Logo na capa do DVD de Watchmen, encontramos a seguinte frase: “Do visionário diretor de 300”. Visionário é uma palavra forte e que exige sustentação em qualquer contexto, contudo, no meio cinematográfico seu sentido é ainda mais forte, significando um elemento inovador, ou algo que consiga se lançar à frente do seu tempo, revolucionar, inovar e alterar de alguma forma a linguagem cinematográfica, mas não apenas em aspectos particulares, mas em âmbito, nos remetendo a sensações de que um filme nunca mais será visto da mesma forma, depois de tal experiência. Nomes como Fellini, Tarkovsky, Kubrick, Von Trier e tantos outros, realizaram tal proeza e hoje se colocam como gigantes do cinema. Dito isto, trago uma questão ao leitor: Após a experiência de quase três horas que Watchmen proporciona, é possível encaixar Zack Snyder, o diretor de tal obra como um visionário? E a resposta é: Não.
Em Madrugada dos Mortos já presenciamos um diretor, que por mais ousado que possa ser, é bem falho em preceitos básicos de direção, mesmo assim, o filme é até legalzinho, algo que também acontece em 300, obra ovacionada por público, mas que está longe de ser um grande filme. Não dá pra negar, que Snyder consegue como poucos se utilizar de efeitos visuais e especiais para criar todo o clima de seus filmes, agora é nítido também que seus filmes carecem de algo que pra mim ainda é muito importante; e este algo atende pelo nome de roteiro. Watchmen tem visual arrasador, efeitos especiais de cair o queixo e uma barulheira proporcionada pelo ótimo trabalho de som que chega a doer os ouvidos, todavia, ficam algumas perguntas: desde quando isto basta para se fazer um grande filme? O que aconteceu com o velho e bom tripé direção, roteiro e atuação? Não é possível se utilizar dos novos rumos cinema em união com este antigo e fiel tripé?
Tais perguntas são pertinentes, e a resposta para elas possa ser encontrada em um simples exemplo do ano passado. Christopher Nolan nos mostrou com o seu A Origem, que é possível unir bons efeitos com bons argumentos, profundidade com tecnologia, ou seja, filmes como Watchmen perdem seu apoio com o aparecimento de filmes como A Origem, já que é pra nomear e adjetivar prefiro dizer que Nolan é um visionário e não Snyder.
Watchmen é um filme extremamente vazio, sem conteúdo algum e que se aproveita de movimentos tecnológicos de última geração para esconder uma falta de cérebro poucas vezes vista nos últimos tempos, e o pior é que Snyder sabe disso e não faz nada para rebater, deixando claramente a imagem de o diretor em questão sabe que o público de seu filme e não quer nem saber do restante, em outras palavras; podemos dizer que Watchmen é um filme assumidamente sem roteiro, feito para um público que não se importa nem um pouco com isso, e quer ver mesmo é bordoada na tela, efeitos de última geração é barulheira.
Não li os quadrinhos, então não tenho a menor intenção de realizar uma comparação entre as fontes, me atendo apenas ao filme. Assim sendo, tenho apenas a dizer que Watchmen é uma experiência conturbada, cheia de buracos e que menospreza demais a capacidade cognitiva de seu público, praticamente jogando na cara que tudo aquilo só funciona devido ao baixo teor intelectual daqueles que o acompanham, ou, para não ser tão prepotente, devido ao descaso de seu espectador pela existência de um bom roteiro por detrás de todo o aparato tecnológico.
No final das contas, Watchmen se mostrou mais um produto de um estilo de cinema que se esquece de elementos artísticos e abusa de elementos tecnológicos. Peço desculpas por soar arcaico ou reacionário, mas a verdade é que muitos podem não ligar para a falta de compromisso com um bom roteiro de algumas obras, porém para este ser que vos fala um bom argumento ainda é o ponto mais importante de um grande filme, assim sendo, analisando a capacidade de Snyder com roteiros, direção de atores e outros aspectos menos tecnológicos (já que o aspecto tecnológico, incluindo som e efeitos especiais principalmente é o território que Snyder domina muito bem), para encaixá-lo na categoria de visionário e igualá-lo a nomes como os citados neste texto e muitos outros só nascendo novamente.
(Watchmen de Zack Snyder, EUA - 2009)
NOTA: 3,5
Sem contar que você nem falou realmente das péssimas atuações!!! Minha nota é 2
ResponderExcluir