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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO


Isabela Boscov, crítica de cinema da Veja, em uma de suas críticas diz a seguinte frase: " Eu não tenho nada contra bobagens, desde que me divirta", e Scott Pilgrim é uma das grandes bobagens produzidas nos últimos tempos, porém, ela está longe de ser uma bobagem divertida, ao contrário, já que a fita pode até ser "cool", inovadora nas questões de montagem e cenografia, agora carece de vários elementos essenciais para se fazer um filme, principalmente, um bom filme.

O filme vem arrancando elogios e mais elogios por aí, sendo colocado por alguns até como um dos melhores filme do ano, o que eu particularmente não consigo entender; todavia, opinião é opinião, e a minha é bem diferente. Eu até suporto vários defeitos em filmes como efeitos especiais meio fraquinhos, uma direção cambaleante, atuações meio esquisitas e coisas assim, agora Scott Pilgrim possui um defeito que eu simplesmente não consigo aceitar, que é a falta de coerência em seu roteiro, se é que podemos chamar aquilo de roteiro.

O filme é - no sentido metafórico - burro. A história é sem sentido, piegas, chata, clichê, vazia e não explica nada. Estamos lá, acompanhando a vida de Scott Pilgrim quando de repente, do nada ele se apaixona, aí de repente, do nada, aparece um ex-namorado da moça à qual ele se apaixonou dizendo que ele terá que enfrentar a liga dos 7 ex-namorados do mal e ele é o primeiro deles, e de repente, do nada, Scott Pilgrim se transforma em um mestre da luta, resumindo, tudo isto e muitas outras coisas acontecem e ninguém explica nada. Por que os ex são maus? Por que foram " chutados " por Ramona (a namorada de Pilgrim e causadora dos problemas) Como Pilgrim adquiriu capacidades de luta? Por que os caras continuam lutando por uma ex, sendo que não existe mais nada entre eles? E várias outras perguntas sem resposta. Se a atual geração do cinema não se importa mais com a falta de um bom roteiro, me desculpem, mas eu me importo.

Como se não bastasse, o filme tem vários personagens sem função alguma, como a irmã de Pilgrim interpretada por Anna Kendrick, que é uma boa atriz, e mesmo sem função, é responsável por uma das poucas boas piadas do filme, daí já dá pra sentir o nível. Michael Cera que interpreta Scott Pilgrim é um ator que sempre está com cara de chorão, e seu Scott Pilgrim transita entre o adolescente bobão e o super lutador que vencerá a liga dos ex-namorados pelo amor de uma garota que ele viu em um sonho e depois conheceu em uma festa em poucos dias (What a hell????). Um dos poucos pontos positivos do filme é Kieran Culkin no papel do amigo gay de Scott Pilgrim.

Na parte técnica o filme pode até inovar pelo modo como é montado e tudo o mais, agora, a edição precisava ser tão veloz? Existem momentos em que é quase impossível acompanhar o ritmo do filme. Além disso, o filme é tão colorido que em alguns momentos chega a cansar, tudo é uma mistura de vermelho, rosa e laranja batendo na cara do espectador com toda a força. As referências aos vídeo-games, RPG´s, e a cultura indie-emo-pop são claras, e por mais que as quase citações a games clássicos como Sonic (os ex-namorados e seus capangas quando morrem viram moedinhas), Zelda e outros soem legais, tudo é banalizado e transportado a uma culturalização moderna, bizarra e fútil. A trilha sonora é cruel e um ataque aos ouvidos e a boa música, com músicas que vão desde o indie rock em sua pior colocação, até músicas eletrônicas chatíssimas.

Scott Pilgrim transforma a vida real dos personagens em uma partida de vídeo-game, só se esqueceram de uma coisa: os grandes games, adquiriram esse caráter por que também possuem boas histórias, e este filme aqui parece colocar a clara ideia de que geek, fãs de games e afins, só querem saber de ação, aventura, porrada e barulho, o que não é verdade (o que são aquelas representações escritas de onomatopéias? aquilo enche muito o saco, afinal todo mundo sabe o som que uma cabeça batendo na parede faz). Tudo aqui é banalizado e elevado a futilidade de uma cultura que a cada dia se mostra mais sem conteúdo e chata, e olha que entre os banalizados existem coisas "sem importância" para o mundo como amor, amizade e a inteligência dos personagens e espectadores.

Filmes de nerd (ou geek, como preferirem) existem aos montes e bem melhores e interessantes como as boas comédias de Kevin Smith, o atual Kick-Ass - Quebrando Tudo e em um âmbito mais sério, A Rede Social e Matrix por exemplo, cada qual em seu contexto. Scott Pilgrim é uma grande bobagem, mas de qualidade extremamente duvidosa e de um mal gosto incrível, além de ser vazio, fútil e estúpido. Se a intenção do filme era fazer uma crítica sobre os artefatos da juventude atual, me desculpem mas eu interpretei errado, já que pra mim, isso aqui soa mais como apologia, e se Scott Pilgrim é um retrato da nova juventude que agora ocupa um espaço que já foi da minha geração (mesmo os personagens do filme tendo em média 23 anos pra mais, agem e pensam como jovens de 15 pra menos), ele realmente criou uma sensação em mim que eu ainda não havia experimentado, a de gostar de ter 25 anos e não ser parte mais de uma "geração atual".

Um filme ofensivo, e que não conseguiu me causar outra coisa além de sono e um pouco de revolta, tamanhoa a manipulação e estupidez do negócio. Um dos piores filmes que vi neste ano, e o pior é que a moda deve pegar.


NOTA: 3,0

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