Quase simultaneamente ao anúncio dos indicados ao Oscar, aparecem as listas dos injustiçados, ou seja, aqueles filmes (ou categorias diversas), que na opinião dos fãs e críticos deveriam figurar ali e por motivos às vezes compreensíveis (mas muitas vezes não aceitáveis) e em outras vezes não compreensíveis não figuram. Este ano, a reclamação aumentou pelo fato de apenas nove filmes terem sido indicados na categoria principal (Melhor Filme) ao contrário de dez como nos últimos anos. Assim sendo, resolvi fazer um breve comentário sobre os principais nomes que surgiram como “injustiçados” (na categoria de Melhor Filme em primeiro momento) e se tal rótulo é válido ou não (segundo minha opinião). Falarei apenas de filmes que eu já assisti (lógico), excluindo assim filmes citados com As Aventuras de Tin Tim e Um Método Perigoso, só para exemplificar. Vamos a eles então:
O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS
Ainda pretendo escrever um pouco mais sobre este filme e o impacto que ele me causou. Realmente não entendi como este filmaço fica de fora para dar lugar a filmes no mínimo irregulares como Os Descendentes, por exemplo. O diretor Tomas Alfredson (Deixa Ela Entrar) consegue novamente infiltrar uma sutileza soberba em algo denso e forte. Tudo flui maravilhosamente bem aqui e o resultado, por mais que se baseie em uma história intrincada e complexa é excepcional. O Espião Que Sabia Demais deveria estar na lista para concorrer a Melhor Filme, pois se levarmos em conta os indicados, o único que faria frente, em qualidade a este filme seria A Árvore Da Vida. Grande Injustiça.
DRIVE
Por mais que também ache injusto um filme chatinho e sem graça como Os Descendentes estar na lista e um filme mais original e forte como este estar fora, por tratarmos aqui de Oscar eu entendo. Drive é um grande filme, mas seu aspecto meio oitentista com um toque psicodélico, aliados ao elemento de violência e de suspense do filme não agradam em nada os membros da academia. Contudo, Drive é um filme melhor que Os Descendentes, Cavalo de Guerra e Histórias Cruzadas por exemplo.
TUDO PELO PODER
Muitos apostavam que o novo filme dirigido por George Clooney estaria presente entre os indicados ao prêmio máximo da Academia. De fato, a ausência de Tudo Pelo Poder, causou mais surpresas do que reclamações, já que se tratava de um filme com muita cara de Oscar, além de tratar de um tema atual, polêmico e ser dirigido por um dos queridinhos da Academia. Surpresa sim, injustiça não; já que com exceção da ótima atuação de Ryan Gosling, o filme não empolga e deixa a desejar no conjunto da obra. No caso de Tudo Pelo Poder, a Academia acertou.
MILLENNIUM - OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES
O filme é bom? Sim. O filme é original? Não. Por mais competente que o novo filme de David Fincher possa ser, para quem assistiu a versão sueca feita há (apenas) três anos atrás, fica a sensação de que Millennium- Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é mais um representante da falta de criatividade do cinema americano, algo que se torna ainda mais desapontador por se tratar de um filme de alguém com tanta capacidade como Fincher. É um bom filme, porém desnecessário. Deixando Millennium de fora a Academia acerta mais uma vez, isso em minha singela opinião.
HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE PT II
Se eu fosse formular uma lista com dez indicados a Melhor Filme para a Academia, Relíquias da Morte Pt. II também não entraria; porém, levando-se em consideração a lista real da Academia, o último filme da saga do bruxo Harry Potter poderia ser lembrado sem demérito algum. Acredito que muito mais que um indicação individual, uma possível indicação de Relíquias da Morte Pt. II seria uma forma bem legal de homenagear uma grande franquia, que influenciou e (por que não dizer) alterou o rumo do cinema de fantasia da última década. Pelo meu critério subjetivo não considero uma injustiça, contudo pelo critério objetivo de análise das escolhas da Academia, a não indicação de Harry Potter e as Relíquias da Morte PT. II pode sim ser considerado uma injustiça.
MELANCOLIA
Alguns fãs ainda possuem fôlego para reclamar da ausência de Melancolia na lista, contudo qualquer um que acompanhe a Academia e o Oscar propriamente dito sempre soube que o novo filme do dinamarquês Lars Von Trier não tinha nenhuma chance, ainda mais depois das declarações do mesmo Von Trier em Cannes. O filme não é comercial, possui idéias fortes e controversas e angaria fãs muito mais no meio alternativo do que em qualquer outro. Resumindo: Injusto? Sim, afinal Melancolia é de longe um dos melhores filmes do ano. Surpresa? Não. Algumas partes do mundo não estão preparadas para o talento e a língua afiada de Von Trier.
PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
Aqui temos uma reclamação particular. Eu entendo o motivo deste filme não figurar na lista, afinal a Academia prefere histórias bonitinhas e de superação, do que uma possibilidade cruel e impressionante de realidade. O filme é duro e trabalha com uma ideia central de baixíssima aceitação e que causa espanto na maioria dos espectadores. A verdade é que este filme é um exemplo raro de cinema e de especulação sobre a natureza humana, e talvez por isso seja tão impactante. Em um meio que peca pela originalidade cada vez mais, Precisamos Falar Sobre o Kevin é um oásis, mesmo que desprezado pelos habitantes do deserto.
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