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domingo, 24 de julho de 2011

MEU PRIMEIRO AMOR

 

Não é segredo nenhum, que Meu Primeiro Amor é um daqueles filmes que atualmente fazem parte de um panteão de obras carinhosamente chamadas pelos fãs de “clássicos da Sessão da Tarde”. Também não é segredo nenhum que Meu Primeiro Amor está na lista de favoritos de várias pessoas, principalmente daqueles que cresceram acompanhando e se emocionando com a história de Vada e de Thomas J. Agora, vinte anos depois, o que restou desta obra outrora tão significativa e tão amada? E a resposta, para a alegria de muitos, é que Meu Primeiro Amor alcançou um status que poucas pessoas, ou até mesmo nenhuma, chegou um dia a imaginar, o filme se tornou um clássico, e é ainda hoje insuperável quando o assunto são as descobertas e o despertar sentimental das crianças, seja para sentimentos de alegria ou para sentimentos de tristeza.

O grande trunfo de Meu Primeiro Amor é a sutileza, e a capacidade de ter conseguido se livrar de jargões e preceitos pré-concebidos envolvendo esta fase tão complicada da vida das crianças. O filme não tenta um relato objetivo da questão, mas sim subjetivo, tanto que a maior parte do filme se passa no casal central de protagonistas, e mesmo quando se desvia para outros personagens, estes continuam sob o atento olhar dos anteriores. Dan Aykroyd e Jamie Lee Curtis, possuem o mérito de perceber que o filme é doa atores mirins e em nenhum momento tentar subverter ou inverter para seu próprio lado tal situação; sendo que isto colabora demais para o resultado final.

A direção de Howard Zieff é precisa e acerta demais em criar uma vivacidade muito bonita ao acompanhar de várias maneiras o casal de protagonistas. Em alguns momentos a câmera está longe, de repente ela está frente a frente com os dois, em um meio termo, tudo dependendo da intensidade e da necessidade da cena para o enredo geral. A cena do primeiro beijo de Vada e Thomas J. jamais se tornaria inesquecível do jeito que se tornou se não fosse pelo perfeito enquadramento de Zieff. O roteiro é uma beleza a parte. Cheio de situações e diálogos emocionantes, divertidos e bem encaixados, possui o mérito de tratar um assunto complexo de forma tão cativante e sem cair em erotismos implícitos e em situações apelativas e desnecessárias.

Agora, tudo isto nada mais é que o corpo do filme, pois a alma, a essência, o coração do negócio está na dupla mirim Anna Chlumsky e Macaulay Culkin. Sem eles e suas ótimas interpretações, Meu Primeiro Amor não seria nem de perto o que é hoje. É impressionante como dois atores tão jovens podem possuir tanta química e se unirem tão bem. Ao mesmo tempo em que passam pelos mesmos problemas, representam um antagonismo muito forte. Ela, pela convivência fina com a morte (seu pai é dono de funerária), possui uma visão menos “reprimida” das coisas (pelo menos em teoria) e se solta mais, enquanto ele se mostra uma clássica criança mimada pelos pais, com horários para tudo, até pelo fato de se tratar de um menino “alérgico a tudo”. De modo bem sutil, é como se ela procurasse ser o que ele é; enquanto ele procura ser como ela. Em particular, eu prefiro o personagem de Culkin, que é muito mais preciso e se encorpa melhor, contudo os dois formam fácil, um dos mais marcantes casais dos últimos vinte anos de todo o cinema. Todavia, o grande antagonismo representado pelos dois está no par conceitual amor/morte. Vada só percebe o que sente por Thomas J. após perdê-lo, enquanto que Thomas J., indiretamente, perde sua vida por um capricho de Vada. A descoberta do amor é mais difícil de perceber do que a dor de perdê-lo, e talvez seja por isso que a maioria das pessoas precisam perder um amor, para realmente taxá-lo como tal. Esta ideia é tão banal hoje, que soa até boba no modo como eu a represento, mas talvez tenha sido exatamente esta ideia que perpetuou este filme, já que quando Vada desejou dizer a Thomas J. que ele era seu melhor amigo, já era tarde demais. O par conceitual se funde na figura de Vada, a partir do momento em Thomas J. morre, tornando-se o ápice, pois pela primeira vez, os dois sentimentos se mostram tão fortes nela mesma, algo que anteriormente ela só havia presenciado de forma distante e separada.

Pode até parecer uma busca por “chifre em cabeça de cavalo”, mas Meu Primeiro Amor possui alguns pequenos problemas. A reconstrução dos anos 70 poderia ter sido mais caprichada, e em alguns momentos, o filme busca uma “psicologização” do embate primeiro amor/primeira perda que soa forçado e até mesmo piegas, como pode ser visto na cena entre Aykroyd e Lee Curtis no início do funeral de Thomas J.

Os anos 90 ficaram para trás, Chlumsky e Culkin jamais se tornaram os astros que poderiam ter sido (cada qual por seu motivo), e ficou então uma sensação de coisa única, de uma combinação que não se repetirá mais. Como eu já disse antes, em seu gênero, Meu Primeiro Amor ainda é o que existe de melhor, e não deixa de ser ainda hoje um grande passatempo e uma grande experiência, além de ter se tornado um dos raros casos onde um filme antes cult “subiu” de categoria e se tornou um verdadeiro clássico.


(My Girl de Howard Zieff, EUA - 1991)


NOTA: 9,0

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