escolha de Sofia é um filme duro, distante, cheio de situações desnecessárias e que se utiliza da
apelação com o espectador para não explicar muito bem as coisas e seguir adiante.
O filme é morno, como quase todas as obras de Pakula, porém com um agravante: o terreno aqui é outro. Pakula é um diretor conhecido por filmes com temáticas mais políticas (basta ver sua obra-prima Todos os Homens do Presidente, este sim um ótimo filme), temática esta que permite se levar um filme no meio-termo, pois se trata de um tema que suporta isso, contudo dramas como este aqui não permitem isso. Dramas familiares e amorosos como este, quando não sabem cadenciar o ritmo, esquentar o espectador de vez em quando ou até mesmo dar um empurrão de vez em quando, se transforma em algo muito chato e repetitivo, algo que acontece nesta obra.
Muitos acreditam que o ápice do filme é a cena citada no primeiro parágrafo, mas não é. A clássica cena (que eu não vou contar para não estragar quem tem interesse em ver o filme) é apenas o ápice dramático do filme, não o argumentativo. A verdadeira escolha da personagem de Streep é pela vida que leva, pelo marido (interpretado de modo estabanado por Kevin Kline) e principalmente, uma escolha para viver uma gratidão, uma escolha que a leve para uma vida longe das lembranças e das tragédias do holocausto, fato vivido pela personagem mesmo esta não sendo judia.
O grande problema é que o roteiro não se explica em alguns momentos. Qual a função do contexto que envolve o pai da personagem? O marido de Sofia possui problemas de saúde, no caso, mentais, mas aparenta distúrbios de pensamento de uma pessoa excêntrica, mas não debilitada mentalmente. Por que abandonar tão bruscamente a carreira literária de Stingo, mantendo-a apenas na periferia e ainda colocando-a como elemento da trama do triângulo amoroso. Como se não bastasse; todos estes problemas acontecem em um ritmo lento, e acontecem agregados a uma mão pesada de um diretor acostumado com filmes de outra estirpe. Em alguns momentos falta leveza a Pakula, falta ritmo de drama familiar, podemos até dizer que falta um pouco de sensibilidade com um espectador que na maioria das vezes não será o de seus outros filmes.
A Escolha de Sofia é um filme que fez sua fama e a mantém até hoje, parasitada em uma cena de fato belíssima e em uma atuação brilhante (o sotaque que Streep impõe à personagem Sofia é de uma naturalidade e de uma riqueza poucas vezes vista na história do cinema) de uma grande atriz, e nada mais. No final das contas, não passa de um filme comum e que possui vários defeitos, livrando-se do medianismo e do corriqueiro por esparsos momentos; o que é muito pouco para um filme se tornar o que alguns por aí dizem que este é.
(Sophie´s Choice de Alan J. Pakula, EUA - 1982)
NOTA: 6,0
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