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segunda-feira, 6 de junho de 2011

CINE MAJESTIC


O diretor Frank Darabont filma muito pouco, e normalmente adapta contos ou livros de seu amigo Stephen King. Cine Majestic é um dos poucos momentos de Darabont e como longa de cinema, o único momento até agora em que o diretor optou por não usufruir dos escritos de King. O resultado? A certeza de que Darabont deveria trabalhar um pouco mais, para a alegria de todos nós.

Cine Majestic é uma miscelânea de vários aspectos de uma sociedade americana que está se recuperando ainda do golpe sofrido na Segunda Guerra Mundial (por mais que o país tenha saído vitorioso). Darabont se utiliza de um visual poético, de um roteiro astuto e cheio de frases de efeito e de discursos emocionantes para tratar da paranóia macartista, da lembrança triste da guerra, do início do rock n´roll e da chegada do cinema falado, entre outros aspectos. Jim Carrey interpreta um roteirista de cinema que é acusado de comunismo pelo regime macartista, perde seu emprego e fica inconsolável. Ele pega seu carro e acaba sofrendo um acidente (sim, um pequeno clichê que não mata ninguém), o que faz com que o mesmo, acorde sem memória em uma pequena cidade da Califórnia, onde é confundido com um jovem que todos acreditavam ter sido morto na guerra. A partir daí, o filme vai desenvolvendo as relações entre o personagem de Jim Carrey e os habitantes da cidade, incluindo o pai e a noiva do jovem ao qual ele foi confundido.

A partir daí Darabont começa a entrar em um território muito perigoso, pois começa a trabalhar com várias dicotomias. Temos a questão do mundo como ele é, e de como ele deveria ser, capitalismo e comunismo, vida moderna e vida provinciana, alegria e tristeza, e até mesmo um pequeno embate entre música clássica e o novo estilo rebelde de música. É incrível notar o talento do diretor em transitar do otimismo ao pessimismo, O filme passa de Ken Loach para Frank Capra e vice-versa sem o menor pudor, fazendo com que o espectador flutue sobre tais sensações da mesma maneira. Quando tudo parece que vai dar certo, o negócio dá errado, por outro lado, quando parece que vai dar errado, dá certo e assim vai, sem que Darabont perca a mão ou mude seu jeito sutil e tocante de filmar.

Com belas imagens, grandiosos momentos de ode ao cinema, e um elenco muito interessante, com destaque para o ótimo Martin Landau como o pai do personagem de Carrey e sonhador dono do Majestic.Todavia, Cine Majestic exige um cuidado do espectador com um aspecto um pouco delicado. O filme parece querer realizar uma dura crítica ao macartismo e ao american way of life que tal política implantou, e ao fazer isso toma um caminho que acaba se mostrando um pouco apologético. A dicotomia mundo como ele é e mundo como ele deveria ser, implicou nisso. Enquanto os EUA eram um país assolado pela política de caça as bruxas do senador Joseph McCarthy, espera-se outro país, uma nação livre, feliz, e que honre os mortos na Segunda Guerra que lutaram por este segundo e não pelo primeiro. O problema é que Darabont acaba escorregando um pouco aqui, e quem se incomoda com esse caráter patriótico que os estadunidenses inserem nesses filmes, e se incomoda ainda mais por uma apologia idealista àquela sonhada democracia americana, pode encontrar nestes momentos da fita um grande defeito. Eu confesso que em alguns momentos o negócio incomoda, e se Cine Majestic não é um filme perfeito, isto se deve a tal deslize, por que do restante o filme é excelente.

Lidar com a relação mundo real e mundo ideal é algo difícil, mas Darabont já fez isso antes e de um modo muito mais sutil e preciso, sem soar em alguns momentos apologético, exemplo disso é o cult Um Sonho de Liberdade, onde tal posicionamento aparece de forma tão interessante e sutil que não interfere do gosto pela fita, ou seja, não; Cine Majestic não é melhor que Um Sonho de Liberdade, que continua sendo o grande momento de Darabont.

No final das contas, temos um ótimo filme, mas um ótimo filme com um defeito grave, que se tivesse sido mais bem contornado pode gerar um resultado ainda melhor. Contudo, castigar todo o bom trabalho de Darabont, produção e elenco por este escorregão seria injusto demais. O filme é emocionante com várias cenas de rara beleza e com todo aquele clima nostálgico dos anos 50. Darabont flutua entre várias emoções, mas no final (totalmente capriano) mostra que na realidade, em algum lugar do mundo real, o mundo ideal vive e está esperando por todos nós, cada qual a seu modo, mas não adianta perder seu tempo procurando, pois é ele quem o encontrará, você só tem que perceber. Explica-se então o motivo pelo qual o filme foi um fracasso de público, afinal uma mensagem dessas em 2001? Darabont não deve ter percebido, mas essa geração atual não se importa muito com isso, deixando então a apreciação de tal filme para aqueles arcaicos e saudosistas, que este ser que vos fala aqui.


(The Majestic de Frank Darabont, EUA - 2001)


NOTA: 8,0

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