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segunda-feira, 13 de junho de 2011

SENNA


Da

Das várias coisas e gostos presentes em minha vida e que me acompanham pelos lugares e momentos em que passei um dos que considero (ou pelo menos me lembro) mais antigo e mais vibrante em mim até hoje, é minha paixão por esses carrinhos que correm um atrás do outro e que recebe o nome de Fórmula-1. Ao contrário da maioria dos saudosistas de plantão (lembrando que eu não vejo problema nisso), minha paixão por esta arte não se foi com a morte de Senna, mas apenas se potencializou com o meu crescimento físico e mental. Pilotos como Mika Hakkinen e Kimi Raikkonen se transformaram em grandes ícones para mim, que carrego até hoje minha torcida pela equipe McLaren. Todavia, toda esta paixão tem um ponto de partida, e este ponto é o rapaz que dá nome a este documentário.

Lembro-me de ter 8 anos quando Ayrton Senna morreu. Eu assistia ao GP de Ímola na TV da sala da minha residência ao lado do meu pai, que sempre foi meu companheiro de corridas e jogos de futebol. Lembro-me do acidente e ter ficado bem triste, já que, mesmo sendo apenas uma criança, já havia me tornado um fã de Senna e um fã de Fórmula-1. Não considero Senna um herói nacional, ou um embaixador da paz nem nada do tipo. Minha relação e admiração a Ayrton Senna começam e terminam dentro de um universo, que é o da Fórmula-1. Nunca me interessei por sua vida extra-corridas e nem me interesso agora, e este talvez seja o grande motivo pelo qual o documentário de Asif Kapadia, tenha me cativado tanto.

Não há motivo para outra abordagem. Um bom documentário sobre Senna deve e tem que ser sobre o piloto, sobre o gênio que este homem era dirigindo um Fórmula-1. Feito desta forma, os pitacos de heroísmo e apologismos presentes na fita, assim como os namoros do diretor com a vida pessoal do piloto não prejudicam a imagem do monstruoso piloto que Ayrton Senna foi. Os depoimentos e o modo como Asif Kapadia conduz o documentário é muito interessante, e possui foco, sempre se utilizando de argumentos extras para guiar o espectador para o que realmente importa que é o Senna piloto, o Senna veloz, o Senna amante do que faz, o Senna vencedor, e o que o transformou nisso foi a Fórmula-1 e não suas ações externas. Logicamente, que a composição gera um todo, mas deve-se sempre focar no tronco, para depois expor os galhos, não há galhos sem tronco, não há ramificações sem uma base sólida, e Asif Kapadia faz isso muito bem, mostrando ao espectador que o importante é entender o piloto, e que disso todo o restante é mais simples, pois na relação de conseqüência é impossível se entender os momentos sem se entender o motor.

O documentário é simpático, sincero, e feito por pessoas sérias, que sabem discernir a admiração pelo profissionalismo. Pode ser assistido até mesmo por não-fãs de Fórmula-1 e de Senna, mas o impacto não será o mesmo. Ágora, que estamos diante de uma obra sensacional e de grande valia para fãs como eu, isso estamos. Exageros sempre aparecem, mas Ayrton Senna é um documentário que consegue empolgar sem ser apelativo, emocionar sem ser melodramático, contar uma história sem ser mistificar excessivamente o negócio, e principalmente consegue identificar muito bem para si mesmo e para o espectador, o que é importante e o que é detalhe, o que realmente deve ser tirado dali, e o que são apenas dados biográficos e de curiosidades. Uma análise calma e convincente do esporte Fórmula-1 e tudo o que o envolve, uma análise do piloto, do ser humano e de seus atos, cada qual encaixado no momento certo e cada qual ocupando o espaço correto de importância.

Uma última ressalva que eu acho importante. O filme é uma produção britânica, o que me leva a pensar o que o cinema brasileiro anda fazendo? Enquanto os ingleses pegam nosso ídolos e o transformam em protagonista de um documentário deste nível, o cinema nacional enche as salas de cinema com comediazinhas e draminhas chatos e sem fundamento cheio de atores globais sem talento. Lamentável. Depois quando eu critico o cinema nacional, tem gente que diz que eu não dou valor às coisas nacionais. É lógico que eu dou valor, assim como os britânicos fazem e não como os alienados globais da geração BBB. Desabafos à parte, como fã de Fórmula-1 e como fã de Ayrton Senna, fiquei muito feliz e muito satisfeito com o resultado do trabalho de Asif Kapadia; afinal existem algumas coisas para as quais eu sou bem dogmático: Darth Vader é o maior personagem da história do cinema, Freddie Mercury é a maior voz que já pisou em um palco, entre outras coisas, são afirmações às quais eu não aceito nem discutir, e com certeza entre elas se encontra a afirmação de que: Ayrton Senna é o maior piloto da história da Fórmula-1 e merecia um filme como este.


(Senna de Asif Kapadia, Reino Unido - 2010)


NOTA: 8,5

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