Estréia de Ralph Fiennes na cadeira de direção, Coriolano
adapta e transporta para a atualidade mais uma obra de Shakespeare. Assim como
o desafio de se fazer tal ruptura não é algo novo, os problemas e os acertos de
tal audácia continuam também os mesmos.
Assim como Baz Luhrmann em seu ótimo Romeu + Julieta e
Michael Almereyda em seu não tão ótimo
Hamlet – Vingança e Tragédia, Fiennes opta por manter a linguagem clássica e
erudita de Shakespeare, algo que já de início choca, ainda mais aqui, onde as
cenas iniciais são de guerra constante. Esta manutenção da linguagem erudita,
por mais que agrade pessoas de ouvidos abertos às nuances e belezas da língua,
atrapalha na assimilação da ideia geral e do contexto mais coloquial devido ao
excesso de metáforas e elementos poéticos, em outras palavras, como não estamos
diante de um filme de época, onde o espectador já espera tal erudição
lingüística, o negócio soa meio artificial e deslocado. No filme de Luhrmann
acima citado, o aspecto romântico da fita segura esta artificialidade em baixa
devido à poesia do próprio romance. Já no caso de Almereyda, a artificialidade
é mais evidente, porém disfarçada também pela majestoso ambiente que a melhor
peça de Shakespeare propõe. Todavia, Fiennes se vê de encontro com uma história
totalmente trágica, com elementos políticos e diplomáticos que funcionavam na
Roma Antiga, mas que atualmente não funcionam mais.
Banimento da cidade, patrícios, plebeus não condizem com o
meio atual e deixa o espectador meio desconfortável quanto ao real sentido de
tudo aquilo. O desenrolar é simples, e em alguns momentos as coisas se resolvem
muito fáceis, enquanto que em outros o negócio rasteja. O início é muito lento
e tedioso, e provoca uma correria no final, onde muitas coisas são atropeladas.
Fiennes acaba perdendo um pouco a mão neste sentido, e não consegue um bom
equilíbrio do enredo, onde temos um início extremamente maçante, uma meio
empolgante e forte e um final corrido e com desfecho mal trabalhado.
Tirando estes elementos, e o fato de o filme se perder um
pouco nos “romanismos” que a peça possui, Coriolano caminha até bem. Fiennes
tem uma atuação incrível como Caio Márcio e Vanessa Redgrave encarna com muita
força a mãe do personagem central. Mesmo Gerard Butler cuja qualidade da atuação
nunca supera seu carisma é conduzido de maneira segura por Fiennes. Por sua
vez, Jessica Chastain, o novo arroz de festa do cinema, está um pouco apagada
em um papel de pouca relevância como a esposa devota do General Caio Márcio.
O trabalho é ousado e Fiennes pagou um pouco pela ousadia.
Talvez um diretor mais experiente conduzisse melhor tal obra, entretanto, o
início é sempre complicado, e Fiennes parece ter talento para a nova função que
se propôs a assumir. Seu trabalho no final das contas é caracterizado por uma
boa direção dos atores, mas por uma má distribuição do roteiro e por problemas
de andamento. Logicamente, o ator que já nos propiciou grandes atuações em A
Lista de Schindler, O Morro dos Ventos Uivantes, o Paciente Inglês e é
conhecido do grande público por ter encarnado o maléfico Lorde Voldemort na
saga Harry Potter terá muito a evoluir na função de diretor, contudo, parece
ter talento e perspicácia, algo que nos leva a acreditar que no futuro filmes
melhore virão. Coriolano não chega a ser um filme ruim, mas falta um algo a
mais para elevá-lo às categorias áureas do cinema, e é exatamente este algo a
mais que Fiennes terá que aprender.
(Coriolanus de Ralph Fiennes, Inglaterra - 2011)
NOTA: 5,5