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quarta-feira, 13 de julho de 2011

SEMPRE AO SEU LADO


Sempre fui um tecnicista quando o assunto é arte. Admito a idéia de que a arte necessita de elementos emotivos para funcionar, contudo não comungo de um ideal punk/anárquico da arte de que qualquer um pode fazer arte, ou que qualquer coisa desde que seja a expressão de alguém seja arte. A arte, seja ela qual for, possui uma técnica base, que precisa ser seguida para ser considerada tal arte. O que me torna um tecnicista convicto é o fato de que defendo uma idéia bem definida. Uma obra de arte tecnicamente perfeita desperta um sentimento de admiração tão grande por sua perfeição que não precisa possuir emoção em si mesma, enquanto que uma obra que transborde sentimento não consegue escapar das amarras e da necessidade de uma técnica básica. De tal modo que, um filme (já que o assunto aqui é um filme) perfeito é aquele que tem uma técnica extremamente apurada que cause uma sensação no espectador pela sua perfeição e Cidadão Kane é um ótimo exemplo disso, ou ainda um filme em que a técnica básica seja cumprida com eficiência, sem brilho, mas sem prejudicar também e que o caráter emotivo que desperta eleve o espectador ao êxtase que deveria ser provocado pela perfeição técnica que se substituiu pela eficiência e como exemplo disso, cito o atual Não Me Abandone Jamais. Julgo então que a técnica básica do cinema é o clássico tripé roteiro/atuação/direção e que um filme que não falhe nestes três pode alcançar a perfeição mesmo falhando em outros não básicos como efeitos especiais, figurino e afins, desde que o emocional segure a barra. Em resumo, um filme possui uma parte técnica e uma emocional, sendo que a primeira em seu auge desperta a segunda, mas a segunda não consegue esconder as falhas da primeira e eu nunca encontrei uma e exceção até hoje, contudo se existe um filme que quase me fez derrubar tudo o que acredito desde que me tornei um cinéfilo foi este drama aqui tratado. Tudo isto se deve ao fato de que, eu nunca vi um filme que conseguisse captar e emocionar tanto o espectador que quase não deixa margens para adentrarmos em seus problemas, na verdade você só consegue analisar friamente o filme depois que o mesmo termina, ou quando você o revê já livre do impacto da primeira vez.

Sempre Ao Seu Lado é dirigido pelo sueco Lasse Hallström e conta a história baseada em fatos reais de um cão que todos os dias levava e buscava o seu dono para a estação de trem para este trabalhar e depois voltar para a casa. Um dia fatídico dia, seu dono morre no trabalho e consequentemente jamais retorna. Hachiko (esse é o nome do cão) então passa nove anos de sua vida retornando todos os dias ao local para esperar pelo seu dono, e só parou porque morreu. Qualquer pessoa que conhece a carreira do sueco Hallström sabe que uma de suas principais características é a mão pesada para dramatizar as coisas, elemento que em alguns momentos prejudicou sua carreira, mas que em outros se mostrou extremamente eficaz, e Sempre Ao Seu Lado se encaixa neste segundo grupo.

Aqui tudo é banhado de emoção, o negócio do filme é fazer o espectador cair nas lágrimas, e venhamos e convenhamos, consegue isto como poucos. O ser humano cada vez mais, é carente de sentimentos verdadeiros e despretensiosos, o que faz com que uma história onde isso é tão presente, gere uma sensação de vazio e de esperança absurdamente grande. Eu não conheci ninguém até hoje, que viu este filme e não se emocionou, ou seja, o objetivo de Hallström foi cumprido com louvor.

Outra escolha acertada foi Richard Gere. O ator vive a situação e se deixa levar pelo cão, que é sem sombra de dúvida o dono do filme. Aceitar ser um coadjuvante tão submisso assim, só poderia vir de alguém que acredita naquilo que o filme propõe que gosta de uma relação como a proposta aqui. Gere é um público amante e defensor dos animais e eu acredito que isto foi vital para a relação que se criou entre ele e o cão soar tão bela e tão natural. Joan Allen que é sempre uma boa escolha também aparece bem como a esposa de Gere.

Contudo, algumas ressalvas devem ser feitas. O elenco de coadjuvantes, com poucas exceções, não ferve como o restante do filme, criando um abismo entre as cenas centrais e as complementares do roteiro, o que cria uma flutuação de ritmo que em alguns momentos não se justifica. Além disso, a já citada mão pesada de Hallström perde a oportunidade de, em alguns momentos, dar uma folga e criar situações mais leves e que façam o espectador não passar uma tristeza tão grande em todos os momentos.Todavia, como disse no primeiro parágrafo, você se envolve tanto com o filme, que estes problemas só aparecem depois, e ainda com muito esforço, ou seja, o tripé básico de Sempre Ao Seu Lado não é tão eficiente em suas bordas, mas isso é quase imperceptível devido à incrível carga emocional da fita.

Aqui é tristeza mesmo e não uma ideia de cunho realista-depressiva como nos filmes de Ken Loach ou aquele trágico clássico dos filmes escandinavos e principalmente dos dramas de Ingmar Bergman, ou ainda o sentimentalismo maniqueu que aparece na maioria dos filmes de Jim Sheridan. Após a morte do personagem de Gere, o filme leva o espectador a uma comoção e a uma tristeza tão grande que em alguns momentos você pensa em desistir de assisti-lo tamanha força destes sentimentos.

Sempre Ao Seu Lado se mostra um filme muito bonito, muito eficiente e consegue mexer com o espectador de uma forma, sem exageros, avassaladora. Não tem cacife para clássico, mas algo me diz que o caminho para se tornar cult, já está bem delineado, ou melhor, esta obra de Hallström já nasceu cult e é com este rótulo, ao que tudo indica que se manterá na história do cinema, rótulo que, diga-se de passagem é mais do que merecido.


(Hachiko: A Dog´s Story de Lasse Hallström, EUA - 2009)



NOTA: 8,5

Um comentário:

  1. fui assistir O Primeiro mentiroso (The Invention of Lying) e vim aqui procurar uma crítica ao filme, mas não encontrei
    gostaria de ler um texto sobre esse filme, que achei de temática muito interessante, e uma idéia básica bem pontual mas que se desenvolve ampla.. num final até um pouco clichê e sonsa quando comparada a tudo que podia ser explorado, mas uma comédia ironica e de reflexão muito boa.
    Enfim, Pablo, talvez já tenha até ter assistido o filme... fica o pedido e a idéia =D

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