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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

OSCAR EM COMPRIMIDOS

Farei aqui um breve comentário sobre os principais filmes que concorreram ao Oscar 2012 (seja com seus atores, aparatos técnicos ou artísticos ou com seu próprio nome), agora que a sentença já foi dada, hehehehe:

O ARTISTA 

A audácia de um trabalho mudo e em P&B em pleno momento em que o cinema transborda para outro lado comoveu praticamente o mundo todo. Ao resgatar a época do cinema mudo, Hanavicius constrói um filme nostálgico, ousado e muito belo. Praticamente impecável em suas partes técnica e artísticas, O Artista peca apenas na falta de originalidade de seu roteiro, que trabalha com a decadência perante as mudanças (aqui envolvendo o cinema), algo, por exemplo, já feito no maravilhoso Crepúsculo dos Deuses. Muito mais corajoso do que ótimo, O Artista é um pouco superestimado, e venceu concorrentes melhores que ele.

NOTA: 8,5


A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, o filme em 3D de Martin Scorsese era o melhor (ao lado de A Árvore da Vida). De uma plasticidade e de uma beleza sensacionais, Scorsese dá o toque de originalidade à nostalgia cinematográfica que não existe no vencedor O Artista. A verdade é que com este filme, Scorsese prova que qualquer recurso que possa existir em uma forma de arte, nas mãos dos grandes gênios da mesma, flui e se mostram competentes. Emocionante e original, A Invenção de Hugo Cabret é, desde já um dos grandes momentos do cinema dos últimos anos. Maravilhoso.

NOTA: 10,0


OS DESCENDENTES

Por se tratar de um filme de Alexander Payne, nenhuma outra palavra poderia acompanhá-lo a não ser: decepção. Previsível, correto e bobinho em vários momentos, Os Descendentes é a união de tudo aquilo que você normalmente não espera encontrar em um filme de Payne. Não entendo o “auê” em torno deste filme que chega até a ser bem chatinho em alguns momentos, isso sem contar o insuportável “elemento propaganda” envolto ao Havaí. Com certeza, é o pior filme de Payne.


NOTA: 5,5


HISTÓRIAS CRUZADAS


Histórias Cruzadas é um daqueles filmes em que algo muito bom esconde um restante falho. O elenco está tão sintonizado e não forte neste trabalho, que o espectador mais desatento nem consegue perceber suas falhas técnicas e artísticas (seu exagerado trabalho de maquiagem e seu roteiro vicioso são os dois maiores exemplos). No final das contas, o filme é agradável e funciona bem, mas é isso, um bom filme e nada mais.


NOTA: 7,0


CAVALO DE GUERRA


Um dos mais contestados participantes do Oscar 2012, o fortíssimo melodrama de Spielberg desagrada a muitos espectadores, porém agrada a outros como... eu. Não à toa sou fã de diretores como Jim Sheridan e Lasse Hallström, em outras palavras, eu gosto de dramas chorosos e explosivos. Contudo, apesar do gosto pessoal, eu entendo as reclamações dos não-fãs, pois com 20 minutos de filme já sabemos o Spielberg que iremos encontrar, o restante vai do gosto do freguês.


NOTA: 7,0


O HOMEM QUE MUDOU O JOGO

O mais duro e inacessível (de um modo diferente da pouca acessibilidade de A Árvore da Vida) dos nove concorrentes aos Oscar esbarra no seu incrível tecnicismo. Se o espectador não for familiarizado com o esporte (no caso o beisebol) terá sérias dificuldades de gostar ou mesmo de assimilar o conteúdo e o contexto da fita. Contudo, isto não tira o brilho de um filme que se sustenta mesmo assim, graças ao seu estupendo roteiro e a atuações poderosas. Confesso que fiquei surpreso ao perceber o quanto este filme me agradou. Um grande trabalho, mas que, principalmente no Brasil, não vingará.

NOTA: 8,5


O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS

Só de lembrar deste filme eu já fico mais empolgado para escrever aqui. Simplesmente impressionante. Thomas Alfredson (o mesmo de Deixa Ela Entrar) dirigi este soberbo filme de espionagem. Um roteiro descomunal (apesar de difícil), uma trilha sonora perfeita e aquele clima obscuro contrastando com um Gary Oldman no ápice de sua capacidade, transformam este filme em uma obra-prima. O fato de ter sido esquecido na maioria das categorias do Oscar não o diminui em nada. Pode gerar descontentamento por ser um filme que exige demais do espectador, mas pra quem gosta de cinema de qualidade, até o momento em 2012, não existe nada melhor.

