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terça-feira, 16 de agosto de 2011

QUERO MATAR MEU CHEFE



Quando Se Beber, Não Case fez um estrondoso e surpreendente sucesso há alguns anos atrás, era de se esperar que seu estilo e seu andamento quanto ao gênero de comédia, gerassem novas obras. A verdade, é que isso não aconteceu muito, provavelmente verificado através da dificuldade que se fazer um bom filme nesta mescla comediada que abusa de um humor às vezes explícito, cheio de contra-piadas e de vários elementos de humor negro, associando situações absurdas com situações comuns do cotidiano. Quero Matar Meu Chefe, segue a linha da obra acima citada, contudo, se analisarmos a mesma na frieza do conceito, verificaremos que a sucessora, supera sua antecessora quando a base de comparação é o escopo geral, mesmo que, quando o assunto é desenvolvido e as partes tomadas cada qual a si mesma, a superação, dependendo do gosto do freguês, deixe de existir.

Acredito que o problema central de Quero Matar Meu Chefe é mais acessível, pois é de certo modo mais universal. Explico: enquanto Se Beber, Não Case partia de uma despedida de solteiro, que é um costume basicamente estadunidense, e que não grada muita gente, pelo seu caráter, digamos exótico; Quero Matar Meu Chefe possui em seu cerne uma situação mais realista; afinal é muito difícil se encontrar no mundo alguém que nunca tenha tido problemas com algum chefe que passou pela vida de indivíduo; ou seja, a relação filme-espectador é mais próxima.

Todavia, isto de nada adiantaria, se as piadas do filme de Seth Gordon não funcionassem, o que, felizmente não é o caso. Quero Matar Meu Chefe não é aquele filme que veio para dar um fôlego de originalidade a um gênero cada vez mais clichê, mas com certeza, dentro destes clichês, é uma das obras atuais que melhor os utiliza, em outras palavras, Quero Matar Meu Chefe não é um filme genial, contudo é bem acima da média, quando o parâmetro comparativo são as outras comédias que aparecem em nossa tela.

O longa acompanha a odisséia de três amigos de infância que possuem chefes simplesmente horríveis, e que assim, armam um plano onde intercalam os assassinatos dos chefes entre eles, ou seja, o personagem A mata o chefe do personagem B, este por sua vez o chefe do C e assim vai, em uma relação claramente e assumidamente inspirada no clássico Pacto Sinistro de Alfred Hitchcock.

As situações e movimentos seguem um adágio comum nas comédias, contudo, o filme acerta por não vulgarizar a coisa e nem voltar atrás em suas decisões de ser politicamente incorreto, para melhor compreensão, um dos grandes méritos de Gordon é não apelar para um moralismo chulo em suas soluções, única e exclusivamente para agradar um público mais “puritano” por assim dizer. Algo que me agradou muito é o fato de o próprio filme, zombar de si mesmo, inserindo muitas “rinchas” entre os personagens, que culminam em discussões e debates sobre as próprias piadas. Talvez Se Beber, Não Case agrade mais uma geração fortemente influenciada por tendências mais libertinas, contudo, em minha singela opinião, Quero Matar Meu Chefe é de um bom gosto mais apurado, o que faz com este segundo, se torne um filme mais acessível quando o assunto é um público mais geral, ao invés de especificado.

Outro ponto forte em Quero Matar Meu Chefe é o elenco. Kevin Spacey está excelente na pele de um chefe pra lá de psicopata, mostrando mais uma vez uma versatilidade estrondosa e o porquê é, de longe, um dos melhores atores da atualidade. Entre os amigos, as interpretações de Jason Bateman e Charlie Day são impagáveis, principalmente o segundo, que encarna um difícil personagem, misturando excentricidade com certa inocência, formando uma miscelânea que funciona de forma perfeita.

Ainda acho interessante outro aspecto do filme, do qual ouvi poucos comentários. É importante ressaltar, em minha opinião, o fato de que, eles preferem matar seus chefes a simplesmente solicitarem demissão e partirem em busca um emprego mais agradável, ainda mais quando encontram um ex-amigo de colegial, com curso superior e tudo, procurando emprego a mais de dois anos e tendo que se prostituir para ganhar um dinheiro. Pode até ter sido de forma indireta, mas reflete um pouco o sentimento de medo dos estadunidenses com o desemprego que impera no país após a recessão econômica de 2008 e a conseqüente crise pela qual o país passa até hoje. Se antes o desemprego nos EUA era apenas motivo para piada contra os países subdesenvolvidos, hoje ele é uma realidade, e uma realidade que assombra fato que, direta ou indiretamente, acabou criando certa influência nesta obra.

Momentos mais críticos à parte, Quero Matar Meu Chefe se mostra uma boa comédia em quase toda a sua extensão. Divertido, absurdo na medida certa e correto quando precisa ser, a película de Gordon mostrou que; se ainda não se encontrou os caminhos da originalidade para salvar o gênero da comédia da mesmice, é possível agradar e divertir os espectadores com o mais do mesmo, desde que este se apresente de forma agradável e que encontre a dosagem precisa entre o certo e o errado, entre o politicamente incorreto e a apelação, entre uma boa piada e a vulgaridade, entre o humor de qualidade que já agradou milhões de pessoas ao longo de toda a história do cinema e este humor babaca e estúpido que andam fazendo nos últimos tempos e que alguns seres ainda possuem a capacidade de nomear como comédia. Existe luz no fim do túnel, e não é um trem em alta velocidade.


(Horrible Bosses de Seth Gordon, EUA - 2011)


NOTA: 7,5

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