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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A PARTE DOS ANJOS

      
Quando soube no ano passado do lançamento de A Parte dos Anjos, o novo filme de Ken Loach, fiquei bem animado, afinal minha admiração pelo cinema do diretor é muito grande e a cada novo filme seu já brota em mim aquela curiosidade característica dos cinéfilos. Minha animação só aumentou quando A Parte dos Anjos venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes no ano passado, contudo tal animação vinha sempre carregada por uma tristeza latente: a de que dificilmente eu conseguiria ter acesso ao filme pelas telas do cinema e até mesmo em DVD. Todavia, coisas estranhas acontecem, e com uma surpresa enorme, descobri que a nova aventura de Ken Loach estrearia em uma sala de um dos cinemas londrinenses (isso há algum tempo atrás). Assim sendo, não perdi a chance e me dirigi ao local gerador de minha surpresa.

Surpresa esta que não existiu ao longo dos pouco mais de noventa minutos da obra à qual dediquei este meu tempo. Conhecido por seu engajamento esquerdista e por suas críticas a um enquadramento social desigual e que gera desfavorecimentos de algumas classes em detrimento de outras, o cineasta britânico se utiliza de uma sombria Glasgow para contar a história de Robbie, um “jovem delinqüente” que é condenado a cumprir trezentas horas de trabalhos comunitários. Neste trabalho ele conhece Harry, um apreciador de uísques que presta auxílio ao garoto e o faz descobrir um talento natural para a percepção desta nobre e apreciada bebida. A partir deste ideia o filme se desdobra em uma leve comédia social com toques dramáticos.

Qualquer pessoa que tenha tido contato com a obra de Loach, perceberá que em A Parte dos Anjos  o diretor aposta mais no humor do que no drama engajado propriamente dito, algo já visto de forma bem mais sutil em À Procura de Eric. Porém, neste último, o elemento dramático ainda permanece e o humor aparece como refúgio dos personagens. Em A Parte dos Anjos o humor é mais central e se apóia nos dramas dos personagens para se firmar. Jamais imaginei que soltaria grandes risadas em um filme de Ken Loach, mas é o que acontece aqui (principalmente com o personagem Albert, o abobalhado e atrapalhado amigo de Robbie). O humor é preciso, e consegue se colocar por sua própria força, além de não atrapalhar a mensagem “oculta” que o filme carrega, ou seja, a de uma juventude forçada e coisas “ruins” por uma sociedade injusta, desigual e hipócrita. O engajamento social, econômico e cultural e sua necessária crítica continuam presentes aqui, só que ao invés de mostrado de forma dramática como normalmente faz, Loach opta por um humor correto e pouco comum em seus filmes, mas que funciona muito bem. Para um cineasta com quase 50 anos de carreira, conseguir alterar a forma sem mudar o conteúdo é quase uma proeza, ainda mais em um mundo preguiçoso como o de hoje.


A Parte dos Anjos pode até não ter causado em mim uma reação tão grande quanto os meus filmes favoritos do diretor (Kes, Meu Nome é Joe e o brilhante Ventos da Liberdade), mas já se mostra como um dos meus filmes favoritos de 2013. Imperdível.


(The Angel´s Share de Ken Loach, Reino Unido/França/Bélgica/Itália - 2013)


NOTA: 9,0

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