NOTA: 10,0


ALBERT NOOBS

Gleen Close e Janet Mcteer carregam nas costas um drama de época muito bonito e igualmente interessante. Gostei muito do filme, que consegue aliar muito bem a parte artística com um roteiro de partes extremamente originais. Albert Noobs consegue trabalhar temas complicados e de forte apelo sem cair na pieguice e sem se embrenhar por aspectos ideológicos, o que neste caso é um mérito dado o contexto geral da fita, pois é nítido que o drama aqui é humano e não social ou político. Há muito tempo não via Gleen Close inspirada, o que venhamos e convenhamos faz falta ao mundo do cinema.

NOTA: 7,5


MILLENIUM – OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

Faltam-me palavras para descrever minha decepção com David Fincher. Como pode um diretor extremamente original, se empenhar em um projeto que simplesmente copia uma fita sueca de apenas três ou quatro anos atrás. Jamais imaginei que Fincher seria um representante da falta de criatividade e originalidade do cinema americano atual. Millenium (o americano) é uma cópia deslavada do mesmo filme sueco, e no pouco que tenta mudar, consegue simplesmente piorar o original (como no horroroso desfecho do filme). Já o assisti com má vontade, pois se trata de um filme extremamente desnecessário. Pode até ser competente, mas é uma cópia competente, o que, aqui para nós, não é lá algo digno de louvor.

NOTA: 4,5


A DAMA DE FERRO

Um filme para inglês ver, literalmente. Ao compor Margareth Tatcher e biografá-la, a fita não consegue superar a dificuldade de se tornar uma fita para todos e não apenas para ingleses e conhecedores do funcionamento político do Reino Unido (sensação parecida com a que tive com o filme Um Homem Sério dos irmãos Coen alguns anos atrás em relação aos judeus). Os dramas mais humanos da personagem, que poderiam ajudar neste processo são falhos e mal desenvolvidos, e a parte mais engajada da fita, mesmo mais empolgante, se mostra muito distante do público em geral, causando uma frieza que prejudica o conjunto da fita. Ao contrário de O Homem Que Mudou o Jogo que supera seu excessivo tecnicismo através de um roteiro compacto e de situações mais contundentes, A Dama de Ferro esbarra na pobreza de seu material. Streep realmente está bem, mas me pergunto: Se fosse outra atriz qualquer que fizesse exatamente a mesma interpretação, geraria esse alvoroço todo? Destaque também para o ótimo Jim Broadbent no papel do marido de Tatcher, que é, definitivamente, o único elo entre público e filme.

NOTA: 4,0


TODA FORMA DE AMOR

Filme que deu o Oscar de Ator Coadjuvante para Christopher Plummer é uma comédia romântica na linha de O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain; em outras palavras, diálogos rápidos e incisivos, situações extravagantes que norteiam o pensar e o agir dos personagens. Filme pequeno e simples, que consegue com estes elementos se tornar um passatempo agradável. Não é um poço de originalidade e muito menos um trabalho genial, contudo esbanja simpatia. Destaque, para além de Plummer, o casal central vivido por Ewan McGregor e Melanie Laurent, além do ótimo cachorro da raça Jack Russell que recebe no filme o nome de Arthur.

NOTA: 6,5


A SEPARAÇÃO

Outro grande filme a circular pelo Oscar é este drama iraniano sobre um casal que passa por um processo de separação e todas as conseqüências que este ato envolve. Uma direção precisa se alia a um roteiro bárbaro, tanto em composição quanto em originalidade. Como se não bastasse, tudo isto vem acompanhado de um elenco vibrante e incrivelmente sintonizada. Tenso e pulsante como todo drama deste tipo deve ser, A Separação mostra mais uma vez a força do cinema, e mostra que a frase do chef Gusteau de Ratatouille não serve apenas para cozinheiros, afinal: “nem todos podem fazer um grande filme,mas um grande filme pode vir de qualquer lugar”.

NOTA: 9,5


MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO

O Se Beber, Não Case das mulheres. Há muito tempo o mundo implorava por uma comédia deste tipo (mistura de pastelão com besteirol) que fosse protagonizada por mulheres com situações “tipicamente femininas”, e eis que surgiu esta fita aqui. O filme tem cenas bem engraçadas, mas como toda comédia deste tipo, esbarra em preconceitos e estereótipos questionáveis (basta ver que o centro destes filmes sempre são o “tipicamente masculino” ou neste caso o já citado “tipicamente feminino”). Passa bem longe de ser ruim, e até se destaca no âmbito das comédias (não que hoje isto signifique muita coisa), mas assim como seu representante masculino, causa um impacto inicial que não dura muito, mostrando sua verdadeira realidade após passar este primeiro contato. Todavia, algumas risadas estão garantidas.

NOTA: 6,5 

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